Segurança: Mulheres são exemplo de coragem e determinação

Efetivo feminino da PM cresce em São Paulo desde 1955, quando passaram a ingressar nos batalhões

qua, 08/03/2006 - 10h24 | Do Portal do Governo

Nos dias de hoje, não são poucas as mulheres que conciliam as atividades caseiras com uma carreira de sucesso – se arriscando em profissões até bem pouco tempo desenvolvidas exclusivamente por homens, por causa da exposição a situações de alto risco.

O 2º tenente da reserva da Polícia Militar, Jaime Guerra, de 71 anos, diz que sua mulher, Margarida Guerra, contava as horas para não ter mais fardas para lavar. O que ela não esperava, entretanto, é que três de seus cinco filhos seguissem o exemplo do pai. Todos os dias, Eliana e Daniele Guerra vestem uniforme e vão para o trabalho: na Polícia Militar.

Filha na Polícia

O ano de 1955, quando Guerra ingressou na carreira, foi marcado pela presença pioneira das mulheres na Polícia Militar. Ele não lembra de mulheres no Batalhão da Polícia Rodoviária, principalmente no interior do Estado, onde passou a maior parte de sua vida. E conta que somente depois de aposentado é que começou a notar a presença feminina na Corporação; por volta de 1996.

A 1ª tenente Eliana Guerra, lotada no 11º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I), está na PM há 19 anos. “A Eliana sempre teve jeito para a coisa. Quando eu chegava do serviço, tirava o coturno suado. E ela, ainda pequena, calçava e até tropeçava com ele. Agora, com a Daniele foi uma surpresa. Nunca pensei que ela seria policial”, ressalta o pai, orgulhoso de ver as filhas seguindo seus passos, com a bravura, a determinação e o respeito que a profissão exige. Daniele é aspirante a oficial e está lotada no 35º Batalhão da Polícia Militar do Interior (BPM/I). Já o tenente Maurício Guerra, irmão de Daniele e Eliana, serve o 4º Batalhão da Polícia Rodoviária. 

“Quando fazemos o que amamos o peso é menor”

A delegada Ana Paula de Bem Bitencourt Ribeiro dá outro bom exemplo da importância da mulher na Segurança Pública, e mostra que é possível conciliar a carreira e a família, com maestria. Ela está na Polícia Civil há dezesseis anos, e trabalha em Taubaté. “Comecei como escrivã de polícia, aos 19 anos, e me tornei delegada aos 23”, relata.

Ana Paula é casada com um delegado com quem tem um filho de 8 anos e uma menina de 5 anos. “Conciliar a carreira policial com a família é muito difícil, mas, quando fazemos o que amamos, o peso é menor”, garante Ana Paula. A sua rotina é apertada: além de delegada, ela dá aulas na Academia de Polícia, na Capital, e coordena dois grupos de estudo, além de ser assistente na Delegacia Seccional.

“Kate Mahoney”

Débora Maciel Pedro Ramos, apelidada pelos amigos de “Kate Mahoney”, é uma investigadora de 38 anos que coleciona prisões pela Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) de Mogi das Cruzes. Ela é citada pela maioria como exemplo de policial que conquistou o respeito e admiração de homens e mulheres em seu trabalho, aliando inteligência, garra, determinação e uma boa pitada de charme. Além disso, é extremamente organizada, a ponto de ter álbuns com fotos e reportagens publicadas pela mídia, da maioria dos casos esclarecidos por ela e seu parceiro: um homem.

Na Polícia Civil há 12 anos – e avó de uma menina de 10 meses –, Débora procura usar a ‘força feminina’ para lidar com a bandidagem. “A gente sempre evita usar a força e procuramos aplicar a psicologia, a conversa”. Em oito anos de trabalho na Dise, ela e seu parceiro, Robson Militão de Oliveira, só usaram as armas uma única vez. Os números de prisões em flagrante feitos pela dupla falam por si: foram 900 até agora.

Débora, que é casada com um sargento da Polícia Militar e tem três filhas e uma neta, comenta que ganhou o apelido carinhoso de Kate Mahoney como uma alusão à policial linha-dura de uma antiga série de TV.

Pedras no caminho

Dificuldades e preconceitos sofridos pelas mulheres são muitos. No caso da agente de telecomunicações da 5ª Seccional de Polícia, Simone Camargo da Silva, de 29 anos, essas barreiras são ainda maiores. Ela é deficiente visual. Entretanto, não vê empecilhos para conquistar seu espaço como policial, estudante de Psicologia e, quem diria, atleta consagrada internacionalmente. “As pessoas dizem que não há mais machismo, mas na prática, sempre impõem barreiras. Não nos vêem como ser humano e sim como uma mulher, que deve casar e ficar em casa, cuidando dos filhos”, lamenta.

Engajada em discussões sobre a situação dos deficientes visuais, Simone divide seu tempo entre a academia, os treinos e Goal Ball, a Polícia, a faculdade e, é claro, o namoro. “Sou apaixonada pela vida, coloco objetivos e corro atrás. Mas ainda tenho um sonho: a inclusão total dos cegos na sociedade”, conta.

Sensibilidade

Diante de tanta tristeza e injustiça, o policial tende a endurecer. Mas este certamente não é o caso da titular da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Jundiaí, Fátima Regina Giassetti, de 50 anos. Ela fala que caiu de pára-quedas na Corporação, mas não nega seu amor. “Não endureci, a profissão me tornou mais sensível”, argumenta.

O orgulho de ser mulher e de contribuir com a sociedade ao trabalhar pela Segurança Pública é visível em todo o efetivo policial feminino. Para este grupo, ainda pequeno mas crescente, que com garra e muita determinação conquista e amplia seu espaço profissional, o Dia Internacional da Mulher tem um sabor especial: de reconhecimento pela competência e pelo valor de seu trabalho pelo universo masculino.

Juca Barros e Renata de Salvi, da Assessoria de Imprensa da Secretaria da Segurança Pública