Soro de leite bovino reforça sistema imunológico de infectados pelo HIV

O produto, que normalmente é descartado, foi o foco de tese de mestrado desenvolvida na Unicamp

qua, 20/02/2008 - 9h51 | Do Portal do Governo

As condições imunológicas de crianças e adolescentes infectados pelo HIV podem ser alteradas de acordo com a qualidade da sua alimentação, atesta pesquisa desenvolvida para a tese de doutorado da nutricionista Yara Maria Franco Moreno, defendida recentemente na Unicamp. Ao administrar suplementos alimentares contendo proteínas do soro do leite bovino a um grupo de soropositivos, na faixa etária de 3 a 16 anos, a pesquisadora constatou melhora no desempenho do sistema imunológico dessas pessoas. “Conforme os testes clínicos, as proteínas do soro do leite bovino demonstraram ter um papel imunomodulador, ou seja, apresentam a propriedade de reforçar a defesa natural do organismo contra eventuais doenças”, afirma.

Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisa deu continuidade ao trabalho iniciado por Yara por ocasião do mestrado. Segundo a nutricionista, o objetivo era saber que contribuição os alimentos considerados funcionais, aqueles que fornecem algo além de energia ao organismo, poderiam dar ao sistema imunológico de crianças e adolescentes infectados com o vírus HIV, transmitido de forma vertical (no parto ou através do aleitamento materno). Método – A pesquisadora selecionou 40 pacientes submetidos a terapias antiretrovirais no Hospital de Clínicas da Unicamp. No momento de entrada nos testes, nenhum deles apresentava infecções associadas à Aids, conforme a pesquisadora. “Uma preocupação do estudo foi selecionar pessoas que tivessem padrões alimentares similares. De modo geral, todos apresentavam dificuldades de acesso a alimentos”, explica.

Os participantes dos testes foram divididos em três grupos. Durante três meses, cada um consumiu um tipo de suplemento alimentar presente no mercado e contendo proteínas do soro do leite bovino. Um dos produtos apresentava as proteínas nativas, ou seja, com sua estrutura e propriedades preservadas. O segundo continha proteínas hidrolisadas (submetidas a um processo químico em que são usadas enzimas) e o terceiro era enriquecido com prebióticos, como fibras. Para avaliar os resultados da administração desses suplementos, Yara considerou a resposta do sistema imunológico à vacina BCG, aplicada para a prevenção da tuberculose.

De acordo com a pesquisadora, ao final dos três meses as crianças que consumiram tanto o suplemento com proteína nativa quanto o que continha a proteína associada com prebióticos apresentaram um aumento significativo das células de memória específicas para a BCG. Dito de outro modo, as proteínas contribuíram para reforçar as defesas naturais do organismo contra a doença. “Essa conclusão é importante, pois indica que outras patologias também podem ser combatidas com maior eficiência se, durante o processo terapêutico, os pacientes tiverem uma alimentação adequada”, afirma Yara, que foi orientada pela professora Maria Marluce dos Santos Vilela, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas e do Centro de Investigação em Pediatria.Valor agregado – A Unicamp tem tradição em pesquisas em torno das possíveis aplicações para o soro do leite bovino. O produto, normalmente descartado pela indústria de laticínios, ajuda a poluir o ambiente. Entretanto, empregado como suplemento alimentar, tem a propriedade de reforçar a defesa natural do organismo contra doenças. Um dos pioneiros nessa linha de estudos é o professor Valdemiro Carlos Sgarbieri, da Faculdade de Engenharia de Alimentos, que foi orientador de Yara Maria Franco Moreno durante o trabalho de mestrado.

A proteína do soro do leite bovino vem sendo usada em larga escala, por exemplo, em países desenvolvidos. No Brasil, segundo Yara, isso ainda não ocorre. “Nós dispomos de tecnologia, mas não a empregamos para desenvolver novos produtos”, analisa. Para produzir o queijo, as fábricas promovem a coagulação do leite por intermédio de um tratamento térmico, que também tem a função de combater as bactérias. Após a coagulação, obtém-se a caseína, base para o preparo de derivados, e o soro. Este último, embora possa dar origem a produtos com alto valor agregado, normalmente é jogado fora.

Da Fapesp

(M.C.)