São Paulo tem o primeiro grande banco de genes da América Latina

Governo do Estado investiu US$ 600 mil dólares, por intermédio da Fapesp, no novo laboratório

ter, 24/04/2001 - 16h52 | Do Portal do Governo


Governo do Estado investiu US$ 600 mil dólares,
por intermédio da Fapesp, no novo laboratório

O Estado de São Paulo tem o primeiro banco de estocagem e distribuição de clones de genes da América Latina e o maior do mundo a disponibilizar genes da cana-de-açúcar. Trata-se do Brazilian Clone Collection Center (BCC Center), um laboratório com 600 m², inaugurado nesta terça-feira, dia 24, no campus da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) de Jaboticabal, região de Ribeirão Preto. O banco foi construído com investimentos do Governo do Estado, por intermédio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado (Fapesp), que aplicou US$ 600 mil no projeto. A Fapesp é vinculada à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico.

O Brazilian Clone Collection Center conta com quase 100 mil diferentes tipos genes, sendo 75 mil da cana-de-açúcar e cerca de 20 mil de seis microorganismos (bactérias) cujos genomas já foram seqüenciados, ou estão em seqüenciamento pelo Programa Genoma, também da Fapesp, como o Xylella fastidiosa, o Xanthomonas citri, o Xanthomonas campestris, o Leifsonia xyli e o Chromo Bacterium Violaceum. Todos ligados à agricultura e ao meio ambiente.

“Esses genes foram clonados em diferentes fases de desenvolvimento e de diferentes partes da planta. Eles estão prontos para serem usados”, explicou o responsável pelo novo laboratório, Jesus Aparecido Ferro, que também é coordenador do genoma Xanthomona citri (cancro cítrico) e um dos participantes nos estudos dos outros genomas de bactérias e da cana. “As pesquisas que serão feitas com esses genes devem gerar novas variedades de planta. Elas poderão ser mais resistentes à seca ou a doenças, ter mais teor de açúcar ou ter outro açúcar que não a sacarose”, ressaltou.

O novo laboratório facilitará o trabalho dos pesquisadores, que não precisarão montar infra-estrutura para clonar genes. Além disso, os genes nacionais devem ser mais baratos do que os adquiridos no exterior. “Nós poderemos fornecer 27 mil genes de uma só vez, imobilizados numa membrana de nylon, que é conhecida como chip de DNA”, detalhou Ferro. “Tendo esse chip é muito fácil para o pesquisador experiente determinar os genes expressos nas folhas e no caule que podem ser atingidos por pragas. Ele pode identificar os genes envolvidos na resistência da planta a doenças, mudanças de temperatura, falta d’água, ou qualquer outro fator de interesse comercial”, exemplificou.

Os clones serão vendidos pela internet a pesquisadores interessados em realizar estudos genéticos ou desenvolver produtos biotecnológicos (como plantas transgênicas) com os genes lá estocados. Todos os pesquisadores de instituições públicas do mundo terão acesso ao banco de clones. Já para as empresas interessadas em explorar comercialmente os genes, a Fapesp montou um comitê supervisor para analisar se o clone poderá ou não ser vendido. “Os pesquisadores de São Paulo serão os primeiros a ser beneficiados, já que temos cerca de 40 grupos envolvidos em pesquisas com a cana-de-açúcar no Estado”, afirmou o coordenador. “Começamos a receber pedidos de clones antes mesmo da inauguração do BCC Center. Já há, inclusive, uma empresa multinacional em negociação com a Fapesp para ter acesso aos clones”.

O Centro Brasileiro de Estocagem de Genes armazena os fragmentos físicos do DNA que contêm genes, diferente dos bancos de dados, que armazenam as seqüências dos genes em computadores. Isso possibilitará o desenvolvimento de variedades mais produtivas e resistentes a doenças. Para garantir a segurança dos genes, eles são mantidos numa sala especial climatizada a 20º C, com parede dupla recheada de isopor, dentro de oito freezers mantidos a 86º C negativos, sob vigilância permanente. O laboratório pode armazenar 1,612 milhão de clones. Capacidade que pode ser facilmente expandida com a aquisição de novos freezers. “A gente espera que esse laboratório seja uma ferramenta a mais para o desenvolvimento da biotecnologia no Estado e no País”, enfatizou Ferro.

O trabalho de pesquisa científica na área do sequenciamento do DNA (genoma) que vem sendo realizado pela Fapesp em São Paulo está colocando o Brasil entre os primeiros do mundo nessa área. O jornal americano The New York Times publicou, na edição desta terça-feira, matéria sobre a genômica no Brasil, com destaque para a atuação da instituição paulista. Segundo o jornal, depois de financiar o seqüenciamento do DNA das bactérias Xylella fastidiosa e Xanthomonas citri, a Fapesp está se tornando rapidamente um grande centro em genômica e um modelo para a investigação científica entre os países do Terceiro Mundo.

Além do estudo do genoma das bactérias (como do cancro cítrico e do amarelinho) e da cana-de-açúcar, a Fapesp também trabalha no seqüenciamento de DNA do câncer humano.

O BCC Center fica no Campus da Unesp de Jaboticabal: Via de Acesso Professor Paulo Donato Castelane s/nº, Jaboticabal, São Paulo, Departamento de Tecnologia. Fone: (55) 16 3203-2372. Fone/Fax: (55) 16 3203-2373.

Cíntia Cury