Sistema eleva precisão no diagnóstico do câncer de mama

Software detecta e classifica estruturas possivelmente ligadas a tumores que dificilmente são visualizadas em exames comuns

sex, 27/04/2007 - 7h04 | Do Portal do Governo

Um diagnóstico mais preciso dos primeiros sinais do câncer de mama pode estar a apenas um “click” do alcance de médicos e radiologistas. A promessa é do CAD.Net, primeiro protótipo nacional de software, acessível via internet, para processamento de imagens mamográficas. Além de detectar, ele classifica estruturas possivelmente ligadas à presença de tumores malignos ou benignos. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o câncer de mama é o tipo que mais mata mulheres no Brasil.

“Nem sempre o radiologista consegue detectar os primeiros sinais da doença apenas por meio da inspeção visual da mamografia”, diz a engenheira Michele Fulvia Angelo, que desenvolveu o sistema computacional que permite enviar, por intermédio de um site, as imagens mamográficas a serem processadas. O resultado destaca áreas a serem analisadas com maior cautela e indica possíveis lesões, junto com a classificação de seu potencial cancerígeno. O protótipo é fruto do trabalho do doutorado da engenheira, realizado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP.  

O objetivo é disponibilizar um serviço de processamento de imagens gratuito e de fácil acesso. Segundo a pesquisadora, os softwares disponíveis para compra são todos importados e de alto custo, além de realizarem uma análise limitada. “Eles detectam as estruturas, mas não as classificam e, portanto, não apresentam dados que possam enriquecer o conjunto de informações necessárias ao radiologista para ajudá-lo no laudo de cada caso”, afirma Michele. O CAD.Net pode ser acessado via internet 24 horas por dia pelo site do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens Médicas e Odontológicas (Lapimo), da EESC. Basta que o usuário se cadastre, com login e senha, para poder enviar mamografias – completas ou apenas as áreas de interesse – e ter acesso aos resultados. O site também dispõe de uma base de imagens com laudos on-line. 

Além da visão

A imagem mamográfica é analisada, geralmente, apenas por inspeção visual, com o auxílio de uma lupa ou de um negatoscópio (aparelho próprio para visualizar radiografias). “O serviço de processamento de mamografias pode auxiliar especialistas da área tanto para satisfazer alguma dúvida, dando-lhe uma segunda opinião, como para confirmar eventuais suspeitas”, aponta a pesquisadora.

Um diagnóstico mais preciso evitaria estatísticas como essa, revelada em trabalho da pesquisadora Maryellen Lissak Giger, publicado em 2000 na revista Computing in Science and Engineering: 10% a 30% das mulheres que fazem a mamografia e recebem resultado negativo têm, na verdade, câncer de mama. “Diagnósticos de baixa precisão podem levar também a efeito inverso, com mulheres sendo submetidas a biópsia desnecessariamente”, complementa Michele.

Por isso, o detalhamento das estruturas que podem estar relacionadas ao câncer de mama, como nódulos e microcalcificações, é uma importante inovação do estudo de Michele. O processamento feito pelo CAD.Net classifica os nódulos de zero a cinco, indo de inconclusivo, normal ou benigno ao provavelmente benigno, suspeito ou provavelmente maligno. Indica também o grau de distorção de contorno do nódulo e sua densidade, e se as microcalcificações são suspeitas ou não suspeitas.

Duas décadas

O grupo do Lapimo coordenado pelo professor Homero Schiabel vem trabalhando na área da mamografia há mais de 20 anos. Estudos em Computer-Aided Diagnosis (CAD), auxílio ao diagnóstico por computador, em inglês, começaram em 1997 e, a partir daí, surgiram vários outros, compondo módulos isolados. O doutorado de Michele reuniu esses estudos prévios num único software.

A pesquisa contou com o suporte de especialistas da Santa Casa de São Carlos, do Hospital das Clínicas da Unesp de Botucatu e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), instituições com as quais o Lapimo firmou convênio. “O próximo passo é implantar o sistema em caráter experimental nos hospitais conveniados, para auxiliar no diagnóstico”, planeja Michele.

Da Agência USP de Notícias

(R.A.)