São Paulo: um estado de leitores zera municípios paulistas sem biblioteca

O projeto instalou 84 bibliotecas no Estado e 200 salas de leitura na capital

qui, 14/06/2007 - 9h45 | Do Portal do Governo

Quatro anos depois de sua criação, o programa São Paulo: um estado de leitores é destaque por ter alcançado sua principal meta: zerar o número de municípios sem biblioteca – ao todo 84 no Estado. Resultado de esforço conjunto da Secretaria de Cultura com a prefeitura dos municípios e a iniciativa privada, o programa foi além, ao abrir, nesse período, 200 salas de leitura na capital, instaladas em hospitais, conjuntos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), penitenciárias, sede de escolas de samba, associações de bairro, e promover a revitalização de bibliotecas, com computadores desativados. Some-se a essas iniciativas a parceria com o Instituto Brasil Leitor (IBL) que permitiu, ainda, a instalação de espaços de leitura em locais de grande circulação, como as estações Paraíso e Tatuapé, do metrô.

O programa de incentivo à leitura, agora, está com nova sede que, segundo o coordenador José Luiz Goldfarb, “será de fundamental importância para deixar ainda melhor o funcionamento do projeto, oferecendo mais qualidade à organização desse trabalho. Com o novo espaço, teremos mais infra-estrutura para dar continuidade ao incentivo à leitura junto às comunidades”.

Leve e agradável – Com base no princípio de que a leitura é uma forma de construir conhecimento, o programa já doou, por meio das parcerias, mais de 500 mil livros desde que foi criado. Só para se ter idéia, em 2006 mais de 331 mil exemplares foram cedidos às bibliotecas e salas de leitura, segundo Eduardo Silvério de Oliveira, responsável pelo setor de distribuição de livros.

Ele explica que existem diversas etapas nesse processo. A primeira é conseguir a doação junto às editoras. Uma vez recebidas, as publicações passam por triagem na sede – são separadas por assunto e agrupadas em kits, atendendo às necessidades da biblioteca ou da sala de leitura. No caso da biblioteca, a seleção inclui literatura infanto-juvenil, clássicos da literatura universal, auto-ajuda, obras técnicas e dicionários periódicos. Havendo interesse, são adicionadas coleções didáticas. Enquanto que nas salas de leitura, a seleção varia de acordo com o público atendido. “Temos espaços de leitura nas penitenciárias e hospitais. É importante levar em consideração o momento que o leitor vive, de preferência fazer chegar até ele literatura leve e agradável.”

Sede de cultura – A parceria com prefeitura e empresas é muito produtiva, de acordo com organizadores da iniciativa. Por meio dela, é possível conseguir o espaço físico, capacitação dos voluntários e promotores de leitura, cursos. O público-alvo inclui crianças e jovens de diferentes contextos. É o que ocorre em Engenheiro Coelho, cidade de16 mil habitantes, na região de Campinas. Lá foi dado o pontapé inicial do programa, em  2003. A biblioteca, com acervo de 4,6 mil títulos, é freqüentada por jovens, senhoras, cortadores de cana e apanhadores de laranja, a maioria estudantes da Escola de Jovens e Adultos. Por lá circulam diariamente entre 100 e 160 usuários. “São pessoas carentes, com sede de cultura”, diz a bibliotecária Vera Menino Rigo, formada na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. “Já havia trabalhado em outras bibliotecas, mas nunca com esse perfil de leitores, o que chega a comover”.

Ler é uma viagem – Em São Paulo, bem longe do centro da cidade, no Conjunto Habitacional Brasilândia (Parada de Taipas), a iniciativa também atrai moradores de todas as idades. O conjunto da CDHU impressiona pelo tamanho: são 3.068 unidades que abrigam de 12 a 15 mil habitantes. A sala de leitura, batizada de Ler é uma viagem, funciona na Rua Vale do Sol e recebe cerca de 500 usuários por semana. Bem organizada, está sob o comando da voluntária Adelina Gomes de Sousa, que desenvolve vários trabalhos com a equipe de 12 pessoas, mais os voluntários. Conta com acervo de 2 mil livros doados pela Secretaria da Cultura e TV Record, parceira do programa na CDHU. O interessado retira, leva para casa e pode ficar com a obra até uma semana, desde que preencha ficha cadastral, ou pode, simplesmente, ler no local.

Para a usuária Valquíria Mendes, 52 anos, viúva e mãe de três filhos, a falta de estudos “é uma coisa mal resolvida na minha vida. Primeiro, parei para casar, aos 20 anos. Depois, meu marido não me apoiava.” Hoje, tem apoio dos filhos, cursa o segundo ano do ensino médio e quer ser pedagoga. “Influência da sala de leitura que passei a freqüentar há dois anos. Descobri os livros de literatura, de história, agora escrevo melhor e converso melhor ainda.”

Um futuro melhor – A iniciativa da CDHU também levou de volta para a sala de aula o motorista Francisco Américo, 45 anos. “Interrompi os estudos há 28 anos, mas depois desse espaço consigo enxergar um futuro melhor.” Detalhe: Francisco cursa o segundo ano de Comunicação Social, na Universidade Paulista. Situação semelhante experimenta Alana Murely, 15 anos, aluna do primeiro ano do ensino médio. Nasceu em Alagoas, mas está há cinco anos em São Paulo.“Quando cheguei, a sala de leitura havia sido inaugurada há um ano e já movimentava a CDHU. Para mim, era tudo novidade, aplaudi a idéia, tanto que hoje freqüento pelo menos três vezes por semana. Gosto de livros de aventura e poesia, e gibi para descontrair.”

Maria das Graças Leocádia

Da Agência Imprensa Oficial