Sistema computacional indica contaminação de bacias hidrográficas com maior precisão

Os experimentos foram realizados na bacia do Rio Corumbataí, na região de Piracicaba

sáb, 04/08/2007 - 14h09 | Do Portal do Governo

Um sistema de modelagem matemática computacional permitiu ao engenheiro agrônomo Eduardo Dutra de Armas determinar níveis mais precisos de contaminação com agrotóxicos em áreas de bacias hidrográficas. Os experimentos foram realizados na bacia do Rio Corumbataí, na região de Piracicaba, no interior de São Paulo. “Com um sistema de baixo custo, conseguimos informações mais precisas sobre a contaminação da bacia com agrotóxicos usados principalmente nas plantações de cana-de-açúcar”, descreve Dutra.

A legislação do Ministério da Saúde prevê que os órgãos responsáveis pelo controle da qualidade das águas destinadas ao consumo humano têm de realizar monitoramentos semestrais. “A análise química é feita a partir de uma lista que contém 24 agrotóxicos entre herbicidas, inseticidas e fungicidas”, conta o engenheiro. Nas plantações de cana-de-açúcar, os principais produtos utilizados são os herbicidas, como o glifosato, atrazina, ametrina, 2,4-D, acetocloro e simazina, entre outros. “Dos herbicidas cujos resíduos em água foram encontrados durante a pesquisa, apenas três produtos constam da listagem do órgão federal, o que mostra a sua desatualização, sem considerar as espécies cultivadas na bacia hidrográfica e os agrotóxicos de maior risco nelas utilizados”, afirma Armas.

Durante quatro anos, entre 2000 e 2003, o engenheiro realizou um inventário para identificar as moléculas de agrotóxicos mais utilizadas na região da bacia do Corumbataí. Além de avaliar a qualidade da água e do sedimento do rio em diversos pontos, ele também quantificou os produtos adquiridos pelos agricultores. “Nos monitoramentos exigidos por lei, muitas substâncias podem não ser identificadas ou localizadas. Além de uma lista desatualizada de agrotóxicos, as análises químicas semestrais podem não refletir a realidade”, diz o pesquisador. O inventário elaborado pelo engenheiro revelou que os herbicidas glifosato, atrazina, ametrina, 2,4-D, metribuzin, diurom e acetocloro representaram cerca de 85% do total de produtos químicos utilizados na Bacia.

Poluição difusa

O fato de os produtos serem transportados pelas águas subterrâneas e rios acarreta o que Armas chama de poluição difusa. “Neste caso não podemos precisar a origem do produto e o local exato onde ele foi aplicado, ao contrário do que chamamos poluição pontual, que se sabe exatamente a fonte”. Esta, segundo o engenheiro, é outra grande dificuldade em estudar-se o risco ocasionado pelo uso destes produtos.

A Bacia do rio Corumbataí comporta oito municípios no interior do estado de São Paulo e abastece as cidades de Rio Claro e, principalmente, de Piracicaba, onde o rio do mesmo nome já está totalmente poluído. O Corumbataí tem um curso de 170 quilômetros, nascendo em Analândia e desaguando no Rio Piracicaba. “Com os métodos e periodicidades convencionais de monitoramento, os resultados acabam por estar longe da realidade”, lembra Armas.

Além do monitoramento em menor espaço de tempo, que foi feito em média a cada três meses, o pesquisador contou com uma parceria do Escritório de Defesa Agropecuária de Piracicaba. “Essa medida, aliada ao levantamento e à consulta aos revendedores nos possibilitou um retrato mais fiel da situação do uso de moléculas de agrotóxicos na bacia”, afirma. De acordo com Armas, a coordenadoria local é uma importante fonte de informação, já que os grandes produtores são obrigados a informar sobre o uso e o processo de aplicação de herbicidas. “No entanto, essa medida de consulta nunca foi empregada”, diz.

Aqüífero em risco

As simulações em computador permitiram constatar que uma das maiores incidências de moléculas de agrotóxicos no Rio Corumbataí está localizada na região norte da bacia, próximo à nascente. “Lá foram registrados os maiores índices de agrotóxicos”, conta o engenheiro. Ele descreve que a região tem predominância da citricultura e possui um solo arenoso que não consegue reter produtos químicos. Outro alerta do pesquisador é que o local é um ponto de recarga do Aqüífero Guarani, que é a maior reserva subterrânea de água doce do mundo.

A tese de doutorado de Dutra foi apresentada no final de 2006 no Programa de Pós-Graduação Interunidades ESALQ/CENA – USP, em Ecologia de Agroecossistemas, sob orientação da professora Regina Teresa Rosim Monteiro.

Agência USP de Notícias