SP vai produzir um Chile de energia com bagaço da cana

Banco de dados vai detalhar capacidade produtiva de cada região do estado

sáb, 22/12/2007 - 9h52 | Do Portal do Governo

São Paulo deve apresentar ao setor energético brasileiro ainda neste mês uma 1ª versão do banco de dados que vai detalhar a capacidade de cada região do estado produzir energia por meio do bagaço da cana-de-açúcar. No documento, uma conclusão: a expectativa de que o estado possa atingir o potencial de produzir, nos próximos anos, cinco mil megawatts médios; número equivalente à produção energética do Chile, hoje com 16 milhões de habitantes.

O montante representa o dobro da energia da usina hidrelétrica de Santo Antônio, a primeira das três que serão construídas no complexo do Rio Madeira, em Rondônia, que terá capacidade de gerar até 3.150 megawatts, cujo leilão para sua construção foi realizado no inicio desta semana.

O cronograma prevê que São Paulo no próximo ano tenha mais 160 megawatts de capacidade a partir do reaproveitamento do bagaço de cana. Esse número mais que quadruplicará em 2009: chegará a 750 megawatts. Um ano depois, o estado estará produzindo 483 a mais megawatts e outros 268 megawatts em 2011, perfazendo um total de 1.660MW. Seria o mesmo que abastecer cinco cidades iguais a Ribeirão Preto, no noroeste paulista.

Mapa energético

A coleta de informações com o prognostico estadual energético faz parte de um verdadeiro mapa elaborado por técnicos da Secretaria de Saneamento e Energia com apoio de especialistas da CSPE (Comissão de Serviços Públicos de Energia), da Secretaria de Desenvolvimento e FIESP. Esses profissionais apostam na cogeração como opção a possíveis interrupções no fornecimento nos próximos anos. Na prática, será o primeiro passo para consolidar São Paulo como o maior produtor de energia do Brasil, a partir da mesma matéria prima usada para produzir o etanol.

Segundo o engenheiro da Secretaria de Saneamento e Energia Jean Negri, a decisão de elaborar o documento surgiu após assinatura de um protocolo entre o governo estadual e a Fiesp (Federação das Industrias do Estado de São Paulo) em setembro. Com o raio x da situação, São Paulo busca na cogeração uma saída a outros potenciais energéticos já esgotados no estado.

Além disso, será possível aumentar a capacidade elétrica de aproximadamente 160 usinas espalhas pelo território paulista. Hoje, essas usinas juntas já produzem o equivalente a 900 megawatts médios, ou 6% dos 127 mil gigawatts hora de energia elétrica consumida todos os anos no estado. É a mesma quantidade de energia produzida mensalmente pela usina engenheiro Sousa Dias, a de Jupiá, da CESP, localizada no rio Paraná, entre as cidades de Andradina e Castilho (SP) e Três Lagoas (MS). “Temos mais cerca de 35 novas usinas em processo de implementação para entrar em operação. Em 2012, devemos ter mais de 200 usinas”, avisa o engenheiro. Ele acrescenta que há casos em que as usinas estão comercializando energia diretamente para consumidores livres, tais como shopping centers. 

Kyoto

Mas, além de ser uma saída para possíveis crises do setor energético, a cogeração é um trunfo ambientalmente falando. Isso porque, as usinas podem comercializar os créditos de carbono, seguindo as normativas do protocolo de Kyoto. “É uma saída com duplo benefício”, reforça Jean Negri. “Há empresários investindo pesado na compra e substituição de caldeiras, visando, sobretudo, elevar a capacidade das usinas”, afirma Jean. De acordo com ele, com o estudo será possível otimizar a distribuição da energia em todas as regiões paulistas.

Outra vantagem é que a cogeração complementa a geração hidroelétrica, visto que a safra de cana ocorre no período seco. A previsão da secretaria é que, além dos investimentos da iniciativa privada na cogeração, o método ganhará um novo impulso em 2014, quando a cana deixará de ser queimada antes da colheita. “Ao queimarmos os canaviais estamos perdendo energia”, diz Jean. Ele afirma que hoje com uma tonelada do bagaço de cana se produz até 75 KWh de energia excedente. Com o aproveitamento de pontas e palhas, este índice pode subir para 130 KWh/t cana.

Em junho deste ano, o governador José Serra assinou protocolo de cooperação com produtores paulistas de cana de açúcar com o objetivo de reduzir as queimadas nos canaviais de todo o estado. O documento visa incentivar ações que consolidem o desenvolvimento sustentável da indústria da cana-de-açúcar. São Paulo tem hoje cerca de 4,2 milhões de hectares de cana de açúcar plantada e responde por 72,4% da produção nacional de etanol o que torna o estado líder nas exportações brasileiras do setor com US$ 5,65 bilhões em vendas externas somente em 2006.

Cleber Mata

(I.P.)