Falsos magros

Estudo desenvolvido por pesquisadora da USP de Ribeirão Preto leva a uma fórmula inédita para a identii cação da obesidade

ter, 28/08/2012 - 10h38 | Do Portal do Governo

A preocupação com as mudanças ocorridas nos padrões nutricionais em mais de 150 anos motivou pesquisadores da USP de Ribeirão Preto a estudar novos parâmetros para o Índice de Massa Corporal, o chamado IMC.

A nutricionista Mirele Savagnago Mialich, de 26 anos, acaba de divulgar, em sua tese de douto rado, os resultados obtidos a partir de uma proposta de cálculo iné dita no Brasil, que leva em consideração o porcentual de gordura do indivíduo. “A intenção é que possa identificar os falsos magros, ou seja, aquelas pessoas que possuem uma boa proporção entre altura e peso, mas
muita gordura na composição,” esclarece Mirele.

Com a fórmula, em que o peso é multiplicado por três e somado a 4 vezes a porcentagem de massa gorda antes de ser dividido pela estatura (em cm). Os indicadores são de 1,35 a 1,65 para o risco de desnutrição; de 1,65 a 2,0 para normalidade; e acima de 2,0 para obesidade.

O IMC tradicional foi criado em 1835, pelo belga Lambert Adolphe Jacques Quételet, e adotado pela Organização Mun dial de Saúde (OMS) em 1987 como referência para a identificação da obesidade no mundo. Seus limites são de 18,5 kg/m2 para desnutrição, e 30 kg/m2 para obesidade.

A pesquisadora ressalta que, no século 19, o padrão nutricional e epidemiológico era muito diverso do de hoje, quando mais de 50% da população mundial apresenta excesso de peso. E que o estudo não representa uma crítica ao índice tradicional, mas uma alternativa de adequação, que busca ampliar a captação de pessoas em risco de desenvolver doenças decorrentes do acúmulo de gordura, como hipertensão e diabetes. “Isso é importante para o trabalho de prevenção”, alerta.

Segundo Mirele, os extremos são facilmente identificáveis pela fórmula tradicional, porém os estágios intermediários, não. “Os casos que ficam de fora são os de pessoas com medidas equilibradas, mas com uma taxa de gordura muito alta (falsos magros), e as que apresentam excesso de peso apenas por causa de uma musculatura muito desenvolvida (falsos gordos)”, explica.

Para facilitar a utilização do novo índice, a nutricionista seguiu o modelo de cálculo do IMC tradicional, por já estar bastante disseminado. “Eu apenas o adaptei para incluir o valor da massa gorda”, informa. O único inconveniente para a sua aplicação, salienta, é a necessidade de a pessoa descobrir a porcentagem de gordura de seu peso, o que pode ser feito por meio de exames de precisão com aparelhos, como o de bioimpedância, ou por medição, a exemplo do que ocorre nas academias com o adipômetro.

A pesquisa de alternativas ao índice da OMS se insere numa tendência mundial, que abrange a busca de parâmetros que levam em conta características específicas, como faixa etária, sexo e etnia. Exemplo disso, de acordo com a nutricionista, é a adoção, pelos asiáticos, de um índice diretamente vinculado ao biotipo dessa população.

Os EUA também são referência na área e lançaram recentemente um índice de adiposidade corporal, que leva em conta a circunferência abdominal nos cálculos. No Brasil, a proposta de Mirele é única e, segundo ela, pode ser aprimorada com a criação de faixas para vários grupos representativos da população.

População ampliada

A pesquisadora se debruça sobre o assunto desde o mestrado, sob orientação do professor Alceu Afonso Jordão Junior, no departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. Na primeira fase, realizou o levantamento responsável pelo primeiro ajuste no IMC, cujos valores de corte, da normalidade para a obesidade, ficaram estipulados em 28,38 kg/m² para homens, e 25,24 kg/m² para mulheres. O trabalho foi feito a partir de uma amostra de 200 pessoas de uma mesma região. A etapa foi dedicada à criação da fórmula que considera a porcentagem de gordura.

O passo seguinte, no doutorado, foi a aplicação da fórmula, e abrangeu testes com um grupo de 501 jovens universitários para a definição das faixas de referência. Para o pós-doutorado, os planos são de ampliar a população em estudo. “Pretendemos dar sequência imediata com amostras mais gerais da população brasileira”, revela a nutricionista.

Da Agência Imprensa Oficial