Sabesp construirá parque linear de 7,5 km entre Sapopemba e São Mateus

Empresa vai construir praças, quadras, bicicletários, sanitários, anfiteatros, viveiros e horta, além de preservar a vegetação natural

dom, 17/02/2008 - 11h37 | Do Portal do Governo

Antes mesmo de ficar pronto, o Parque da Integração recebe a visita da comunidade da zona leste da capital interessada em caminhar, andar pelos canteiros de árvores frutíferas ou descansar e trocar idéias na praça arborizada. Tanta motivação se explica pelo fato de que na região há poucas áreas verdes e locais de esporte e lazer. A população é carente e os índices de violência são altos. E mais: a construção do que é considerado um dos maiores parques lineares urbanos do mundo é uma reivindicação dos moradores desde 1984.

O parque vai de Sapopemba a São Mateus e fica sobre a tubulação da Adutora Rio Claro, responsável por levar água potável a 1,4 milhões de pessoas. Esse é o maior sistema de abastecimento de água de São Paulo, com 77 quilômetros de extensão (sai de Biritiba-Mirim), dos quais 22 quilômetros cruzam a cidade. Os números do parque também são grandiosos. Ocupará área de 225 mil metros quadrados, terá infra-estrutura de segurança e de lazer, esporte e atividades culturais. Para isso, receberá investimentos de R$ 17 milhões da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp), proprietária do terreno. Depois de pronto, estará entre os maiores parques lineares urbanos do planeta. De acordo com a empresa responsável pelo projeto, a Escola da Cidade, apenas o Caminho Verde do Rio Platte (Denver, EUA), com 16 quilômetros, e o Bacia Hidrográfica do Rio Don (Toronto, Canadá), com oito quilômetros, são maiores que o Integração. O parque paulistano tem 30 metros de largura, dimensão mínima da faixa da adutora, mas há trechos em que é possível chegar a 100 metros, incluindo áreas vizinhas.

Lixo, esgoto – Nos trechos mais largos serão instalados os equipamentos (quadras esportivas, campos de futebol, pista de skate, praça de eventos). Nas faixas estreitas, ficarão pistas de caminhada, ciclovias, paisagismo e tabuleiros de mesa. Haverá, também, projetos de educação ambiental para dar à população noções sobre despoluição de bacias e córregos, arborização e conscientização do uso racional da água. Com a construção do parque, a Sabesp resolve dois problemas: evita o uso irregular e ilegal do solo (invasões) e preserva a área reservada à passagem de tubulações e redes de transmissão de energia elétrica.

Chamada de área de servidão, o local não suporta construção sob risco de rachar ou romper a tubulação (de dois metros de diâmetro) por onde passam quatro mil litros de água por segundo. Antes de começar as obras foi necessário remover favela de 150 barracos onde viviam 500 pessoas. Elas foram transferidas para um conjunto habitacional da Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), com a ajuda da prefeitura de São Paulo, parceira no programa de construção do parque. Além da ocupação clandestina, era comum o despejo de esgoto, lixo e entulhos, lembra a líder comunitária Laura Kamisaki. “Nas faixas que deviam estar preservadas havia mato, ratos, insetos, muita sujeira e mau cheiro. Até fetos eram despejados no local”.

No início de 1984, um ônibus lotado de passageiros caiu numa vala da adutora. Esse fato motivou a comunidade a se empenhar em resolver o problema, já que havia também possibilidade de danificação da tubulação da adutora, por conta das ocupações irregulares e do risco de contaminação em conseqüência do lixo e entulhos, relata Laura. Ela acrescenta que os moradores queriam preservar “a água que vai para as torneiras e o meio ambiente e minimizar a miséria social. Chegamos à conclusão de que um parque era a melhor maneira de aproveitar a faixa da adutora e pôr fim às invasões, ao lixo e ao entulho”.

Participação da comunidade – Uma tentativa anterior de solucionar a questão foi posta em prática em 2001, com o Programa de Ações Integradas do governo paulista. A idéia, embora mais modesta, era semelhante ao que será feito agora. O diferencial era que não havia a participação efetiva da comunidade, principalmente da população de São Mateus, onde foram instalados parques infantis, quadras, pista de skate, campos de futebol society e concha acústica. De tudo isso, restou um local abandonado, com muito mato, lixo, insetos e mau cheiro. “As pessoas tiraram o que puderam”, recorda Laura. “Não basta fazer pistas, quadras, e esperar que as pessoas usem. Sem o apoio da comunidade não dá certo. A população tem de abraçar a causa”.

Da mesma opinião compartilha o superintendente de unidade de produção de água da Sabesp, Hélio Luiz Castro. “Para não cometer o mesmo erro, discutimos amplamente o novo programa com a comunidade dos 20 bairros que usufruirão do parque”. Embora corte ruas e avenidas porque acompanha o trajeto da adutora, o parque terá continuidade e as obras permitirão às pessoas fazerem os cruzamentos (com semáforos) com segurança e sem desvios, ressalta Castro.

