Simpósio discute ensino e pesquisa em história no Brasil

Evento acontece na Unisinos entre os dias 15 e 20 de julho

qua, 11/04/2007 - 15h28 | Do Portal do Governo

Julho desse ano será época de debater a história. A Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos), do Rio Grande do Sul, abrigará a 24ª edição do Simpósio Nacional de História, que acontece entre os dias 15 e 20 de julho.

Realizado a cada dois anos pela Anpuh (Associação Nacional dos Professores Universitários de História), o evento, que é considerado o maior da América Latin, pretende discutir o ensino e a pesquisa na área de história.

“O simpósio tem um efeito multiplicador impressionante. Inúmeros trabalhos são apresentados, o melhor da pesquisa do país é visto por milhares de pessoas, tanto daqui no Brasil quanto de fora”, diz Flavio Heinz, vice-presidente da Anpuh. Nesse ano, espera-se mais de seis mil pessoas no evento. Além disso, já estão inscritos 2755 trabalhos e 1200 pessoas para participar dos mini-cursos.

Os trabalhos serão apresentados nos 75 simpósios temáticos que acontecerão paralelamente nos seis dias de evento. O prazo para enviar os trabalhos já está encerrado, porém, para quem estiver interessado, as inscrições para 38 os mini-cursos ficam abertas até o dia 14 de maio.

História de ponta

“O Brasil está sintonizado com os EUA e Europa no que diz respeito às tendências da historiografia mundial. Áreas de estudos como escravidão e afrodescendentes no Brasil produzem um volume intelectual impressionante. Não devemos nada para ninguém”, afirma Heinz.

E buscando estender a qualidade na pesquisa de pós-graduação para o ensino básico e médio, 13 dos 75 simpósios temáticos são dedicados ao ensino de história no país. “Queremos que esses debates tenham um efeito direto na sala de aula e para isso vamos discutir alternativas, ações educativas e novas linguagens na área de história”, explica Heinz.

Segundo o vice-presidente da Anpuh, os ensinos básico e médio sofrem com as dificuldades da educação pública brasileira em geral. “A discussão em torno do ensino de história nos níveis básicos pode ajudar, porém não resolverá o problema. Dependemos de políticas públicas adequadas nessa área”, afirma. O professor espera que, no futuro, toda a produção de qualidade da pós-graduação reflita no ensino básico e que os alunos possam aprender história com boas condições.

Leitura, livros e leitores

Um dos simpósios temáticos do evento debate o ensino de história por uma ótica diferente, analisando Livros, leitores e leituras, séculos XVIII ao XX. Nelson Schapochnik, professor da Faculdade de Educação da USP, e Giselle Martins Venâncio, professora da Universidade Federal de Minas Gerais, procuram pensar o que é a história da leitura e a história dos livros no Brasil no decorrer desses séculos.

Por que foi escolhido esse período para estudo? “O momento em que se tem uma produção e circulação mais efetiva de trabalhos de textos impressos no Brasil é a partir do século XVIII . A outra baliza é o século XX devido à exigüidade de trabalhos sobre o século XXI. Além disso, é o momento de uma efetiva consolidação da infra-estrutura de uma produção de livros, de projetos editoriais nacionais, além de um processo de massificação da educação”, explica Schapochnik.

O mini-simpósio pretende abordar também os lugares onde os livros circularam e circulam hoje em dia, e a forma como eles prefiguraram determinados leitores. A relação livro-leitor, segundo Schapochnik, é extremamente dinâmica e inesperada, uma vez que a interpretação do leitor pode não corresponder à idéia inicial pensada pelo autor da obra: “Muitas vezes uma obra circula em um determinado contexto que não é aquele que o editor achava que circularia. O texto pode ser oferecido como uma partitura que dá algumas referencias e a operação da leitura garante a autonomia e liberdade do leitor”, diz Schapochnik. Sendo assim, para ele, não existe leitura errada, mas sim “leituras desviantes que tomam caminhos não previstos”.

E essas interpretações distintas dependem de muitos fatores, tanto do leitor quanto do livro. De acordo com o professor, operam várias determinações sobre a leitura. A questão do gênero, por exemplo: “Homens e mulheres lêem da mesma forma? Homens e mulheres escrevem da mesma maneira?”, questiona Schapochnik. “Fatores econômicos, culturais, religiosos, o local e a época em que esse livro circula vão influenciar na leitura de cada pessoa”, completa.

Durante muitos anos se considerou que havia uma verdade encerrada no texto, uma interpretação correta, nascendo daí os livros canônicos, dos quais, teoricamente, não há contestação. “E esse é o papel do cânone literário, inventar uma certa tradição e apresentá-la como algo que se perpetua infinitamente, como algo atemporal e universal”, afirma Schapochnik, que complementa: “Mas quantas vezes as obras do Cervantes foram lidas em diferentes contextos? Quantas vezes as peças do Shakeaspeare já foram representadas ou traduzidas? Será que é possível encontrar o sentido que Shakeaspere prescreveu no teatro globo, no século XVI, na Inglaterra? Nenhum texto paira no ar”.

O mini-simpósio Livros, leitores e leituras, séculos XVIII ao XX ainda não tem data certa para acontecer. Para efetuar inscrições e saber mais sobre o que acontecerá no Simpósio Nacional de História, acesse o site http://snh2007.anpuh.org/.

Da USP Online