São Paulo negocia exportação da tecnologia da produção de cana-de-açúcar

Pesquisadores de vários países visitam os laboratórios do IAC para trocar informações

sex, 29/06/2007 - 16h24 | Do Portal do Governo

A tecnologia paulista desenvolvida pelo IAC (Instituto Agronômico de Campinas) na produção de cana-de-açúcar pode ultrapassar as fronteiras brasileiras. O interesse internacional pela “fórmula” que coloca São Paulo como o maior produtor de açúcar e álcool do país, dono de uma fatia de 72,4% das exportações brasileiras, tem aumentado, sobretudo, por parte de nações como África do Sul, México, Moçambique, Angola, Colômbia e Paraguai.

Todos os meses, comitivas formadas por pesquisadores de vários países visitam os laboratórios do IAC para trocar informações. O mais recente encontro entre os pesquisadores foi realizado há duas semanas com a chegada de uma comitiva mexicana.

O propósito do governo paulista é incentivar outros países a aprofundar estudos nesse sentido. A avaliação é que com essa postura, São Paulo deixará de ser único pólo na produção de etanol, fortalecendo, desta forma, o mercado e, consequentemente, aumentando a oferta do produto no cenário mundial.

“O etanol ganhará mais credibilidade quando vários países passarem a produzi-lo. Ele poderá se transformar em comoditie internacional”, analisa o diretor do Centro de Cana do IAC, Marcos Landell. “O investidor não quer ficar refém de ninguém”, completa.

E Landell assegura que não há motivos para temer a concorrência, por uma razão simples: o pioneirismo do Estado que investe em pesquisas há décadas, por meio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.

Segundo estimativas de Landell, países como México e Paraguai precisariam de pelo menos 15 anos de estudos para chegar ao patamar paulista, hoje com 4,2 milhões de hectares de cana plantada, ou 15% da área utilizada para agricultura no Estado. Ao todo, são 3,4 milhões de hectares em produção e outros 821 mil hectares em áreas novas.

Os investimentos em pesquisas renderam bons frutos aos produtores com o crescimento na capacidade de produção. Os números confirmam essa tese. Há 30 anos, com uma tonelada de cana se tinha 90 quilos de açúcar. Hoje, com a mesma quantidade, é possível atingir 120 quilos. Com essa mesma quantidade de cana se produz 90 litros de etanol contra os 60 litros produzidos há três décadas.

Interação

Além de receber as visitas internacionais, o IAC coordena seminários e workshops com especialistas na área. Eles são atraídos ao instituto pelo interesse de saber um pouco mais sobre as descobertas de variedades como a cana cultivada em áreas de temperaturas elevadas.

O último evento produzido pelo IAC em Cordeirópolis, no noroeste do Estado, termina nesta sexta-feira, 29, e está reunindo dois pesquisadores internacionais. O workshop tem como objeto discutir as descobertas na área de melhoramento genético da cana-de-açúcar.

“Temos pesquisas em estágios avançados. Por isso, somos procurados constantemente”, frisa Landell. De acordo com o diretor do Centro de Cana, São Paulo conta com mais de 400 ensaios espalhados pelo país. Somente no Estado, as estações experimentais foram distribuídas em sete regiões, onde são feitas análises constantes por uma equipe de 25 pesquisadores do departamento de Cana do IAC.

Através dos equipamentos, os técnicos podem constatar, por exemplo, os chamados estresses hídricos de solo – nomenclatura dada pelos agrônomos à combinação de falta de chuva, temperatura elevada e solo com baixa capacidade de armazenamento de água.

Justamente para obter informações relativas ao estresse hídrico do solo, José da Silva, especialista em biologia molecular da AIN Texas University, Mike Buttersield, pesquisador da África do Sul, recorreram ao IAC. “Foi importante discutir com os brasileiros o que está se fazendo aqui. Quero levar essas informações e aplicá-las a nossa realidade”, conta Mike. O africano aposta na interação com os brasileiros para elevar os índices de produção de cana naquele país.

“Estamos muitos anos atrás do que está se fazendo aqui em São Paulo em todos os sentidos”, comenta o especialista da AIN Texas University, José da Silva.

Pesquisa

A previsão é que no segundo semestre deste ano, o governo de São Paulo apresente ao setor sucroalcooleiro do país mais quatro variedades de cana-de-açúcar. Uma das novidades é a variedade que começa a ser colhida antes mesmo do período de safra.

Ao contrário das demais, a colheita da nova variedade, ainda sem nomenclatura definida, pode ser iniciada no final de março sem prejudicar o teor de sacarose – matéria-prima para a produção do açúcar – do produto.

“Temos uma prévia para recomendar o plantio de cada variedade com base nas condições climáticas regionais”, afirma Landell.

Números

Conforme dados da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, em 2006 o valor da produção agropecuária no Estado chegou a R$ 33 bilhões, o que representa crescimento de 7,6% em moeda corrente, em relação ao ano anterior. A cana-de-açúcar participou com 45,50% do valor total da produção estadual, com rendimentos na casa dos R$ 15 bilhões, montante 31,14% superior ao valor observado em 2005, de R$ 11,453 bilhões.

O preço médio da cana apresentou valorização de 22,36% em relação ao ano passado e a produção deve crescer 7,18%.

Cleber Mata