Serviço da Universidade de Campinas previne câncer hereditário

Ambulatório de Oncogenética do HC atende pacientes e familiares

qui, 27/09/2007 - 14h45 | Do Portal do Governo

Não é incomum o caso de famílias em que determinadas doenças se manifestam por gerações. O câncer está entre elas e, por sua natureza, provoca apreensão, medo e incerteza em descendentes de portadores da doença. O ambulatório de Oncogenética do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital de Clinicas (HC) da Unicamp presta atendimento aos pacientes com possível câncer hereditário e aos seus familiares.

A unidade foi criada há um ano, por iniciativa da médica e professora Carmen Silvia Passos Lima, responsável pela disciplina de Oncologia Clínica, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da universidade. O atendimento é realizado pelas biólogas e geneticistas Carmen Silvia Bertuzzo, professora do Departamento de Genética Médica, e Fátima Botcher, professora do Departamento de Tocoginecologia, ambos da FCM.

Carmen Lima explica que contingente considerável de pacientes do Serviço de Oncologia apresentava o câncer em idade mais precoce do que a esperada na forma convencional da doença. Além disso, casos recorrentes do câncer em indivíduos da mesma família sugeriam que o mal fosse herdado dos ancestrais.

Essas constatações a levaram a convidar as professoras Carmen Bertuzzo e Fátima Botcher para identificar os casos efetivamente hereditários, que merecem receber terapêuticas específicas, bem como para orientar os familiares sobre as formas de prevenção e diagnóstico precoce da doença. De acordo com Carmen Bertuzzo, cerca de 15% dos tumores são hereditários. Nesse primeiro ano de existência, o Ambulatório de Oncogenética atendeu aproximadamente 300 famílias. 

Padrão – Carmen Bertuzzo afirma que o fundamental é determinar o padrão da doença, se hereditária ou adquirida. Isso é feito por meio de avaliação da idade de ocorrência da moléstia e a recorrência do câncer em familiares. A especialista explica que no aconselhamento genético estabelece-se o risco da moléstia para cada integrante da família, sugerem-se medidas profiláticas e exames que permitam a sua detecção antecipada.

As recomendações aos familiares variam de acordo com o tipo de câncer. No de cólon e reto, por exemplo, sugerem-se colonoscopia anual e a adoção de dieta com pouca gordura, rica em fibras, frutas, legumes, verduras e cereais.

A maior parte dos pacientes recebidos no Ambulatório de Oncogenética é encaminhada por médicos do próprio hospital, mas o setor tem capacidadepara receber doentes indicados por profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS).

A primeira preocupação das responsáveis pelo ambulatório foi informar e conscientizar os próprios médicos do hospital sobre a importância de identificar esses casos. Carmen Lima lembra que, no começo, os pacientes que apresentavam evidências de câncer hereditário raramente eram encaminhados para a avaliação pelas geneticistas. “Mas conseguimos, em pouco tempo, reverter a situação com a orientação dos médicos. E hoje até mesmo outras disciplinas nos mandam pessoas com possíveis cânceres hereditários”, diz. 

Trabalho de geneticistas – Para Carmen Lima, a complexidade do tratamento de cancerígenos exige profissionais de várias áreas. É, portanto, um trabalho multidisciplinar. Pacientes com determinados tipos da doença são tratados por meio da remoção cirúrgica do tumor; outros recebem quimioterapia e radioterapia. Há, ainda, os que necessitam de todas essas terapêuticas.

Os pacientes chegam à Oncologia com necessidades suplementares a esses três procedimentos básicos: tratamento odontológico para debelar focos infecciosos que seriam agravados pelos procedimentos médicos; orientação nutricional para os que perderam peso; atendimento psicológico para pacientes e familiares que exibem problemas emocionais; aconselhamento genético para as famílias em que a doença é hereditária, entre outras.

A determinação do caráter hereditário do câncer é feita por geneticistas, pois exige conhecimentos que fogem das atribuições de um clínico. Cada caso estudado demanda atendimento diferenciado e conduta específica, que apenas um profissional da área pode desenvolver, explica Fátima Botcher.

Para alguns tipos de câncer hereditário, como o de mama, pode ser feita a detecção dos portadores de genes que os tornam suscetíveis à doença através de exame no DNA. As professoras Carmen Lima e Carmen Bertuzzo lembram que, embora os laboratórios do Serviço de Oncologia e do Departamento de Genética tenham condições técnicas de realizar esse exame, não os oferecem por falta de recursos, pois não constam da tabela do SUS. “Somente realizamos quando podemos incluí-los em pesquisas que necessitem de dissertações de mestrado ou teses de doutorado”, diz Carmen Lima. 

Carmo Gallo Netto

Do Jornal da Unicamp 

((ENTRA BOXE)) 

Múltiplas atividades 

O serviço de Oncologia Clínica é referência para o atendimento de pacientes com câncer. Realiza por mês cerca de 800 consultas e entre 300 e 400 procedimentos quimioterápicos. Aproximadamente 40% dos casos são de tumores de cabeça e pescoço, 30% de tumores do cólon e reto e 30% de outras ocorrências. Os pacientes são também assistidos por profissionais de enfermagem, nutrição, serviço social, psicologia, odontologia e genética, em ambulatórios que funcionam na mesma área em sincronia com os de atendimentos médicos.

Os profissionais da equipe ministram conhecimentos básicos em Oncologia para alunos do curso de Medicina da Unicamp e conhecimentos específicos aos médicos residentes da Clínica Médica e Cancerologia. Outra atividade é a formação de alunos de iniciação cientifica e pós-graduandos de mestrado e doutorado em áreas básicas e clínicas de investigação em câncer.