O álcool na terceira idade

Diagnóstico nessa faixa etária costuma ser tardio e, muitas vezes, a doença é identificada como depressão ou demência, o que dificulta o tratamento

qua, 25/07/2012 - 11h29 | Do Portal do Governo

Pesquisas revelam que o alcoolismo na terceira idade é maior do que se imaginava. Segundo a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), o problema não costuma ser diagnosticado nesta faixa etária porque os sintomas do alcoolismo são atribuídos a outras doenças crônicas como demência e depressão ou, muitas vezes, ao próprio envelhecimento. E isso dificulta o tratamento. “Num País em que a população está vivendo 25 anos a mais, comparado à década de 1960, é o momento certo para abrir uma discussão sobre o assunto. Transtornos relacionados ao álcool são comuns entre idosos”, afirma Larriany Giglio, psiquiatra do Instituto Mundo Novo, clínica especializada em atendimento a problemas de drogas e alcoolismo.

Marta Jezieski, diretora do Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Doenças (Cratod), explica que “alguns profissionais de saúde não perguntam se o paciente fuma ou bebe, principalmente nesta fase da vida, o que torna difícil o diagnóstico para tratamento”. Larriany ressalta que, “quando se constata o abuso do álcool, o problema é tratado como algo tolerável e o paciente acaba não sendo encaminhado ao tratamento adequado”. Outro fator importante é que os idosos procuram, sozinhos, o tratamento. “Os familiares não entendem que alcoolismo seja uma doença. Acham que é falta de caráter ou de vontade, observa Marta. Em média, o Cratod atende 50 pessoas por dia à procura de tratamento para o álcool, em todas as faixas etárias.

Fatores e efeitos

Diversos fatores desencadeiam a dependência de álcool na terceira idade: aposentadoria (ociosidade), viuvez ou solidão, sentimento de inutilidade e falta e perspectiva de vida. É necessário um programa de tratamento diferenciado para atender às necessidades desses pacientes. “De modo geral, os idosos acreditam que não têm mais tempo nem vitalidade para almejar ou construir algo”, diz a médica Larriany. Programas que têm a motivação como objetivo principal facilitam o tratamento e ajudam os dependentes.

Os efeitos da bebida no organismo também são graves nessa fase. O fígado exibe redução da metabolização. O tubo digestivo diminui a capacidade de absorção. O estômago absorve menos vitamina B12. E o pâncreas torna-se mais propenso aos quadros de pancreatites aguda e crônica. A polifarmácia e a utilização de medicamentos de venda livre aparecem como outros complicadores, podendo inclusive resultar em morte por associação de substâncias, como benzodiazepínicos e álcool. Segundo a diretora do Cratod, os pacientes revelam que estão bebendo bem menos de quando jovens. “Eles acreditam que estão curados, mas, na realidade, há um sério comprometimento do organismo em geral”

Os motivos que levam os idosos a ser mais vulneráveis ao uso de álcool do que os jovens são os riscos maiores de efeitos adversos que eles apresentam, mesmo consumindo quantidades menores. “É lamentável que o problema seja pouco avaliado e conhecido. A gravidade das alterações comportamentais e físicas torna extremamente importante a realização de estudos que compreendam essa faixa etária para que se possa conhecer a real extensão do problema por meio de medidas preventivas específicas e tratamento dequado”, diz Larriany

Juventude

Outro estudo interessante sobre dependência alcoólica foi realizado pelo Programa do Grupo Interdisciplinar de Estudos de Álcool e Drogas e Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Departamento e Instituto de Psiquiatria do HC-FMUSP. Intitulado São Paulo Megacity, a pesquisa realizada com 5.037 indivíduos adultos da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) mostrou que aproximadamente 10% preencheram critérios para abuso e dependência do álcool. Do total, 54% dos abusadores apresentaram este diagnóstico antes dos 24 anos. A maioria dos indivíduos desenvolveu dependência antes dos 35 anos.

“É um dado alarmante que revela que os homens abusam cada vez mais cedo do álcool, considerado uma droga lícita”, constata o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, especialista em dependência química e professor associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. De acordo com o médico, que também é presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), três motivos levam os homens a utilizar o álcool: insegurança, necessidade de inserção social e exemplo familiar.

Dependência

Embora alguns estudos sugiram que os padrões de consumo de álcool entre os sexos estejam se igualando cada vez mais, os homens continuam consumindo maiores quantidades e apresentando maiores taxas de abuso e dependência que as mulheres. “Os jovens iniciam o primeiro contato com o álcool por meio de bebidas fermentadas (cervejas), passando gradativamente para as destiladas (vodca, uísque), principalmente no período das pré-baladas ou ‘esquenta'”, explica o doutor Arthur. Segundo ele, a dependência independe da quantidade e da frequência do uso do álcool. “Está associada mais ao prejuízo na esfera social, ao desvio na esfera familiar e aos problemas relacionados à saúde – esquiatose, pancreatite alcoólica, doenças cardíacas (miocardiopatia alcoólica e demência alcoólica)”.

Grupos de autoajuda, como Alcoólicos nônimos (AA) e Narcóticos Anônimos (NA) são sempre bem-vindos. “O tratamento para um dependente alcoólico varia de paciente para paciente, mas a abstinência é um dos fatores mais importantes”, ressalta Arthur Guerra. O especialista informa que um dependente consegue, numa primeira fase, ficar até 90 dias sem ingerir bebidas, mas, se recair, “a probabilidade é que esse prazo se prorrogue para um ano”. Homens com menor grau de escolaridade, renda baixa ou média baixa e desempregados apresentaram riscos ainda mais altos de desenvolver transtornos relacionados ao uso do álcool.

SERVIÇO
Centro de Referência de Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod)
De segunda a sexta-feira, das 7 às 19 horas
Rua Prates, 165 – Bom Retiro – próximo ao Metrô Tiradentes
Telefone (11) 3329-4455

Da Agência Imprensa Oficial