Sistema administra eletroquimicamente medicamentos

Medicamentos são administrados eletroquimicamente e liberados automaticamente dentro do corpo do paciente

ter, 13/02/2007 - 20h25 | Do Portal do Governo

Estudo realizado no Instituto de Química (IQ) da USP desenvolveu o modelo para um sistema inédito de administração de medicamentos controlado eletroquimicamente, que os libera automaticamente dentro do corpo do paciente e pode ser programado para os mais variados tipos e tamanhos de droga. “Chegamos perto de um sistema do tipo ‘liga-desliga’, que é a condição ideal de administração”, conta Luiz Marcos de Lira Faria, autor de uma pesquisa de doutorado no IQ.

Ao contrário do método tradicional, encontrado nos comprimidos, pílulas e cápsulas comuns, um sistema de liberação controlada consegue manter as concentrações da droga dentro do nível adequado. “A administração tradicional de medicamentos é instável. Logo que ele é ingerido, a dose fica acima do nível, já que todo o conteúdo é liberado de uma só vez”, explica o químico. “E, antes de uma nova dose, a quantidade de droga já está abaixo do nível.”

Novas formas de administrar medicamentos, além de serem mais eficientes e de terem grande apelo comercial, podem facilitar tratamentos, como no caso de aidéticos. “O coquetel de drogas contra o vírus HIV chega a ser composto por 40 doses diárias, o que dificulta a adesão. Segundo estudo recente do Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids (NEPAIDS), do Instituto de Psicologia da USP, 73% dos pacientes do Estado de São Paulo não são fiéis ao tratamento”, aponta o pesquisador.

Plásticos especiais

O diferencial do novo modelo está nos materiais que o compõem: os polímeros, plásticos dotados de propriedades especiais. O hidrogel, uma espécie de gelatina capaz de se adequar a qualquer formato, forma a base do sistema, que pode ter formatos e tamanhos versáteis. Fica a cargo do polímero condutor garantir a passagem de corrente elétrica, que coloca o sistema em ação.

A droga é colocada nos espaços vazios dessa base aquosa (o hidrogel), onde também estão os componentes do polímero condutor, chamados monômeros. “Eles são como vagões de um trem”, explica Lira, “que se conectam ou desconectam de acordo com o sinal elétrico aplicado ao sistema”. A expulsão da droga ocorre conforme o “trem” toma forma e fica maior. “É a contração ou expansão do polímero condutor que controla a velocidade de liberação.”

Sistemas de liberação controlada já existem no mercado, como os adesivos para fumantes ou “patchs” contendo anticoncepcionais, mas eles só podem ser pré-programados, o que impõe limites à sua aplicação. É o que acontece com o sistema clássico de liberação eletroquímica, que realiza a expulsão da droga por meio de cargas elétricas. “Formado apenas por polímero condutor, que é dotado de carga negativa ou positiva, esse sistema exige que a droga a ser administrada tenha a mesma carga que o polímero para que haja a expulsão”, explica o pesquisador.

Isso torna o sistema clássico instável e limitado, “pois drogas sem carga não funcionam nele”, afirma o químico. Lira testou seu sistema com a tetraciclina, um antibiótico comum composto por moléculas grandes e sem carga, e com dois tipos de moléculas-modelo, um com carga positiva e outro, negativa. Os resultados foram satisfatórios para todos os tipos de moléculas testadas.

Um dos maiores objetivos da pesquisa de Lira era chegar a um sistema do tipo “liga-desliga”, com o qual seria possível controlar totalmente a liberação da droga. Essa condição seria ideal para a administração de insulina em diabéticos, o que eliminaria o desconforto das injeções regulares. “Chegamos muito perto disso”, afirma o pesquisador, “pois, num dado momento, o sistema liberava quase nenhuma droga e, com o estímulo elétrico, liberava grande quantidade dela”.

Apesar de ser apenas um modelo, o sistema dá mostras de que poderá ser concretizado. “Tanto o hidrogel quanto o polímero condutor são materiais comuns e baratos, e o processo de síntese do sistema e de incorporação da droga é simples, não devendo apresentar dificuldades se ampliado em escala industrial”, aponta o pesquisador.

Além disso, por empregar um polímero feito à base de água (entre 80% e 90% da composição), o sistema garante a biocompatibilidade de que necessita para ser implantado no corpo do paciente, na forma de implante subcutâneo ou de adesivo, por exemplo. Como a junção do hidrogel e do polímero condutor é inédita para esse tipo de sistema, “a idéia agora é patentear”, planeja Lira.

Da Agência USP de Notícias

(R.A.)