Saúde: Centrinho de Bauru utiliza unidade móvel para realizar exames gratuitos de audição

Última triagem realizada, em um único dia, com 122 pessoas, com idades entre 4 e 79 anos, constatou que apenas 28% não tiveram perda auditiva

seg, 08/01/2007 - 10h05 | Do Portal do Governo

Você ouve bem? A pergunta, destacada em grandes letras brancas em um cartaz vermelho, chama a atenção das pessoas que passam pela Unidade Móvel de Avaliação Audiológica do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais da USP, o popular Centrinho de Bauru. Alguns apenas observam e seguem. Outros, interessados na possibilidade de atendimento gratuito, param e pedem informações.

A unidade móvel do Centrinho – um trailer com estrutura completa para a realização de exames de meatoscopia, triagem audiométrica e imitanciométrica – tem sua importância resumida a uma palavra: prevenção. O objetivo? Detectar possíveis falhas na audição e encaminhar as pessoas ao tratamento adequado.

“Muitas pessoas sabem que têm déficit auditivo, alguns até mesmo detectaram a perda, mas por dificuldades financeiras, principalmente, não realizam as avaliações”, explica a fonoaudióloga Regina Célia Bortoleto Amantini, que atua no Centro de Pesquisas Audiológicas (CPA) do Centrinho. Segundo a especialista, é comum a equipe ouvir, durante a triagem, queixas de pessoas que evitam o convívio social por apresentarem dificuldades de entender as conversas. “Relatam dificuldade de compreensão, principalmente em situação de ruído, o que caracteriza a perda auditiva nas freqüências agudas”, esclarece.

A ação da unidade móvel costuma mobilizar a equipe de fonoaudiólogas do Centrinho – do CPA e do Centro de Atendimento aos Distúrbios da Audição, Linguagem e Visão (Cedalvi). A unidade conta também com o apoio da Fundação para o Estudo e Tratamento das Deformidades Craniofaciais (Funcraf), entidade sem fins lucrativos que oferece suporte aos serviços do hospital.

Araraquara

No ano passado, o trailer ficou nove dias estacionado em um ponto estratégico da Feira Agrocomercial e Industrial da Região de Araraquara (Facira), evento que reúne cerca de 200 mil pessoas. Durante esse período, equipe formada por fonoaudiólogas e profissionais de outras áreas do hospital, que atuavam no agendamento das triagens, deslocava-se diariamente cerca de 140 quilômetros para os atendimentos. Para essas profissionais, sair da rotina de trabalho não representa um problema. “É gratificante poder orientar as pessoas e vê-las saindo satisfeitas”, comenta a auxiliar-administrativa Cláudia Cristina de Oliveira Souza, que trabalha na central de agendamento do hospital.

Os números revelam a dimensão e o sucesso da atividade. Em Araraquara, foram realizadas 486 triagens auditivas. Desse total, 46 casos apresentaram alteração no ouvido externo (como a chamada “rolha de cera”), impossibilitando a realização da triagem. “Os casos receberam encaminhamento direto para remoção da cera”, explica Regina.

Esse foi o diagnóstico do profissional de serviços gerais José Bento Gomes da Silva, 53 anos. Convivendo em sua atividade profissional com pó e ruídos de motores, ele inicialmente resistiu a fazer a triagem. Depois, convencido pelos filhos, foi atendido pelas fonoaudiólogas e apresentou a “rolha de cera”. “Foi importante passar pelo trailer, agora vou procurar fazer a limpeza”, justifica.

Outros 102 casos, em razão de falha na triagem audiométrica, foram encaminhados para avaliação otológica e audiológica com finalidade de diagnóstico. Foi o caso do comerciante Joel Cardoso dos Santos, 43 anos, que nunca havia procurado tratamento. Desconfiado de que apresentaria falha na audição, fez questão de aguardar na fila seu nome ser chamado para a triagem. “Tenho telefone celular, mas não uso porque não escuto”, justifica. O motivo de sua queixa foi confirmado. Ao apresentar falha na triagem, foi encaminhado ao Centro de Saúde Auditiva de Araraquara, unidade ligada ao Sistema Único de Saúde (SUS), parceira do Centrinho na atividade.

Outros números que chamam a atenção referem-se à última triagem realizada pela equipe de fonoaudiólogas do Centrinho em Bauru, em parceria com o Serviço Social da Indústria (Sesi). De um grupo de 122 pessoas, com idades entre 4 e 79 anos, atendidas em um único dia, apenas 28% passaram pela triagem sem apresentar perda auditiva, relata a fonoaudióloga Adriana Sampaio de Almeida Meyer, do Cedalvi. Entre os casos diagnosticados com falha, 19,5% apresentaram a “rolha de cera”.

É por estatísticas assim que o trailer segue sua trajetória. “Assim como pacientes de todo o País vêm para o Centrinho, esperamos que as pessoas, principalmente as que estão mais próximas, tenham conhecimento do nosso trabalho e sigam em busca de tratamento”, diz a fonoaudióloga Regina Bortoleto.

Como grande parte dos meninos da sua idade, Natan da Rocha Brito, 7 anos, costuma assistir a televisão e jogar videogame em pé, próximo à tela. “Desconfiei que ele poderia ter algum problema de audição ou visão”, conta a mãe Alessandra da Rocha Brito, 31 anos. Natan, no entanto, passou pela triagem da unidade móvel em Araraquara sem apresentar falha.

Etapas

A triagem realizada pela equipe do Centrinho na Unidade Móvel tem três etapas. Inicialmente, as fonoaudiólogas fazem a meatoscopia, em que é verificado se há algum tipo de alteração no chamado ouvido externo. Nessa fase, as profissionais avaliam se é possível a realização da triagem auditiva completa. Alguns casos são impossibilitados pela presença da “rolha de cera”.

Na segunda etapa ocorre a triagem imitanciométrica. Trata-se de breve avaliação relacionada ao ouvido médio. Pacientes que apresentam alterações também são encaminhados para avaliação com profissionais da área de otorrinolaringologia.

Na terceira e última etapa do atendimento, as fonoaudiólogas fazem a triagem audiométrica. Com a ajuda de um audiômetro, são emitidos sons por meio de um fone, em uma sala com isolamento acústico, apresentando estímulos sonoros em cinco diferentes freqüências sonoras. Os indivíduos que apresentam limiares acima de 20 decibéis são encaminhados para avaliação otorrinolaringológica, audiológica, seguindo a conduta adequada.

Do Jornal da USP

J.C.