Ruas de comércio refletem transformações na cidade de São Paulo

Foi o que concluiu um estudo de pesquisadora da Escola Politécnica da USP

sex, 01/06/2007 - 10h38 | Do Portal do Governo

Na Escola Politécnica da USP, um estudo revela como as ruas de comércio na cidade de São Paulo influem na mobilidade da população. Em sua dissertação de mestrado Dinâmica de rua de comércio na cidade de São Paulo, a arquiteta Ana Maria de Biazzi analisou a dinâmica do comércio de rua por diversos aspectos: evolução urbana, transformações socioeconômicas e hábitos de compra do consumidor.

De acordo com a pesquisadora, a maioria dos trabalhos acadêmicos sobre áreas de comércio se restringem ao mundo dos shopping centers. “Essa modalidade de comércio surgiu em meados da década de 1980 em todas as grandes cidades do País. Atualmente avançam também para cidades médias e pequenas”, conta Ana Maria, afirmando que as ruas de comércio, essenciais para o consumo das mais diversas classes sociais paulistanas, não costumam receber a importância devida.

A pesquisadora conseguiu, em seu estudo, traçar um padrão de mobilidade que é demonstrado pelo surgimento de ruas de comércio na cidade, o deslocamento das classes altas. Ela conta que as primeiras ruas se desenvolveram no Centro Velho da cidade (Avenida Ipiranga, Rua 25 de Março), onde viviam os mais abastados. “Eles se mudaram para o centro “novo” (outro modo de denominar a região das cercanias da Avenida Paulista), e trouxeram as ruas de comércio para lá”, conta. Porém, as ruas do Centro Velho não alteraram seu caráter comercial, apenas se destinaram a um público com menor poder aquisitivo. Houve um deslocamento das classes mais altas do Centro para a região da Rua Augusta, o que acarretou mudança socioeconômica na dinâmica das ruas de comércio.

Origens

Sobre a origem dessas ruas, Ana Maria afirma que elas surgem por meio de necessidades de consumo; nos bairros, há o fator da “compra por conveniência”. Entre alguns aspectos interessantes verificados na pesquisa, ela destaca que a rua 25 de março, conhecida pelo comércio popular, é freqüentada por praticamente todas as classes sociais, principalmente a classe A, que compra por impulso, e não por conveniência, como se constata nas classes C e D. Na rua 12 de outubro, no bairro da Lapa, e que foi o foco principal da pesquisa, a pesquisadora constatou que os postes são os mesmos desde seu surgimento. “Isso demonstra a falta de preocupação com a infra-estrutura nesses pólos de consumo”, constata.

A ausência de infra-estrutura e a inexistência de um planejamento estratégico são as principais deficiências encontradas nas ruas de comércio. “A rua não é um empreendimento, é formada quase que naturalmente”, afirma Ana Maria. Nenhuma das fontes do trabalho possuía dados de quanto a rua é representativa em determinado nicho comercial, estatística só obtida para supermercados e shopping centers. O desconhecimento dos lojistas sobre o potencial das ruas de comércio, seu fluxo e renome, é grande: para a maioria, “vender bem basta”.

Ana Maria também analisou os aspectos relacionados aos mecanismos internos de competição. A compra comparada ocorre por meio da concentração de lojas do mesmo nicho em quarteirões bem próximos ou até mesmo em um quarteirão específico. A concorrência, porém, é acirrada e não há tabelamento de preços. As lojas que costumam praticar políticas de preços uniformes, como as lojas de diversidade (conhecidas por “lojas de R$ 1,99”), se encontram espalhadas ao longo das ruas. Outro fator central da pesquisa é o mapeamento do “mix”, ou seja, a diversidade de setores na composição do comércio.

Sobre as tendências futuras das ruas de comércio, há um fator positivo e outro negativo, respectivamente, de acordo com a autora do estudo: o crescimento do crédito, com o boom de financiadoras em volta e dentro das lojas de rua, e o aumento da informalidade.

Mais informações: (0XX11) 3831-1568; 8109-7733, ou e-mail anabiazzi@uol.com.br, com Ana Maria de Biazzi.

Luigi Parrini

Agência USP de Notícias