Recepção violenta perde espaço para o trote consciente nas universidades

USP, Unesp e Unicamp incentivam desenvolvimento de atividades que promovam respeito e integração com os novos alunos

qui, 22/02/2007 - 9h42 | Do Portal do Governo

Pode até ser tradição integrar novos universitários em trotes que incluem ações depreciativas e até violentas. Ao contrário desses costumes, nos últimos anos as universidades públicas de São Paulo –USP, Unesp e Unicamp – esforçam-se para envolver os novatos em ações de cidadania.

Em 1998 a pró-reitoria de graduação da USP criou a Semana de Recepção dos Calouros. Cada unidade da instituição é incumbida de criar atividades que promovam respeito e integração com os novos alunos. Ao todo, as 37 unidades de ensino (faculdades, institutos e escolas) da USP da capital e interior participam do trote diferenciado. Doação de sangue, pintura de creches e café da manhã com os pais dos novos alunos são alguns exemplos.

A Semana de Recepção dos Calouros sempre ocorre na primeira semana de aula do ano letivo. Os responsáveis de cada localidade enviam relatórios com textos, fotos, gravações de imagens e outros materiais explicativos do evento ao grupo Pró-Calouro da USP.

Coordenado pelo professor Oswaldo Crivello, todo ano o grupo seleciona a unidade que mais se destaca na Semana de Recepção dos Calouros. O centro acadêmico ou instituição similar premiada é contemplado com microcomputador e impressora, com patrocínio de uma instituição financeira. Recebe ainda uma escultura itinerante, que a cada ano é exposta na unidade vencedora.

Disque-trote

“No ano passado, os veteranos da Faculdade de Direito do Largo São Francisco foram muito cuidadosos na recepção dos calouros e levaram o prêmio”, destaca Crivello. Os graduandos organizaram a simulação de tribunais com temas sociais e convidaram personalidades da área jurídica para palestras.

Para este ano, as unidades da USP organizam diversas atividades para a Semana de Recepção dos Calouros. Outra iniciativa que ajuda os novos uspianos é o disque-trote (0800 012 10 90), que funciona desde 1999 durante um mês após o primeiro dia de matrícula. Nesse serviço, o calouro comunica qualquer atitude do veterano que lhe cause constrangimento. O grupo Pró-Calouro recebe as queixas e toma as providências necessárias.

Desde 1999, o trote que causa agressão física, moral ou constrangimento é proibido dentro e fora das 32 faculdades e institutos da Unesp, que atua em 23 cidades, incluindo interior e capital. Quem transgredir a regra é suspenso ou expulso da universidade, após processo administrativo. No lugar do trote agressivo, a reitoria da Unesp determina que cada unidade desenvolva atividades de integração.

Passeata

Em Bauru, por exemplo, no ano passado, as três faculdades (de Ciências, de Artes e Comunicação e de Engenharia) se uniram para distribuir 1,5 mil folhetos entre veteranos e novatos.

O material abordava riscos do trote, consumo exagerado de bebidas alcoólicas, perigos da aplicação de tintas na pele e de objetos cortantes.

O vice-diretor da Faculdade de Engenharia de Bauru, Jair Wagner de Souza Manfrinato, conta que naquela ocasião grupo de veteranos cortou os cabelos e pintou o corpo de diversos “bichos”. O fato foi registrado com fotos, filmagens, relatórios e aberto processo administrativo contra esses universitários. “Além de repreendidos, como punição foram convidados a integrar a Comissão de Recepção dos Calouros 2007”, informa Manfrinato.

Com a ajuda de professores, eles prepararam atividades que serão realizadas de 26 de fevereiro (início das aulas) a 2 de março. Além da tradicional exposição dos cursos e aulas inaugurais, está prevista exibição de um grupo musical da região e campeonato esportivo e de jogos.

Para participar do campeonato e assistir à apresentação do grupo, basta que os “bichos” e veteranos doem um quilo de alimento não-perecível, destinado à instituição carente. Apresentação de orquestra de violinos e palestra sobre doenças sexualmente transmissíveis e drogas também são destaques da programação. Haverá ainda Passeata pela Cidadania, que pretende levar às ruas de Bauru cerca de mil pessoas, entre novatos e veteranos.

“Cerca de 90% dos nossos alunos são de fora. Bauru tem quatro ou cinco universidades, mas os estudantes não se envolvem com a cidade. Com a passeata, queremos despertar neles não apenas as noções de cidadania, mas também o interesse pela cidade”, frisa o vice-diretor.

Viviane Gomes – Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)