Ruído em incubadora traz risco para a audição de recém-nascidos

Ruídos de máquinas, manuseio de equipamentos e conversas atingem níveis que podem comprometer a capacidade auditiva dos bebês no futuro

sex, 05/10/2007 - 17h52 | Do Portal do Governo

Uma pesquisa com 35 bebês prematuros internados na unidade neonatal de cuidados intermediários em um hospital de Ribeirão Preto (interior de São Paulo), avaliou as fontes e níveis de ruído e as respostas fisiológicas dos recém-nascidos nas incubadoras. O estudo, realizado pela fonoaudióloga Milena Rodarte, aponta que os ruídos de máquinas, manuseio de equipamentos e conversas atingiram níveis que podem comprometer a capacidade auditiva dos bebês no futuro.

Entre os recém-nascidos pesquisados, 20 bebês foram analisados durante duas horas, sendo expostos a ruídos diversas vezes dentro desse período, ocasionados pelo cuidado natural com eles na unidade neonatal. “Não desencadeamos ruídos, a observação foi em cima dos ruídos do próprio cuidado com o bebê na unidade neonatal”, conta Milena. “Não constatamos indício de dor, mas houve mudanças significativas de comportamento, como movimentos corporais, manifestações faciais e mudanças no estado de sono e vigília”.

A pesquisa usou a escala de compensação A, medida em decibéis  (dBA), que é a mais usada e requerida pelas normas por apresentar respostas similares ao ouvido humano. “Os bebês estavam numa média de ruído entre 47,6 a 88, 7 decibéis, acima do limite de 45dBA recomendado por organizações internacionais”, diz a pesquisadora. Mais da metade dos bebês estavam expostos a limites médios superiores aos 60dBA permitidos para incubadoras pelas normas brasileiras.

A fonoaudióloga ressalta que, no Brasil, o berçário está incluído nas normas do conjunto de enfermarias do ambiente hospitalar (45dBA como permitido e 35dBA como desejável), não existindo nível específico para ambiente neonatal. “No País, temos normas para incubadoras que são de 60dBA como permitido e 80dBA com alarme soando”, afirma Milena. “Esta é uma diferença gritante, pois os dBs são medidos em logaritmos e a literatura traz que a cada 6dB a intensidade sonora triplica, ou seja, uma variação de 15dB significa um aumento de 45dB”.

Repouso

O repouso auditivo é fundamental para o recém-nascido, afirma a pesquisadora. “O bebê precisa de energia para o desenvolvimento e crescimento e não para responder estresses provocados pelos ruídos, por exemplo, que podem levá-lo à demora no ganho de peso e até atrasar sua alta hospitalar”, explica. “Também é necessário se preocupar com a exposição em longo prazo, pois muitos desses recém-nascidos já têm outros fatores de risco para deficiência auditiva, como uso de drogas pela gestante e a permanência em UTI por mais de 48 horas.”

A pesquisa de Milena faz parte da tese de doutorado Exposição e Reatividade do Prematuro ao Ruído Intenso Durante Cuidado em Incubadora, apresentada na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP. “Os resultados mostram a necessidade de reavaliação e mudanças nas normas de conforto acústico, com ênfase no cuidado neonatal e na regulamentação de fabricação de equipamentos, principalmente das incubadoras e seus feches das portinholas”, diz a professora Carmem Silvan Scochi, da EERP, orientadora da tese.

Carmem observa que a questão do equipamento deve ser contemplada pela instituição hospitalar quando da sua aquisição. “As incubadoras são feitas de acrílico, material que não absorve o ruído, que entra na incubadora e fica certo tempo naquele ambiente. Fração de segundo, mas fica”, alerta. “Os bebês são manuseados pelo menos, 30 vezes ao dia, e a redução mínima de ruído será sempre significativa, já que cada 6dB triplica o nível de ruído.”

Segundo a orientadora, as instituições devem trabalhar paralelamente com programas de intervenções junto à equipe de cuidadores, para que ela participe da construção e implementação de estratégias de mudanças de comportamento. “Nós, latinos, falamos muito alto e a conversação na unidade é uma importante fonte de ruído, por isso toda a equipe deve estar envolvida”.

Da Agência USP de Notícias

(S.M.)