Serra lembra importância de combater queimadas da cana-de-açúcar

Prática de colheita usada pelos produtores de cana-de-açúcar de São Paulo tem prazo para acabar

sáb, 10/03/2007 - 11h00 | Do Portal do Governo

Em artigo publicado nesta sexta-feira, dia 9, no jornal Folha de S. Paulo, o governador José Serra lembrou a necessidade de garantir as condições ambientais que cercam a cana-de-açúcar. “Neste ano, São Paulo terá plantado 4,2 milhões de hectares de cana. Em pelo menos 2,5 milhões de hectares (10% do território paulista) as colheitas serão realizadas mediante queimadas! É uma aberração ecológica e um atentado à saúde das pessoas”, escreveu o governador.

Para Serra, é “dever de todos nós, governo e não governo, produtores e não produtores, corrigir essa distorção, com coragem, firmeza e sabedoria. Afinal, uma das principais razões de ser do etanol é assegurar um convívio amigável com o meio ambiente”.

O setor canavieiro apresenta dois grandes impactos em relação à qualidade do ar. O primeiro é altamente positivo, representado pelo uso do álcool como combustível, misturado ou não à gasolina. O outro é representado pelas emissões de gases durante a queimada da cana. Apesar de o balanço do carbono ser altamente positivo, ou seja, durante a fotossíntese a cana fixa mais carbono que emite durante a queimada, a ausência desta prática pode significar ganho ainda maior para o ar atmosférico.

“A queimada da cana, assim como de qualquer biomassa como florestas e pastagens, é responsável por emissões de gases do efeito estufa, principalmente o gás carbônico (CO2), além de monóxido de carbono (CO), óxido nitroso (N2O) e metano (CH4), de particulados e de fumaça”, explica Raffaella Rossetto, pesquisadora do IAC (Instituto Agronômico).

São Paulo produz quase dois terços do álcool (e do açúcar) do país. A cana ocupa mais da metade das lavouras do Estado (excluídas as pastagens). O Estado tem adotado medidas para combater a prática da queimada e garantir as condições ambientais que cercam a cana-de-açúcar. Em 2002, passou a vigorar a Lei Estadual 11.241, que prevê a eliminação gradativa da queima da palha da cana-de-açúcar.

Nas áreas onde as plantações ocorrem em terrenos com declividade superior a 12% e a estrutura de solo inviabiliza a adoção de técnicas usuais de mecanização da atividade de corte de cana, o prazo previsto pela Lei encerra em 2031. Nas demais áreas, onde a colheita pode ser mecanizável, os produtores têm até 2021 para eliminar totalmente a queima.

Dados da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar) apontam que a legislação trouxe avanços: cerca de 40% das áreas já mecanizaram o processo de colheita, eliminando a queima da palha. Com essa redução, ficam sobre o solo de 10 a 15 toneladas de palha que anteriormente eram queimadas.

Toda essa palhada exigiu o desenvolvimento de tecnologias que pudessem atender às novas exigências do sistema de produção. São Paulo trabalhou para oferecer aos produtores soluções que possibilitassem a eliminação da queima.

O IAC, por exemplo, dividiu seus pesquisadores em várias frentes de estudo. A criação de novas variedades de cana ajudou a aumentar a qualidade e a produtividade das lavouras, enquanto outros trabalhos já podem oferecer aos produtores maneiras mais econômicas de realizar a colheita mecanizada.

Rafaella explica que a mudança do sistema de produção que dependia do fogo para a facilitar a colheita, para o sistema onde a queimada não é mais utilizada, exige grande aporte de tecnologia. “Para colher mecanicamente, grande aporte tecnológico foi exigido a começar pela sistematização do terreno, o dimensionamento de talhões prevendo maior comprimento e linearidade a fim de diminuir manobras e aumentar a eficiência”, diz a pesquisadora.

“O simples fato de manter a camada de palha sobre o solo, que em média significa 8 a 12 t de palha/ha, modifica todo o sistema de produção”, exemplifica. As recomendações de adubação foram revistas porque a palha dificulta as operações de cultivo e incorporação de fertilizantes.

Por outro lado, a palhada tem muitos efeitos benéficos. Representa grande retorno de matéria orgânica, promove maior proteção do solo contra a erosão e maior armazenamento de água no solo, aumenta os organismos vivos no solo e promove a reciclagem de nutrientes, entre outros.

Regina Amábile