Segurança: Centenário da Missão Militar Francesa de Instrução da PM

Evento também visa a troca de experiências entre os países

sex, 24/03/2006 - 13h25 | Do Portal do Governo

A Polícia Militar do Estado de São Paulo dará início às comemorações alusivas ao Centenário da Missão Francesa de Instrução da Força Pública, nesta sexta-feira,  na Academia do Barro Branco, localizada na avenida Água Fria, 1.923, no Tucuruvi. Este evento é um marco dos festejos que se estenderão até o dia 15 de dezembro próximo.

Estarão presentes o cônsul-geral da França, Jean Marc Gravier, o presidente da Comissão Municipal de Direitos Humanos, José Gregori, e autoridades locais. Haverá a apresentação da Quadrilha de Monitores de Joinville Le Pont, mais conhecida como ‘Bailado Joinville Le Ponte’ – uma herança dos ensinamentos transmitidos pelos oficiais franceses no início do século XX à Polícia Militar, à época denominada Força Pública.

Ainda que as influências sofridas pela Corporação tenham sido imprescindíveis para sua formulação, o tenente-coronel Arruda destaca a real importância das festividades, “Mais do que fazer uma festa para rememorar o passado, nós vamos utilizar esse fato como um propulsor de novos conhecimentos, de troca de experiências, busca de novas tecnologias e aproximação com a comunidade européia”.

Chegada da Missão

A implantação da Missão Militar Francesa de Instrução da Força Pública ocorre para atender um objetivo bastante peculiar do Estado de São Paulo. Desde o fim do Império, prevalecia a política do Café com Leite, que consistia na hegemonia política no cenário nacional de Minas Gerais e São Paulo.

Contudo, os políticos paulistas sabiam do risco de tentativas de intromissão na gestão econômica e social desenvolvida, sobretudo por meio de intervenções do Exército Brasileiro, que poderia restabelecer o modelo centralizador e burocrático.

Dessa forma, a grande agilidade econômica pela qual São Paulo passava seria prejudicada, principalmente, no tangente à expansão cafeeira.

A Força Pública deveria ser um pequeno exército paulista, ou seja, uma força de polícia em condições de desempenhar o papel de defesa territorial, para assegurar os interesses do Estado.

Contratação

Em razão da necessidade da reformulação da Corporação, é contratada a Missão em 27 de março 1906. Os seus membros vinham de uma unidade do Exército francês que realizava atividade de polícia em Paris: uma unidade militar com experiência de missões policiais.

Ela esteve por duas vezes no Brasil. A 1ª Missão Francesa ficou de 1906 a 1914, quando os oficiais franceses tiveram de retornar à pátria com a eclosão da I Guerra Mundial e retornou depois de 1919, permanecendo até 1924.

Heranças herdadas

Na primeira fase, o coronel Paul Balagny comandou as ações de treinamento. Foi ele quem estimulou a instrução dos homens, além de ter se preocupado com o bem-estar e formação pessoal do soldado. Ademais, o coronel percebeu que aqui havia uma grande diversidade de fardas, mas o ideal seria um uniforme básico sobre o qual acrescentasse adereços para indicar promoções. Ele também ensinou as práticas administrativas desenvolvidas na Força Pública.

Balagny ministrou o primeiro curso de armeiro em São Paulo, que ensinava métodos para manutenção e conservação da arma de fogo pelo soldado. Entre suas iniciativas, destaca-se a execução da instrução individual, da qual se favoreceram aproximadamente 4 mil homens. Para o coronel, primeiramente treinava-se um a um, depois um pequeno grupo (seção), pelotão, companhia; e, finalmente, o batalhão.

Sob o ponto de vista francês, era essencial cuidar também do preparo físico. Seguindo esta mentalidade, foi criada a primeira escola de ensino superior em Educação Física no País, pois acreditava-se ser preciso dotar os homens de técnicas não-letais.

Graças a isso, a Missão introduziu oficialmente no Brasil o boxe, a esgrima, a ginástica sueca e o ‘bailado de Joinville Le Ponte’.

Bailado de Joinville Le Pont

A Quadrilha de Monitores de Joinville Le Pont é uma atividade aeróbica de lazer e condicionamento que tem por objetivo a manutenção do controle físico. Ela é uma dança camponesa francesa, que foi sistematizada pela Escola de Joinville, atualmente chamada Escola Interarmas de Esportes – um grande centro de condicionamento físico das forças francesas até os dias de hoje.

O bailado pretendia ser exclusivamente masculino, contudo, a Academia do Barro Branco passou a admitir a participação de mulheres desde 1989.

Grandes legados

Foi a Missão Francesa de Instrução da Força Pública que deu início às precursoras do Cefap (Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças) e da Academia do Barro Branco. Dentre as principais decisões tomadas, estava a estruturação de escolas de formação de soldados, cabos, sargentos e oficiais.

Além disso, os ensinamentos franceses introduziram na Corporação uma visão globalizada, à qual permitiu que a Força Pública se reformulasse e se modernizasse. As técnicas que revolucionaram positivamente a Polícia Militar, ao longo de sua história, são frutos da mentalidade internacionalizada incitada pela Missão, tais como: o projeto Resgate, o Radiopatrulhamento Aéreo, a prática de tiro policial não letal, e a ênfase no ensino de Direitos Humanos.

Thaís Camargo, Assessoria de Imprensa  da Segurança Pública