Saúde: Cirurgia aumenta expectativa de vida de quem tem insuficiência cardíaca

Com cirurgia paciente pode ter sua expectativa de vida ampliada em até cinco anos

sáb, 19/08/2006 - 14h09 | Do Portal do Governo

Quem sofre de insuficiência cardíaca e precisa de um novo coração pode ganhar mais alguns anos de vida para enfrentar a longa fila de espera por transplantes. Pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP desenvolveram nova técnica cirúrgica para aumentar a expectativa de vida de pessoas que têm o coração enfraquecido por conta da miocardiopatia dilatada.

Essa doença faz inchar uma parte do coração e, em estágio avançado, compromete as funções da valva mitral, que fica no lado esquerdo do órgão e orienta o sangue até a aorta (artéria que leva o sangue do coração para o corpo). No novo método, uma prótese substitui a valva doente e o remodelamento da geometria do coração faz com que o órgão retome seu formato original. Com a cirurgia, o paciente pode ter sua expectativa de vida ampliada em até cinco anos.

O cirurgião cardiovascular Fábio Antonio Gaiotto participou da criação da técnica, idealizada pelo professor Luiz Boro Puig. Em seu doutorado, Gaiotto analisou 20 pacientes, com idade entre 27 e 72 anos, na sua maioria homens, portadores de miocardiopatia dilatada em estágio avançado. “O ventrículo esquerdo (parte inferior esquerda do coração), cujo formato original é de cone, fica arredondado por conta do inchaço”, explica o pesquisador. “Aparece também a insuficiência mitral, pois a dilatação atinge os músculos que regulam o funcionamento da valva.”

O anel da valva mitral aumenta de tamanho e passa a não funcionar corretamente. Uma parte do sangue acaba voltando para os pulmões, em vez de seguir pela aorta. “Essa disfunção é a causadora dos principais sintomas da doença: falta de ar, cansaço e comprometimento das atividades do dia-a-dia”, afirma.Prótese e remodelamento – No novo procedimento cirúrgico, a valva mitral doente é substituída por uma prótese rígida e resistente, feita com o pericárdio do boi, uma membrana cardíaca espessa. É feito também o remodelamento da geometria do coração: quatro conjuntos de cordas relacionados aos músculos papilares são tracionados e fixados na prótese. “Elas são esticadas até o ponto máximo para promover o retorno do formato original do coração”, diz o cirurgião. Esses procedimentos impedem a evolução do inchaço e melhoram o funcionamento do órgão, amenizando a insuficiência cardíaca.

Nos cinco anos em que acompanhou os pacientes, Gaiotto constatou que a melhora dos doentes e o remodelamento do coração aconteceram em, no máximo, três meses, sem haver retorno do inchaço. “Com a cirurgia, a expectativa de vida para os operados é, em 60% dos casos, de dois anos, e, em 40%, três ou cinco anos”, revela o cirurgião. Gaiotto afirma que não existem restrições para o tratamento e que o risco de morte até o primeiro mês do pós-operatório é de 10%. A técnica vem sendo utilizada por hospitais em diversos pontos do País.

O cirurgião lembra que há também outros tratamentos cirúrgicos alternativos que buscam melhorar a qualidade de vida e aumentar o tempo de sobrevida dos doentes. “Entretanto, em outros estudos, os casos eram de menor gravidade. Dos 20 pacientes que participaram desta pesquisa, 16 tinham insuficiência cardíaca em estado terminal. Esperamos poder aplicar essa técnica nos casos em que a doença esteja em estágio inicial. A expectativa é que os resultados sejam ainda melhores.” 

Brasil tem mais de 2 milhões de portadores

A insuficiência cardíaca é uma síndrome clínica freqüente e grave, que mata 10% de seus portadores ao ano. Segundo o Ministério da Saúde, existem no Brasil mais de 2 milhões de portadores de insuficiência cardíaca e registram-se 250 mil novos casos por ano. O número de internações para o tratamento clínico da enfermidade é de aproximadamente 80 mil por ano.

Segundo o dr. Fábio Gaiotto, não se conhecem as causas dessa doença, que pode comprometer homens e mulheres de todas as idades. Não há cura. “O tratamento costuma ser feito com drogas que controlam seu avanço, porém a probabilidade é de que, mesmo com os medicamentos, o paciente morra em um ou dois anos, caso o coração doente não seja trocado”, diz.

Da Agência USP de Notícias