São Paulo investe em inovação tecnológica de pequenas empresas

Produtos e processos inovadores recebem incentivos do Governo de São Paulo

seg, 11/12/2000 - 15h49 | Do Portal do Governo


Produtos e processos inovadores recebem incentivos do Governo de São Paulo

‘Mais do que nunca, hoje, o conhecimento tornou-se a verdadeira riqueza das nações: aquelas que forem capazes de gerá-lo e aplicá-lo com mais desenvoltura serão as que terão oportunidade de desenvolver-se econômica e socialmente.’ Com esta frase, Carlos Henrique de Brito Cruz, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – Fapesp – define a importância das várias ações desenvolvidas pela instituição e outros órgãos do Governo paulista no avanço e capacitação tecnológica de pequenas empresas.
Para isso, há uma conjugação de esforços e parcerias de instituições vinculadas à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo – como o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) e a Fapesp, bem como as três universidade públicas estaduais, USP, Unicamp e Unesp.
O Programa de Inovação Tecnológica em Pequenas Empresas (Pipe) é um dos exemplos dessa preocupação. Iniciado na gestão Mário Covas, em 1997, foi um passo ousado para financiar, sem exigência de contrapartida, pesquisas de pequenas empresas para o desenvolvimento de novos produtos de alto conteúdo tecnológico ou processos produtivos inovadores, capazes de aumentar a sua competividade e contribuir para o desenvolvimento social e econômico do País. As empresas participantes do Pipe devem ter até 100 empregados.
No programa já há uma carteira de 129 projetos em andamento, desde produção de hormônio de crescimento humano até sistema automático para monitoração de rotas de veículos. ‘São dezenas de pequenas empresas apostando no conhecimento como fonte de riqueza, de desenvolvimento, de empregos, de soberania nacional’, observa o presidente da Fapesp, destacando que ‘poucas agências de apoio à pesquisa em todo o mundo têm uma carteira como esta’. As micro e pequenas totalizam, no Estado, mais de um milhão de empreendimentos, o que representa mais de 98% do total de estabelecimentos e a geração de 60% dos empregos e 25% do PIB.
Os projetos podem ser desenvolvidos por pesquisadores vinculados às empresas ou que a elas tenham se associado para sua realização. Os projetos aprovados são desenvolvidos em duas fases. A primeira, com duração de seis meses e financiamento limitado a R$ 75 mil, deve produzir um estudo de viabilidade técnica e comercial. Os projetos bem-sucedidos nesta fase recebem recursos adicionais, de até R$ 300 mil, para a finalização do produto num prazo de dois anos.
O número de projetos apresentados vem superando as mais otimistas previsões, tanto pelo número como pela qualidade, avalia José Fernando Perez, diretor científico da Fapesp. A maior parte foi enquadrada nas normas do programa e enviada a assessores para análise de mérito.

De congelamento de pães a aquecimento solar para casas populares

Dentre os 129 projetos aprovados – que abrangem de ciências agrárias e biológicas até engenharia, física e química – há alguns interessantes:
Congelamento de Pães – O objetivo da pesquisa é colocar no mercado de panificação uma alternativa de produto congelado para atender principalmente lojas de conveniência, supermercados e rodopostos. Valor aprovado para a primeira fase: R$ 23.400,00 Empresa: Forty Indústria de Alimentos.
Coletores Solares para Utilização em Casas Populares – Desenvolver um sistema de aquecimento solar que possa ser colocado em residências populares de famílias de baixa renda (foto). A idéia é utilizar um sistema do tipo monobloco (coletor e reservatório térmico em uma única peça) de custo popular. Cada peça não custará mais do que R$ 100,00 e poderá ser utilizada por 27 milhões de famílias, segundo avalia seu idealizador, engenheiro Augustin Woelz, da Sunpower Engenharia
Monitoramento de Frota de Veículos de Transporte Coletivo Urbanos – O projeto prevê a elaboração de um sistema destinado ao controle da pontualidade de ônibus ou peruas por meio de sinalizadores de rádio distribuídos ao longo de rotas preestabelecidas. Empresa: Neuron Equipamentos Eletrônicos.
Produção de Hormônio de Crescimento – A utilização de produtos farmacêuticos obtidos pela tecnologia do DNA recombinante tornou-se uma realidade no mundo atual. O Brasil, porém, não dispõe de nenhum laboratório que produza fármacos por essa tecnologia. O projeto propõe criar uma empresa capacitada a produzir formulações farmacêuticas por esse método. Empresa: Genosis Biotecnológica.

