Redução da cárie deve considerar renda da população

É o que levanta pesquisa da Faculdade de Odontologia da USP

sex, 07/09/2007 - 10h15 | Do Portal do Governo

A redução da cárie dental não deve apenas considerar os fatores biológicos responsáveis pelo surgimento da doença mas também as condições socioeconômicas da população. Segundo pesquisa da Faculdade de Odontologia (FO) da USP, determinantes sociais, como renda, por exemplo, têm forte impacto na porcentagem de pessoas livres dessa doença dental.

“A estrutura social, que envolve características relacionadas a moradia, renda, nível de pobreza, saneamento, entre outras, determina os hábitos da população e, assim, sua saúde”, afirma o professor e cirurgião-dentista Thiago Machado Ardenghi, autor da pesquisa. Para sua tese de doutorado, ele avaliou a associação entre experiência de cárie dental com fatores socioeconômicos e a influência desses fatores na redução dos índices de cárie em crianças de 12 anos de idade nas capitais brasileiras.

Capitais que apresentaram melhores níveis socioeconômicos – melhor distribuição de renda e maiores valores no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e no Índice de Desenvolvimento Infantil (IDI) – foram aquelas que tiveram maiores porcentagens de crianças livres de cárie dental.

“No geral, os dados do último levantamento epidemiológico de cárie dental realizado em âmbito nacional revelam que as capitais das regiões Sul e Sudeste apresentaram menores porcentagens de crianças com dentes cariados, perdidos ou obturados (índice CPO-D) devido a essa doença bucal”, conta Ardenghi. Enquanto a região Sudeste apresentou uma média de 2,30 no índice de dentes cariados, perdidos ou obturados, a melhor média do País, a região Nordeste teve uma média de 3,19. Em sua tese, o autor ainda ressalta que as capitais que apresentaram melhores porcentagens de crianças livres de cárie foram aquelas que apresentaram um percentual maior de redução desse problema dental.

De acordo com o dentista, os resultados demonstram que a estrutura social e econômica a que uma população está exposta age como fator determinante nas condições de saúde. “Percebe-se necessidade de estratégias voltadas à redução de iniqüidades sociais para melhorias em termos da saúde. Só programas educativos não são suficientes para modificar os hábitos das pessoas ao longo prazo”, observa ele.

Para a pesquisa, Ardenghi utilizou dados último levantamento de cárie feito no Brasil, o projeto SBBrasil 2003. Referente aos anos de 2002 e 2003, essa publicação divide o Brasil em 5 macrorregiões e recolhe dados de 250 municípios. Essas informações foram cruzadas por meio de técnica estatística com dados censitários (do ano de 2000, quando o último censo demográfico foi realizado) e provenientes de publicações governamentais a respeito dos indicadores socioeconômicos das capitais brasileiras e de dados da Sociedade Brasileira de Odontologia a respeito do número de dentistas por população (por 100 mil habitantes). Para verificar os fatores associados à redução dos índices cárie, ele também recorreu aos dados do Levantamento Epidemiológico de Saúde Bucal de 1996, realizado pelo Ministério da Saúde.

Além dos índices IDH e IDI, foram utilizadas as seguintes variáveis socioeconômicas: renda familiar per capita, pobreza, desigualdade na distribuição de renda, taxa de analfabetismo infantil, defasagem escolar, exclusão escolar, aglomeração domiciliar, porcentagem de distritos municipais com água fluoretada, taxa de cirurgiões dentistas por habitantes.

Vanessa Portes

Da Agência USP de Notícias

(I.P.)