O governo de São Paulo apresentará ao setor sucroalcooleiro do País, no segundo semestre deste ano, mais quatro variedades de cana-de-açúcar. A novidade se somará a outras 13 variedades desenvolvidas por pesquisadores do IAC (Instituto Agronômico de Campinas) – órgão da secretaria de Agricultura – precursor da pesquisa agrícola no Brasil.
A expectativa é que as novas variedades despertem o interesse de outros estados que já utilizam as pesquisas desenvolvidas em São Paulo, hoje com 4,2 milhões de hectares de cana plantados e com pelo menos 25 pesquisadores do IAC atuando em diversas frentes de trabalho.
Segundo informações do diretor do Centro de Cana do IAC, Marcos Landell, a tecnologia paulista é empregada em pelo menos nove estados do País. Landell lembra que são 350 experimentos espalhados nas diversas regiões do Estado em pesquisas como produção e manejo da cana, colheita e procedimentos recomendados para adubação. “Hoje estamos com pesquisadores do IAC em Goiás, Tocantins, Alagoas e em Minas Gerais tratando especificamente de várias questões relativas a produção da cana”, observa.
O pesquisador explica que não há como precisar o percentual de aumento na produção com a chegada das novas variedades. Isso porque as condições climáticas da área e o solo são fatores determinantes.
“Temos apenas uma previsão para onde recomendamos o plantio de cada variedade com base na dotação regional”, afirma. Ele frisa que as novas variedades têm teores distintos de sacarose, matéria-prima para a produção do açúcar.
De acordo com Landell, o IAC desenvolve variedades de cana em estudos que duram de dez a 15 anos específicos para cada região. Esses investimentos em pesquisas contribuíram para que São Paulo ultrapassasse estados como Pernambuco e Bahia. “No último século demos um salto significativo e hoje somos referência”, acrescenta o pesquisador.
Além das novas variedades, outra informação apresentada pelo pesquisador é referente ao percentual de colheita por hectare no Estado. Ele lembra que, em 1975, o produtor retirava uma média de 65 toneladas por hectare. Três décadas depois, o produtor de São Paulo colhe 90 toneladas por hectare. “O avanço é resultado do investimento em pesquisas, sobretudo com o melhoramento genético da planta”, completa.
Segundo a secretaria da Agricultura, 821 mil hectares em novas áreas devem ser plantados no território paulista em 2007. O número manterá a posição do Estado no cenário nacional como maior produtor de açúcar e álcool do país e responsável por 72,4% das exportações brasileiras do setor. Somente em 2006, foram US$ 5,65 bilhões em vendas externas.
O programa de melhoramento da cana da secretaria envolve pesquisadores das várias unidades no interior, localizado em Ribeirão Preto, pólos de pesquisa em Piracicaba, Jaú e Bauru além de unidades nas regiões oeste do Estado.
Histórico
O processo para chegar à liderança da produção de cana-de-açúcar no cenário nacional de São Paulo contou com a participação de pesquisadores do IAC ainda na década de 60: Carlos Alberto Krug e Hermindo Antunes Filho criaram programa de melhoramento genético do produto. Vinte anos mais tarde, o técnico Raphael Alvarez aproveitou a posição geográfica das estações experimentais de cidades como Piracicaba, Jaú, Ribeirão Preto e iniciou projeto de criação de variedades regionais.
Nos anos 90 foi criado o Programa de Cana-de-açúcar do IAC, que incorporou todos os pesquisadores e especialistas sediados em seis estações experimentais que realizavam pesquisas na área. Assim, ampliou-se o relacionamento com o setor sucroalcooleiro, surgindo o Grupo Fitotécnico de Cana-de-açúcar em 1992, em Ribeirão Preto. A equipe conta com representantes de usinas e cooperativas, pesquisadores e profissionais de empresas de insumos, matérias-primas, máquinas e equipamentos de projetos ligados à cultura de cana.
Os pesquisadores atuam nas diversas áreas do melhoramento genético, como a biotecnologia e áreas fitotécnicas fazendo com que sejam atingidos, em tempo hábil, os objetivos propostos pelo Programa.
Cleber Mata