Incubadoras para empreendimentos tecnológicos

Um dos programas mais significativo para transformar idéias em produtos e serviços é o das incubadoras para empreendimentos tecnológicos de empresas, desenvolvido pelo Cietec (Centro Incubador de Tecnologia), instalado na Cidade Universitária, USP. O programa, uma parceria do Ipen com o Sebrae-SP, está ‘empenhado em incentivar ganhos de qualidade e competitividade, através da incorporação de tecnologia ao processo produtivo das micro, pequenas e médias empresas, que são as grandes geradoras de emprego, base do desenvolvimento paulista”, na definição de José Aníbal, secretário estadual de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico.
O objetivo das incubadoras é apoiar pesquisadores e empresários que detenham conhecimento tecnológico ou que já desenvolvam produtos em fase de prateleira, e que se proponham a criar empreendimentos capazes de transformar a tecnologia existente em produtos e serviços em benefícios para a sociedade.
Ancoradas no maior centro de pesquisa do Brasil, numa espécie de condomínio, as empresas residentes no Cietec podem contar com técnicos e pesquisadores do Parque Tecnológico, que inclui a USP e suas unidades, o IPT e o Ipen, além de mais de 400 laboratórios de excelência, em todas as áreas do conhecimento. A parceria com o Sebrae-SP garante a elaboração de um plano de negócios, fundamental para o sucesso de uma inovação potencialmente boa.
Estas são algumas das 30 empresas residentes, seus projetos e propostas comerciais:
Coonat – Cooperativa multidiscipinar de prestação de serviços técnicos que trabalha em pesquisa e desenvolvimento no destino de resíduos sólidos. Desenvolve um projeto de tratamento anaeróbio de lixo orgânico, utilizando microorganismos selecionados que não produzem odores, aproveitando o biogás e o CO2, podendo assim acabar com os custos financeiros, sociais e ambientais de aterros sanitários.
Hormogen Biotecnologia – Atua no desenvolvimento de tecnologia para produção do hormônio de crescimento a partir de recombinação genética de bactérias. A empresa pretende, assim, baratear o custo do tratamento, hoje feito apenas com medicamentos importados.
Pro-Line – Desenvolve produtos especializados para odontologia e ortopedia, atendendo cirurgiões-dentistas, médicos, instituições de ensino e entidades de saúde pública ou privada.
Parcerias para fortalecer os inovadores

Além de apoiar fortemente o Cietec, na Cidade Universitária, o Sebrae-SP mantém um programa próprio de desenvolvimento de incubadoras em todo o Estado de São Paulo, em parceria com várias instituições de ensino e pesquisas do Governo paulista – como a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queirós, e o Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, além de entidades empresariais, como a Fiesp. O principal objetivo é igualmente estimular a criação e o fortalecimento de empresas inovadoras
A entidade apoia as 38 incubadoras hoje existentes no Estado, que reúnem 392 empresas e geram cerca de 1,7 mil empregos diretos. Brevemente, estes números serão ampliados, já que o Cietec vai aumentar gradativamente o número de vagas. ‘Das atuais 14 vagas, vamos chegar a 120 empresas até 2001’, garante Sérgio W. Risola, diretor do Cietec, entusiasmado com o grande interesse despertado pelo programa no mundo acadêmico e empresarial.
Em outra ponta, também em parceria com instituições do Governo paulista, o Sebrae-SP preocupa-se em levar novas tecnologias a micros e pequenas empresas que não tenham acesso direto aos centros de excelência, dando solução a problemas e dúvidas que elas enfrentam no desenvolvimento ou aprimoramento de seus produtos ou processos. Para isso, coloca à disposição programas como o Sebraetec e o Mobilização Tecnológica para Micros e Pequenas Empresas.
É possível desenvolver esses programas também em grupos de micro e pequenas indústrias de um mesmo setor. Já estão sendo implantadas consultorias em grupos de indústrias de cerâmica artística de Porto Ferreira, brinquedos de plástico de Laranjal Paulista e metal-mecânico de Santo André. Estão em fase de desenvolvimento projetos para os setores de móveis (São Bernardo do Campo), beneficiadoras de aço (região do ABC) e calçados (Araçatuba). Duas ações do IPT para capacitação das pequenas empresas na conquista do mercado externo – o Progex (Programa de Apoio Tecnológico à Exportação) e o projeto Prumo – contam também com o apoio da entidade.
Ao apresentar todo o esse leque de parcerias, o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Fernando Leça, destaca: ‘nosso papel é permitir que micro e pequenas empresas tenham acesso aos recursos tecnológicos e aos conhecimentos represados nas universidades e instituições públicas, coisa que fazemos com desenvoltura, com o apoio decisivo e forte dessas instituições, do Governo Covas, em especial da Secretaria de Ciência, Tecnologia e Desenvolvimento Econômico do Estado de São Paulo.”
Além do apoio técnico das várias instituições do governo, as pequenas e micro empresas paulistas foram favorecidas em novembro último com o Fundo de Aval do Estado (FDA) para inovação tecnológica e crescimento das exportações. Por meio de convênios com a Nossa Caixa/Nosso Banco e Sebrae-SP, abriu-se a possibilidade de acesso aos recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) com mais facilidade. Numa primeira fase, perto de três mil micro e pequenas empresas serão beneficiadas.

Takao Miyagui