Saúde: Casa do Adolescente ajuda a reduzir os casos de gravidez em menores de 20 anos

Jovens recebem atendimento médico, orientação sexual e participam de oficinas culturais e terapias de grupo

qua, 30/08/2006 - 15h13 | Do Portal do Governo

Um porto seguro, assim se pode definir a Casa do Adolescente para o seu público alvo. Lá, jovens de ambos os sexos de 10 a 19 anos têm atendimento médico, odontológico, psicológico e ainda participam de oficinas culturais e terapias de grupo. Mas o que parece realmente atrair os adolescentes é que ali encontram espaço para expor seus medos, suas dúvidas, seus anseios, sem ouvir censura ou crítica. O respeito com que são recebidos se traduz na confiança que passam a depositar nos profissionais com os quais se consultam.

O resultado desse trabalho se reflete em números: o índice de adolescentes grávidas que freqüentam a Casa é de 5%, enquanto a média nacional chega a 26%. “A Casa é espaço de acolhimento para os adolescentes, em que suas identidades são respeitadas antes e acima de tudo”, afirma a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente da Secretaria da Saúde.

A iniciativa reduziu progressivamente os casos de gravidez na adolescência no Estado. Em 1998, foram 148 mil, ante 105 mil em 2005, que significa diminuição de 29% no período.

Auto-estima

O programa foi criado em 1986 e, em 1991, premiado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Três anos depois, a secretaria inaugurou, nos fundos de um posto de saúde do bairro de Pinheiros, na capital, a primeira Casa do Adolescente, como parte da ação. O objetivo era não só prestar atendimento médico aos jovens, mas também fornecer-lhes orientação sobre sexualidade, gravidez precoce e anticoncepção, além de atendê-los em seus aspectos físicos, psicológicos e sociais.

No ano passado, a Secretaria da Saúde firmou parceria com a Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social e ampliou o projeto. Atualmente, são 12 Casas do Adolescente na capital e Grande São Paulo. “Estão instaladas em lugares mais vulneráveis, onde há mais casos de gravidez na adolescência”, esclarece Albertina. Há ainda outros 112 locais de acolhimento de jovens, que funcionam nos mesmos moldes das Casas do Adolescente instalados nas regiões mais populosas do Estado. Resultam de parcerias com prefeituras e organizações não-governamentais. Além disso, a secretaria capacitou profissionais de 90% dos municípios paulistas para trabalhar com esse público.

Em 1995, uma pesquisa apurou que gravidez precoce não ocorre por falta de informação. “Os jovens sabem se prevenir, mas não usam os métodos. O que, na verdade, determina a vulnerabilidade são insegurança, auto-estima prejudicada (principalmente das meninas) e falta de projeto de vida. Percebemos que as garotas recusavam-se a usar camisinha com medo de serem rejeitadas”, conta a ginecologista.

A Casa do Adolescente começou então a trabalhar a auto-estima das jovens. Lançou mão de recursos como aulas de dança, para lidar com a sensualidade, e a Oficina do Sentimento, em que meninos e meninas sentam-se em grupo e debatem as emoções relacionadas a situações comuns do dia-a-dia, como o ciúme ou sentimento que implica o uso ou não de camisinha.

Outras atividades realizadas são oficinas de nutrição e artesanato, e os grupos Jogos Dramáticos (teatro), Corpo Legal (que trabalha as questões de peso), de reeducação postural, de Gestante, de Mães Adolescentes, além de aulas de inglês, dança, música e canto. Todas as atividades, mesmo as que não parecem estar diretamente ligadas às dúvidas e conflitos sobre a saúde e sexualidade, procuram trazer à tona estas discussões.

Rotina agitada

A animação que se observa na Casa do Adolescente é reflexo da efervescência típica dos jovens. A unidade de Pinheiros atende a 150 adolescentes por dia, e recebe 150 novas matrículas por mês. Para que não fiquem parados enquanto aguardam a consulta, são convidados a participar das oficinas de nutrição e a de miçangas. Os jovens, em sua maioria meninas, devem optar por uma delas.

Assim que se decidem, passam a ouvir as orientações dos voluntários, responsáveis pelas oficinas. As estudantes de nutrição ensinam, por exemplo, a preparar uma salada de alface, cenoura e abacaxi e um suco das cascas da fruta com tomates. O outro grupo aprende com a arte-educadora a medir o tamanho do fio de náilon para fazer uma pulseira. Adereço que levam consigo no final da aula.

Aniele Teixeira Soares, 18 anos, começou a freqüentar a Casa do Adolescente há mais de três anos, e optou pelo grupo da nutrição. A visita inicial foi para passar pela primeira vez no ginecologista. Depois, consultou-se em outras especialidades e tornou-se freqüentadora assídua das oficinas do sentimento. “Antes de começar a trabalhar vinha aqui toda semana”, conta ela, que trouxe o namorado em algumas ocasiões. “Aqui conseguimos conversar coisas que eram difíceis de falar lá fora”, lembra Aniele, depois de oferecer a salada para todos os presentes na sala. “Vou levar a receita para casa. Ficou muito boa”. Ao término das duas atividades começaram outras duas, também simultâneas: as aulas de dança do ventre e a oficina do sentimento, uma das mais concorridas.

Casos de gravidez na adolescência em São Paulo

Ano            Número de casos

1998            148.019

1999            144.362

2000            136.042

2001            123.714

2002            116.368

2003            108.945

2004            106.737

2005            105.003

SERVIÇO

Casa do Adolescente

Rua Ferreira de Araújo, 789 – Pinheiros – São Paulo

Disk-Adolescente pelo telefone (11) 3819-2022

Jovens podem pedir ajuda a profissionais da casa

e tirar dúvidas sobre sexualidade

Serviço funciona de segunda a sexta-feira, das 11 às 14 horas

A identidade do jovem não precisa ser revelada

Nesse telefone é possível também obter o endereço das outras

Casas do Adolescente

Sirlaine Aiala – Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)