Rita de Cássia Lima Figueiredo, 39 anos, casada, procura emprego há 12 meses. Todos os dias, confere seus e-mails, acessa os sites das empresas para as quais enviou currículos, verifica editais de concursos públicos e dá uma olhada nas últimas notícias. Wélcio Antônio dos Santos tem 29 anos e busca serviço em restaurantes e bares. Aposentado por invalidez, diz que tem sido difícil arcar com as despesas com aluguel e com a filha de oito anos. Nos intervalos entre um currículo e outro, aproveita para se informar e se comunicar com amigos e parentes por e-mail ou mensagens instantâneas. Wélcio e Rita são apenas dois dos inúmeros usuários dos postos do Acessa São Paulo localizados nos quatro terminais de ônibus gerenciados pela Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos (EMTU/SP): Diadema, Santo André, São Mateus e Cotia. De janeiro até agora, mais de 100 mil pessoas utilizaram os serviços de Internet oferecidos nestes quatro locais.
O acesso gratuito à rede mundial de computadores, por meio do programa Acessa São Paulo, é uma iniciativa do governo do Estado de São Paulo, que, no caso dos terminais metropolitanos, tem como parceiras as concessionárias Metra (que gerencia o corredor ABD) e Intervias (administradora do Terminal de Cotia). Ao oferecer o serviço nos terminais de ônibus, a EMTU busca contribuir para a inclusão digital de populações de baixa renda que utilizam o sistema de transporte metropolitano. Para trabalhar nas unidades, foram contratados 18 estagiários do programa Jovem Cidadão – Meu Primeiro Trabalho.
Terminal como referência – O atendimento é gratuito e cada pessoa tem direito a 30 minutos de navegação, que podem ser renovados caso haja micros disponíveis. Para utilizar os postos do Acessa São Paulo, é necessário se cadastrar e apresentar um documento de identidade a cada visita. Menores de 11 anos devem estar acompanhados de responsáveis. Só neste ano, quase quatro mil novos cadastros de usuários foram feitos nesses postos em terminais de ônibus.
O acesso à Internet é livre, mas ao assinar o termo de adesão, o usuário compromete-se a não entrar em sites que tenham conteúdo pornográfico, que façam alusão à pedofilia ou incitem à violência ou ao uso de drogas. “O controle é feito por nós, e como não há bloqueio, abordarmos a pessoa que transgride a regra e pedimos, educadamente, para fechar a página eletrônica”, avisa a líder de atendimento do Terminal São Mateus, Maria Estela de Oliveira Noffs, que garante ser rara situação como essa no seu posto. Lá, a média diária é de 200 visitantes. “Chegamos a atender até 30 pessoas em uma hora”, afirma.
De acordo com José Ignácio Sequeira de Almeida, presidente da EMTU, a maior parte dos internautas é jovem. Tem entre 20 e 30 anos, estuda ou está à procura de emprego e tem o terminal de ônibus como principal referência, seja para ir ao trabalho, à escola ou porque mora próximo do local. Pesquisas escolares, impressão de boletos para pagamento de contas e envio de currículos estão entre os serviços acessados com mais freqüência. Os usuários podem também baixar fotos, fazer gravações em CD e imprimir documentos com até três páginas.
Velocidade de comunicação – O técnico de logística Israel Oscar costuma ir ao posto do Terminal São Mateus duas vezes por semana. À procura de uma colocação em sua área de formação, diz que às vezes aproveita para imprimir boletos das contas de telefone, água e luz. O estudante de Direito e corretor de seguros Manoel Soares mora e trabalha em São Bernardo do Campo e freqüenta o posto de São Mateus há dois anos. “Sempre que estou na região, por conta do meu trabalho, tiro meia horinha para responder meus e-mails”.
O presidente da EMTU avalia que o acesso gratuito à Internet e as possibilidades que ela oferece tornaram-se fundamentais nos grandes centros urbanos. “Numa cidade como São Paulo, a disputa pelo emprego é acirrada. É uma luta muito intensa, e se você não tem acesso à grande rede fica automaticamente no banco de reserva”. Ele acredita que a velocidade de comunicação oferecida pela Web reduz o tempo de espera entre entrevistas, favorecendo quem passa por um processo seletivo para preenchimento de uma vaga.
Em sua rotina, Maria Estela acompanha de perto momentos importantes da vida dos usuários e acaba criando vínculos de amizade. Rita de Cássia, por exemplo, já participou de várias entrevistas de emprego on-line no Acessa São Paulo do Terminal São Mateus. “Houve um rapaz que foi encaminhado para uma vaga de emprego, depois ter vindo aqui diariamente por quase seis meses,” lembra, acrescentando que sabe de cor o nome e o número do RG dos “clientes” mais assíduos.
Amizade e solidariedade – A troca de experiências parece agradar também a estagiária da EMTU Vanessa Rodrigues, que há sete meses atua como monitora do posto. “Eu já havia trabalhado com o público, mas aqui, por ser um programa social, tem importância maior. A gente sente que realmente está ajudando quem precisa, porque para quem está desempregado, pagar R$ 3 ou R$ 4 para usar o serviço numa lan-house, pode ser inviável”. Estudante do último ano de Administração de Empresas, afirma que em breve é ela quem “irá à luta” distribuir currículos em busca de uma colocação no mercado de trabalho.
“Até a linguagem de libras estou começando a entender, já que recebemos diariamente um grupinho de jovens portadores de necessidades auditivas”, brinca a líder Maria Estela. “É gratificante, existem coisas que só um sorriso ou um muito obrigado podem pagar”, completa, enquanto renova o horário de Welton, que pede mais meia hora de navegação.
SERVIÇO
Postos do Programa Acessa São Paulo nos Terminais Metropolitanos
Santo André: Rua Visconde de Taunay, s/nº, de segunda a sexta-feira, das 8 às 17h30
São Mateus: Rua Adélia Chohfi, 100, de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas
Diadema: Avenida Conceição, 7.000, de segunda a sexta-feira, das 8 às 18 horas
Cotia: Rua Khatar Name, 151, de segunda a sexta-feira, das 7h30h às 17 horas
Roseane Barreiros
(M.C.)
