Estudos realizados pela Clínica Obstétrica do Instituto Central do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP, revelam que mais da metade das adolescentes grávidas podem estar infectadas com o HPV – papilomavirus humano de alto risco. O HPV estudado é o principal causador do câncer do colo do útero. É o segundo tipo de câncer que mais mata mulheres no Brasil.
A pesquisa envolveu 60 gestantes, entre 12 e 18 anos, acompanhadas no pré-natal no Hospital das Clínicas. Para surpresa dos pesquisadores, 51,7% das adolescentes foram diagnosticadas com o vírus, explica o ginecologista e obstetra Waldemir Rezende, também diretor executivo do Instituto Central do HC.
O papilomavirus humano foi denunciado pelo exame de captura hibrida II – o que determina as seqüências do DNA viral. O teste de hibridização molecular é capaz de mostrar, com exatidão, até pequenas quantidades do vírus, permitindo identificar aqueles relacionados com lesões pré-cancerígenas, as quais, se não tratadas, podem evoluir para o câncer entre três e dez anos de ação persistente no organismo.
Os exames convencionais não detectaram o problema. O Papanicoloau e a colposcopia, por exemplo, são exames que diagnosticam o câncer ou lesão precursora quando a doença já se manifesta no organismo.
Inédito
É a primeira vez que o HPV de alto risco é investigado em adolescentes grávidas, comparando-se com os demais métodos (Papanicoloau, Colposcopia) habituais. Os especialistas atribuem o alto índice de infecção ao início precoce da atividade sexual, sem os devidos cuidados e com um maior número de parceiros. O sistema imunológico das adolescentes também não está preparado para combater o vírus, em função da pouca idade.
Diante deste quadro, o Instituto Central do Hospital das Clínicas deverá inserir o teste de DNA-HPV na prática assistencial, integrando-o aos exames citológicos e colposcópico, de modo a oferecer a melhor medicina para a mulher carente, identificando aquelas de maior risco para seguimento e tratamento precoce.
Além disso, na ausência do vírus, a periodicidade do Papanicoloau poderá ser mais espaçada, abrindo vagas para maior número de pacientes a serem submetidas ao controle de rotina. O exame poderá ser realizado a cada dois ou três anos, principalmente em pacientes com parceiro fixo, não fumante, sem doenças imunológicas ou de uso de drogas imunossupressoras.
O diagnóstico precoce do HPV em grávidas pode indicar cuidados adicionais, como evitar a transmissão de uma mãe infectada para seu bebê recém-nascido, além de possibilitar o tratamento antecipado das doenças, alertando-se o pediatra e o otorrinolaringologista.
Outra vantagem do exame de detecção do DNA-HPV é que ele pode ser realizado em qualquer fase da gravidez. Segundo ainda estudos, o rastreamento e diagnóstico de infecção genital pelo HPV nas gestantes jovens poderão contribuir para a indicação formal de vacina em idade precoce, similar à indicação de vacina para hepatite B ou quimioprofilaxia do recém-nascido de mães HIV positivo.
Exames
As adolescentes foram submetidas aos exames citológicos convencional e em base líquida e DNA-HPV. No citológico convencional, o esfregaço colpocitológico foi obtido através da coleta de material com o auxílio de uma escova. Em seguida, a escova de coleta foi raspada sobre uma lâmina de vidro, fixado em álcool absoluto, produzindo um esfregaço tradicional.
O restante do material coletado foi imerso num tubinho com líquido preservador ( preserva a morfologia, o DNA, o RNA e as proteínas). Uma parte deste material foi destinada para o exame de citologia em base líquida e a outra parte do líquido foi utilizada para pesquisa do DNA-HPV.
Para classificar o resultado da captura híbrida II e quantificar a carga viral, utilizou-se a razão entre a unidade de quimiluminescência medida, URL e a média dos calibradores positivos, cut off, que tem uma variação e é definido conforme controle do dia. As amostras com emissão de luz maior ou igual ao ponto de corte foram consideradas positivas e aquelas com emissão de luz menor foram consideradas negativas. Neste estudo foram utilizadas sondas contendo DNA-HPV dos tipos 16, 18, 31, 33, 35, 39, 45, 51, 52, 56, 58, 59 e 68, considerados de alto risco oncogênico.
HPV
Existem mais de cem tipos de HPV. Alguns são transmitidos pelo ar e causam problemas de verrugas. Outros são transmitidos pelo ato sexual. Dentre os que infectam, a enorme maioria é temporária. Muita gente nem fica sabendo que tem o vírus, pois ele não se manifesta e acaba sendo eliminado pelo organismo, sem a necessidade de qualquer tratamento.
Agora tem espécies de HPV que são considerados de alto risco. São os de tipagem 16, 18, 31, 33 e outros menos freqüentes. Eles provocam sangramento e crescimentos de verrugas na região vaginal. Se não diagnosticado e tratado pode evoluir para câncer de colo do útero. Neste caso, a cirurgia ou radioterapia são opções para cura da doença.
Assessoria de Imprensa
Instituto Central do Hospital das Clínicas
Bete Subires