Saúde: Projeto auxilia na recuperação de pacientes infantis do HU da USP

Voluntários da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas dedicam-se a contar histórias, brincar e conversar com as crianças

qua, 02/08/2006 - 12h53 | Do Portal do Governo

Os pacientes infantis do Hospital Universitário (HU) da USP ganharam grandes aliados. São os alunos voluntários da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), que dedicam algumas horas do seu dia para brincar, contar histórias, conversar e divertir as crianças internadas. A ação dos voluntários acontece na brinquedoteca do hospital e na área ambulatorial, onde as crianças ficam esperando o atendimento médico. São seis horas semanais, entre segunda e quinta-feira, no período da manhã ou da tarde. Cada voluntário dedica no mínimo duas horas por dia à tarefa.

O Projeto de Integração Social é uma ação-piloto que teve início em abril, com 25 voluntários. Coordenado por Maria Vicentina de Paula do Amaral Dick, professora da FFLCH, foi planejado em três fases: A primeira tem a finalidade de acompanhar crianças e adolescentes entre 2 e 15 anos, ajudando-os com reforço escolar, de modo a compensar a ausência às aulas do ensino fundamental e médio.

Dessa forma, os estagiários estabelecem ligação entre as crianças e a sala de aula, quando elas se encontram impossibilitadas de freqüentá-la. Os pacientes pequenos podem participar de atividades com contadores de histórias. “Apresentamos não apenas os contos infantis tradicionais, já conhecidos, mas os mitos brasileiros e os contos de origem indígena e africana”, ressalta Maria Vicentina.

A segunda etapa organizou uma caixa-estante com os livros e revistas infanto-juvenis doados durante a Semana de Recepção aos Calouros da FFLCH, no início do ano letivo. A partir dessa minibiblioteca, uma das ações será promover o acesso à leitura tanto para os pacientes internos como para a população externa.

A última fase será a realização de uma feira de estudantes, neste semestre, com a participação de empresas que concedem estágios para os alunos de graduação da FFLCH – algo em torno de 530 instituições. “É um evento para discutir a participação dos estudantes em atividades práticas de estágio”, explica a professora.

Carinho e atenção – os benéficos efeitos da iniciativa já se fazem sentir. Daniela Ribeiro Linhares, técnica de apoio educativo da brinquedoteca, destaca que o aumento de pessoas trabalhando com as crianças as ajuda muito em sua recuperação. Elas passam a receber mais atenção e isso estimula a melhoria do seu relacionamento interpessoal, para que passem a conversar mais e, principalmente, saiam do leito. “Elas se sentem acalentadas e esse carinho e atenção é uma força grande para que seu quadro clínico melhore”, avalia.

Emoção 

Celso Tadeu Borzani, aluno do terceiro ano do curso de Geografia da FFLCH, é um dos estagiários e concorda com Daniela. O universitário relata a experiência vivenciada com Ingrid, que completou um ano na UTI do hospital e estava desenganada pelos médicos. “Comecei a visitá-la, conversava com ela, fazia massagem em seus pezinhos, lia livros. Certo dia, chego para vê-la e ela tinha ido para o quarto. Estava toda alegre na cama. Fiquei emocionado e percebi o quanto podemos fazer com pequenos atos de doação”, emociona-se o estudante.

Borzani conta também que conheceu a menina Joyce, de 12 anos, sempre de cara brava. Nunca queria conversar e não saía da cama, mesmo podendo: “Eu tentava bater-papo, até que um dia ela veio conversar e até chorou. Sugeri que fôssemos à brinquedoteca, mostrei as coisas que podiam ser feitas lá. Na hora de ir embora, disse que ficaria magoado de vê-la na cama quando voltasse para o hospital. Quando retornei, lá estava ela toda faceira na brinquedoteca, se divertindo e partilhando brincadeiras com os outros pacientes. Para mim, foi uma grande satisfação e uma realização pessoal. Pensei: estou ajudando alguém, que bom”.

“Sempre gostei de crianças”, reflete Julio César Bazanini, do segundo ano de História. O envolvimento do aluno com as crianças foi intenso, principalmente com os meninos, que sentem muito a falta da figura masculina do pai ou de um irmão. Os garotos se identificaram com ele e vice-versa. Profissionalmente, Bazanini acha importantes experiências práticas como essas, porque têm muito a ver com educação em espaços informais, que podem ser transferidas para a sala de aula.

Para a assistente social do HU Maria Bernadete Tanganelli Piotto, a experiência vai além do atendimento às crianças. Segundo ela, mostra o funcionamento de um hospital para os alunos de graduação e permite a realização de atividades socioeducativas fora do ambiente escolar. “O HU é um hospital de ensino e pesquisa e queremos que mais unidades da USP se aproximem e nos ajudem a realizar essa missão da melhor forma possível”, explica.

Atividade continua 

A experiência-piloto terminou no primeiro semestre e teve excelente avaliação. O grupo foi elogiado pelos médicos, pedagogos e pais dos internos. “É importante para o aluno da FFLCH entender que tem um potencial muito grande e que provou capacidade ao trabalhar com um público-alvo com o qual não estava acostumado a interagir”, ressalta Maria Vicentina.

Neste semestre, o projeto continua em atividade, e terá recursos da Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária para suprir as necessidades imediatas, como a manutenção de uma estagiária fixa e a aquisição de materiais de consumo necessários para a prática escolar e de jogos adequados às idades dos pacientes atendidos.

Izabel Leão

Do Jornal da USP