Saúde: Medição da dor como quinto sinal vital torna-se rotina no Hospital das Clínicas

Intensidade será avaliada junto com pulsação, freqüência respiratória, pressão e temperatura

sex, 23/06/2006 - 15h36 | Do Portal do Governo

O controle da dor merece, há anos, atenção especial dos profissionais do maior complexo de saúde da América Latina, o Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP. Agora, de forma sistematizada, ela foi incorporada como o quinto sinal vital, sendo medida junto com a pressão, a temperatura, o pulso e a freqüência respiratória no pós-operatório. O controle é feito de duas em duas horas, nos casos mais graves, e de quatro em quatro horas, nos menos complicados.

A questão levou à produção de um manual com mais de 70 páginas e tiragem de mil exemplares, lançado recentemente, e treinamento de 1,7 mil enfermeiros e auxiliares de enfermagem, das 28 especialidades médicas do hospital, em apenas uma semana. A publicação, a ser utilizada pelos profissionais do HC, foi distribuída também aos médicos dos Ambulatórios Especializados da Secretaria de Saúde. O objetivo, explica o diretor-executivo do Instituto Central (IC) do HC, Waldemir Rezende, é disseminar essa prática. “Muitos médicos desses ambulatórios são cirurgiões e podem levar o procedimento para seus hospitais e clínicas”, avalia.

Bem-estar do paciente, internações mais curtas, custo reduzido. Essas são as vantagens do controle da dor, explica Irimar de Paula Posso, professor da disciplina de Anestesiologia e supervisor da equipe de Controle da Dor da Divisão de Anestesia do HC. “Ela custa muito caro, atrapalha a recuperação da pessoa e deve ser tratada tanto como a doença.”Para o professor, que comandou de perto o treinamento do pessoal da enfermagem e a organização do manual, a finalidade inicial é conscientizar médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e terapeutas, além, é claro, de tornar mais humano o tratamento: “Há casos de pessoas com estresse traumático porque sentiram muita dor depois da cirurgia e hoje não querem nem passar perto de hospitais. O paciente tem de fazer outro tratamento, para superar essa síndrome”.

De zero a 10 – Na medição, utiliza-se tabela internacional, em que a dor é classificada de zero a 10. Segundo a coordenadora do Treinamento da Enfermagem, Solange Regina Fusco, “trata-se de uma tabelinha parecida com uma régua, na qual há dez rostinhos, numerados de zero a 10, com expressões que vão da alegria ao choro”. O enfermeiro anota a gradação da dor do enfermo. Quanto maior o número na escala, mais intensa.Se ele não se queixar, o profissional não fará registro nas mudanças clínicas. Nesse caso, o grau é zero. Outra situação: de 1 a 3, significa que a dor é suportável, não havendo alteração no tratamento, que pode ser à base de analgésico comum – dipirona, paracetamol e ácido acetilsalicílico. De 4 a 6, indica que é intensa, aumento da freqüência cardíaca, da pressão e agitação, com tratamento de analgésicos comuns (derivados do ópio) leves, entre os quais codeína e dramadol. Quando o doentegeme e chora, alegando dor insuportável, a tabela registra de 7 a 10. Há elevação da freqüência cardíaca e da pressão, muito suor, podendo ser ministrados analgésicos comuns e morfina.

Saindo na frente – O professor Irimar lembra que a escala de zero a 10 existe pelo menos há 30 anos. Usada principalmente em estudos clínicos, tornou-se, de alguns anos para cá, referência também na avaliação clínica. No Brasil, alguns hospitais privados – Oswaldo Cruz, Albert Einstein e 9 de Julho – usam a dor como quinto sinal vital desde 1997, 1999, e 2003, respectivamente.“Como hospital público, o HC está saindo na frente. A maneira como está sendo feito o treinamento das pessoas é inédito. As 15da área de enfermagem serão, a partir de agora, multiplicadoras do aprendizado, treinando auxiliares de enfermagem e enfermeiros. O tratamento da dor está incorporado à rotina das Clínicas e será de grande valia. Aqui são realizadas mais de 2,3 mil cirurgias por mês. No ano passado foram 21 mil pós-operatórios. Nossa equipe tem de estar afinada para garantir a redução da dor, com a conseqüente humanização do atendimento”, afirma.

Maria das Graças Leocadio – Da Agência Imprensa Oficial