Setor de Arte Forense ajuda polícia paulista na solução de crimes

Desaparecimento e crimes de autoria desconhecida podem ser esclarecidos com a ajuda de retratos falados e reconstituição de imagens a partir de gravaç

qui, 05/07/2007 - 7h02 | Do Portal do Governo

Na tarde desta terça-feira, dia 3, a empregada doméstica desempregada Maria Quintino, 61, procurou o Setor de Arte Forense da Delegacia Geral da Polícia Civil na expectativa de encontrar o filho desaparecido há 39 anos. Quando ele tinha três, ela já trabalhava e, como era solteira, não tinha tempo para cuidar dele. Resolveu então dividir o aluguel com uma mulher, conhecida como Célia, que cuidava da criança. Célia e seu noivo levaram o menino para uma casa de adoção, alegando que a mãe não tinha condições de sustentá-lo.

Maria foi diversas vezes atrás de pistas que possibilitassem o encontro com o filho, mas não conseguiu reavê-lo. “Nunca perdi as esperanças”, diz. Ela foi à delegacia de pessoas desaparecidas do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e os policiais a encaminharam para o Setor de Arte Forense da Delegacia Geral. Maria levou uma foto do filho com dois anos de idade e espera para ver como ele pode estar hoje. “Com o computador, fica mais fácil saber como meu filho está agora”, disse, com os olhos cheios de esperança.

Casos de desaparecimento, como o do filho de Maria, e crimes de autoria desconhecida e de difícil solução podem ser esclarecidos pela polícia com a ajuda de retratos falados e reconstituição de imagens a partir de gravações em vídeos, realizados pelo Setor de Arte Forense. Um dos crimes mais conhecidos solucionado por meio de um retrato falado foi o do motoboy Francisco de Assis Pereira, conhecido como “Maníaco do Parque”, que atraía as mulheres com falsas promessas de emprego até o Parque do Estado, na divisa de São Paulo e Diadema.

O retrato falado dele foi feito, em 1998, pelo setor de arte forense, por intermédio da descrição de vítimas. Ao ver o suposto rosto do criminoso em um jornal em rede nacional, um pescador do Rio Grande do Sul reconheceu Pereira e o denunciou à polícia. Ele está preso e é condenado a 121 anos de prisão pelo assassinato de nove mulheres.

Na semana passada, a polícia divulgou os retratos falados de dois acusados de envolvimento no assalto que resultou na morte de um casal no bairro do Morumbi, na frente do filho de sete anos. Crime que chocou os paulistas.

O setor foi criado em 2001 na Delegacia Geral para atender a todos os departamentos da Polícia Civil e alguns da Polícia Militar e conta com uma equipe de cinco profissionais especializados que trabalham em esquema de plantão. Antes, funcionava no Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital). A qualquer hora do dia, a polícia pode acionar os peritos, que além de ajudar a solucionar crimes, auxiliam também em casos de desaparecimento de pessoas, por meio de trabalhos de progressão de idade.

Antes do computador, os profissionais de retrato falado desenhavam a mão. A pessoa descrevia e o desenho era feito várias vezes, até chegar o mais próximo do real. Com o avanço da computação, surgiram diversos programas especializados e os profissionais foram se aperfeiçoando.

O retrato falado é feito por meio da descrição de alguém que testemunhou ou foi vítima de crimes sexuais ou hediondos. São feitas várias perguntas, e assim, vai-se colocando as informações no computador. “O programa assessora o profissional a montar um rosto básico e depois, com habilidade artística, o especialista vai remodelando até que a vítima chegue a conclusão de que aquele rosto é bem próximo ao do acusado”, explica o perito em retrato falado Sidney Barbosa, que trabalha no setor de arte forense. Eles chegam a 80% de semelhança entre o desenho e o real. Segundo o especialista, que trabalha na área há 20 anos, o retrato falado faz parte de um inquérito policial. Não é usado como prova, mas é um meio de investigação que pode ajudar muito na solução de crimes.

Quem trabalha com isso precisa ter sensibilidade para saber conversar com alguém que sofreu um trauma e que, por isso, pode ajudar na hora da descrição. De acordo com Sidney, “precisa-se recriar o momento traumático, resgatar da memória da vítima e conseguir extrair detalhes que possam chegar ao rosto do criminoso.” Por isso, eles fazem um treinamento psicológico. “Não adianta ter computadores de última geração e não ter um lado humanitário. O computador é muito frio, não consegue fazer nada sozinho”, diz Sidney.

O setor de arte forense não lembra um ambiente policial. A pessoa fica ao lado do profissional e pode tomar café ou água. O clima é amistoso, o que faz com que a testemunha se sinta à vontade. Sidney comenta que é muito importante a parte solidária em sua profissão. Tudo isso faz parte do trabalho.

Além do Setor de Arte Forense, a polícia conta ainda com um perito do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) que também faz retratos falados. Yoshiharu Kawasaki atua na UIP- Unidade de Inteligência Policial há 15 anos.Ana Carolina Angerami

Da Assessoria de Imprensa da Secretaria da Segurança Pública

(R.A.)