O superintendente afirma que tudo foi escolhido pela população (desde os equipamentos do parque) e discutido com os técnicos responsáveis pelo projeto. “Por exemplo, onde havia mais idosos, a comunidade optou por campos de bocha. A participação da comunidade é o caminho certo”. Sua expectativa é de que a população com a ajuda da prefeitura, responsável pela manutenção e gestão, “tome conta desse bem público. E, com isso, a adutora seja preservada sem invasões das faixas e despejo de lixo e entulho”.

Esporte, lazer e paisagismo – Castro informa que na primeira fase do projeto a Sabesp desembolsará R$ 7 milhões. Esse montante se destina à construção de pistas de caminhada, ciclovia, bicicletário, banheiros públicos, guarita policial e terraplanagem dos terrenos. A previsão é que essas obras estejam concluídas no final de maio deste ano. A subprefeitura já destinou R$ 1 milhão com retirada de entulhos, limpeza, remoção de pessoas, entre outras ações, informa o subprefeito de Vila Prudente/Sapopemba, Felipe Sigollo.

Por enquanto, está em fase de construção o portal do parque (localizado na Rua Juiz de Fora) e em finalização as pistas de caminhada e de ciclismo e as escadas, na Praça Virgílio Lúcio, em Sapopemba. No portal haverá um anfiteatro, bicicletário, banheiros e base comunitária da polícia, já que o bairro continua a ter índice de violência bastante alto, como explica Sigollo. Nessa região populosa, há 94 favelas e 67,8% dos habitantes recebem até cinco salários mínimos de renda mensal.

No trecho inicial há árvores antigas plantadas pelas pessoas que moram ao longo da faixa da adutora e cuidam das plantas. Há mais de 20 anos no bairro, João dos Santos ficou encarregado de tratar dos dois primeiros canteiros, que ladeiam as pistas de Cooper e de ciclismo, já que fazia isso bem antes do parque ser delineado no papel. Orgulhoso, Joãozinho, como é chamado pelos conhecidos, mostra os girassóis, aroeiras, coqueiros, amoreira, acerolas, abacateiro, ameixeira, feijão de corda e chapéu-de-couro.

Sapopemba, a árvore

Waldemar Ekert é outro morador que há anos plantava árvores na faixa e cuidava da sobrevivência delas. Infelizmente, não pôde ver o parque tomar forma e nem participar do plantio de 200 mudas cedidas pela prefeitura, encarregada de fazer o paisagismo. No dia do plantio, aniversário de São Paulo, Waldemar morreu. De sua dedicação e colaboração com a limpeza do local restaram inúmeras plantas como aroeiras e a castanha-do-pará, com frutos, e imagens de seu trabalho voluntário em prol da comunidade.

A variedade de árvores é grande e não segue um padrão, porque cada pessoa trazia uma muda que tinha em casa ou de que gostava, explica Laura Kamisaki. Essa vontade de arborizar a região vem um pouco do fato de que Sapopemba era uma árvore que existia em abundância na região e deu origem ao nome do bairro, explica a líder comunitária. Hoje, há poucas sapopembas.

O final do parque será em São Mateus, onde ainda há locais em que os vestígios de barracos invadindo a faixa da adutora são abundantes. Permanece uma favela próxima à área protegida. De acordo com Sigollo ainda restam quatro barracos para serem removidos. “Assim que cair a liminar, serão retirados”, informa o subprefeito. Na segunda fase do projeto, com investimento de R$ 10 milhões e prazo de conclusão em 2009, serão colocados os equipamentos. “Com o parque, o Expresso Tiradentes e o Metrô, a região passará por grande transformação”, prevê o subprefeito.

Números do Parque

. 28 praças de travessia

. 23 quadras (seis poliesportivas, três cobertas, seis de vôlei, quatro de futevôlei, duas de futevôlei mirim e duas de Tabela 21)

. 21 campos (dois de futebol, seis de taco, sete de bocha, seis de malha)

. 15 parquinhos infantis com brinquedos

. 8 praças de ginástica

. 2 arquibancadas

. 7 pistas (uma de skate/cross, duas de skate (percurso), duas de skate mirim, duas de cross

. 3 escaladas horizontais

. 4 anfiteatros

. 3 praças de atividades

. 4 áreas de estar com bancos

. 17 áreas com mesas de jogos (total, 180 mesas)

. 10 pérgulas (espécie de galeria, para passear, construída em forma de ramada)

. 10 redários

. 9 praças internas

. 7 sanitários públicos

. 7 bicicletários

. 23 bebedouros

Projeto paisagístico

. 3,4 mil árvores

. 812 palmeiras

. 1 lago

. 4 áreas de viveiro/horta

. 1 área de horta comunitária

. 24 mil metros quadrados de forração

. 60 mil metros quadrados de grama

Segurança

. 3 bases comunitárias

. 1 batalhão da Polícia Militar

. 1 Companhia da PM

. 3 unidades de vigilância

. 1 central de segurança

Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial

(L.F.)