Serviço: Cursinhos da USP são opções para aluno carente que quer entrar na faculdade

O curso é extensivo de março a dezembro

sex, 15/09/2006 - 22h00 | Do Portal do Governo

Na Universidade de São Paulo (USP) vários cursos pré-vestibulares procuram praticar a tão sonhada inclusão social, preparando jovens carentes, vindos da periferia e do ensino médio público, para que consigam vagas em faculdades. Na maioria, são cursinhos criados por alunos de determinadas escolas da USP. Podem ser gratuitos ou com mensalidades mais baixas que aquelas cobradas pelos demais cursinhos do mercado.

O Cursinho do XI foi fundado em 1996, por alunos do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, e funciona num prédio da Avenida Brigadeiro Luís Antonio, na Bela Vista. As inscrições para o extensivo (aulas no ano todo) abrem-se em janeiro, custam R$ 50 e o aluno precisa comprovar baixa renda. As aulas se iniciam no mês seguinte, indo até dezembro. O valor total do curso (R$ 1.380) é dividido em até 12 vezes, com data de vencimento à escolha do estudante.

A coordenadora Augusta Aparecida Barbosa Pereira, também professora de literatura no cursinho, conta que os futuros universitários passam por muitas agruras para estudar. “Moram longe, trazem marmita, só andam com o dinheiro da condução, mas é bonito vê-los aprendendo, formando grupos nas horas vagas”, comenta Augusta.

No ano passado, 48% dos alunos que concluíram as aulas entraram em alguma faculdade: 30 deles no ensino público e quatro na famosa escola de Direito da USP do Largo São Francisco. A faixa etária é de 17 a 25 anos. Há, no entanto, algumas gratas exceções, como um senhor de 86 anos que deseja fazer Ciências Biomédicas.

Avaliação socioeconômica

Criado em 2000, o Cursinho da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) tem 130 alunos e 16 professores. O coordenador Luís Alberto Martins, estudante do segundo ano de Administração, diz que os únicos valores cobrados dos alunos são a taxa de inscrição de R$ 50 e a matrícula de R$ 250, dividida em até cinco vezes.

Os professores são alunos de graduação ou pós-graduação da FEA e de outras faculdades da USP, que recebem R$ 10 por aula. As apostilas são do Sistema Positivo de Ensino. Luís Alberto lembra que, no ano passado, 20% dos 120 alunos que estudaram no local entraram em faculdades públicas e 15% em escolas privadas, mas com bolsa do programa federal ProUni.

“Geralmente, estes estudantes, que vêm do ensino público, chegam despreparados ao cursinho, mas quando notamos progresso em seu aprendizado ficamos satisfeitos com o nosso trabalho”, assegura Luís Alberto. Um ex-aluno, da turma de 2001, entrou em Letras na USP e hoje é professor no Cursinho da FEA.

O curso é extensivo, de março a dezembro, e as inscrições ocorrem geralmente em novembro. Depois, o interessado passa por prova e entrevista socioeconômica.

Camila Fernanda Alves Arioli, 18 anos, e Geraldo Meneses da Silva Júnior, 29, participam do Cursinho da FEA. Ambos vieram de escolas públicas. Ela, moradora em Guarulhos, deseja cursar Medicina ou Farmácia. Geraldo, que ficou alguns anos sem estudar, por causa da morte do pai e do serviço militar obrigatório, voltou à carga e deseja entrar em Ciências Sociais, na USP. Para se manter, trabalha como garçom.

A Medicina USP também tem seu cursinho preparatório gratuito, o MedEnsina, criado há quatro anos e, atualmente, com 190 alunos no extensivo no período noturno. A taxa de inscrição é R$ 20, para fazer prova de seleção. Depois, o aluno passa por avaliação socioeconômica. São 25 professores e 40 plantonistas (que resolvem dúvidas dos interessados).

Todo o corpo docente é formado por estudantes da própria faculdade, assegura um dos responsáveis pelo cursinho e universitário do terceiro ano de Medicina, Thiago Marques Mendes. As apostilas são doadas pelo Objetivo.

No ano passado, informa Thiago, o índice de aprovação foi de 10%, quase todos no ensino superior público. Uma das alunas chegou a entrar no curso de Medicina da Unicamp. Os que se matricularam em escolas particulares conseguiram bolsas do ProUni. “Nós, da direção do MedEsnina, não achamos que a determinação de cotas para alunos por causa de etnias ou de condição social seja a solução. Acreditamos que devem entrar na faculdade por mérito próprio, mas precisam de cursinhos preparatórios gratuitos ou baratos”, explica.

Além do vestibular

Um dos mais antigos da USP, o Cursinho PsicoUSP, criado em 1998, no Instituto de Psicologia, atende 400 alunos. São divididos no extensivo e em outra modalidade presente apenas no Psico USP, o expansivo, que dura um ano e meio, de agosto a dezembro do ano seguinte. “Para alunos vindos de escolas públicas, com formação deficitária, o ideal é estudar mais de um ano, para estar bem preparados no dia do vestibular”, justifica o coordenador do cursinho, Rubens Bias.

As inscrições, em janeiro/fevereiro, para o intensivo, e em julho, para o expansivo, custam R$ 45, a matrícula, R$ 30 e as mensalidades, R$ 90. É necessário passar por avaliação socioeconômica. Metade das vagas é assegurada a negros por autodeclaração. Oferece também bolsas para funcionários da USP, deficientes visuais e egressos do sistema prisional.

O cursinho tem quatro salas no prédio do Instituto de Psicologia. Há 40 professores e plantonistas. O Psico USP dispõe de atendimento psicológico, exames de aptidão e de escolha da profissão. No ano passado, do total de alunos que concluíram o cursinho (número sempre menor que no início do ano), cerca de 40 (25%) conseguiram se matricular em faculdades: 13 deles na USP. Um deles veio do sistema prisional e hoje cursa Farmácia, numa faculdade particular. “Nosso trabalho é tentar reduzir a diferença entre alunos da escola particular e os do ensino público. Nosso curso vai além do vestibular, porque organizamos eventos internos e visitas a outras unidades da USP”, diz Rubens Bias.

O Cursinho Experimental do Crusp reúne uma centena de alunos carentes, divididos entre os períodos da manhã e da noite. O primeiro funciona numa sala da Faculdade de Geografia da USP e o outro numa escola municipal do Butantã, próximo à Cidade Universitária. O cursinho foi criado em 1998 por um grupo de 20 alunos da USP residentes no Conjunto Residencial da universidade (Crusp).

Vanessa Pinheiro, da coordenação, informa que a taxa de inscrição custa R$ 50 e a mensalidade, R$ 120 (manhã) e R$ 110 (à noite, quando há uma hora a menos de aula). No valor, inclui-se material didático do Grupo Ético e outros feitos no Crusp. São 15 professores, alunos de várias carreiras da universidade. O cursinho não costuma registrar o número de alunos que ingressam em cursos superiores. No entanto, Vanessa cita alguns exemplos do ano passado de duas meninas pobres que conseguiram a tão sonhada universidade, uma na Unicamp outra na própria USP. Do atual grupo de professores, quatro fizeram o cursinho do Crusp e estudam na Cidade Universitária, entre os quais a própria Vanessa, que faz Geografia. “A maioria dos estudantes vem da periferia, gente que trabalha e teve ensino de baixa qualificação”, diz a coordenadora.

Otávio Nunes – Da Agência Imprensa Oficial