Reabilitação do Instituto do Câncer eleva autoestima e estimula movimentos do paciente

Serviço atende pessoas com diversos tipos de câncer para incentivar a autonomia e independência nas atividades diárias

qui, 22/04/2010 - 18h00 | Do Portal do Governo

O médico desconfiava de anormalidade na mamografia, mas Célia Dolores Mingues Campos, 52 anos, não se preocupou com a possibilidade de câncer, pois apalpava as mamas e não sentia dor, nem caroço. Um ano depois, em fevereiro de 2008, ela decidiu fazer novos exames e recebeu o diagnóstico de tumor. Foi encaminhada ao Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), onde operou no mês seguinte. Após oito sessões de quimioterapia, Célia iniciou a reabilitação em janeiro do ano passado: “Não podia nem levantar o braço porque doía muito. Todas as atividades simples ficaram difíceis para mim. Durante uns três meses dependi do meu marido para tomar banho, vestir, comer”.

No Serviço de Reabilitação do Icesp a paciente recebeu orientações para melhoria de seus movimentos físicos, dicas de exercícios para fazer em casa e melhorar a drenagem do sangue nos membros superiores, cuidados com a pele (debilitada pelo tratamento oncológico). O dia 8 de abril foi uma data muito especial para Célia e sua família. Naquele dia, ela sorria e orgulhava-se de ter conseguido a alta médica e pela reconquista parcial dos movimentos físicos. “Meu braço esquerdo não chegava à altura do peito. Agora vai até o teto”, festeja, ao movimentar os braços e levá-los ao alto, com vigor.

Fraqueza e fadiga

O Serviço de Reabilitação do Icesp existe desde agosto de 2008. Dispõe de 80 profissionais, entre fisiatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, enfermeiros e educadores físicos. Devido aos diversos tipos de câncer e ao tratamento agressivo (cirurgia, quimioterapia e medicamento), o paciente fica debilitado, apresenta limitação funcional e dificuldade de realizar atividades do dia-a-dia.

Entre os sintomas mais comuns, dependendo do estágio da doença, a pessoa sente dor, limitação dos movimentos, compressão da coluna vertebral, comprometimento dos nervos, fraqueza muscular, fadiga, inchaço dos braços e mãos. Metade dos pacientes atendidos no setor tem diagnóstico de tumor nas mamas. Os demais apresentam casos de câncer de intestino, sangue (hematológico), pulmão, sistema nervoso central, próstata, entre outros.

“Aqui, a reabilitação é ampla. Recebemos desde pessoas com dor crônica até casos de paraplegia, hemiplegia (paralisia de uma parte do corpo pela paralisia cerebral) e amputação”, informa a fisiatra Christina Brito, coordenadora da Reabilitação. O setor oferece tratamento, educação e orientação ao paciente e familiar, de acordo com a necessidade, para ele atingir o máximo de seu potencial físico, psicológico e social.

Num caso de metástase na coluna vertebral, por exemplo, é comum o doente apresentar mau funcionamento na bexiga, intestino, perda de sensibilidade (pouca proteção na pele), risco de deformidade das articulações, dor e problema psicológico. A terapeuta ocupacional estimula a funcionalidade e independência, sendo às vezes necessária a introdução de adaptações ou órteses para o uso dos braços em atividades do dia-a-dia. Os demais profissionais também atuam para a completa recuperação da saúde física, mental e inclusão social.

Atoestima melhor

Na sala da terapia ocupacional, a decoração simula o ambiente domiciliar. Cama, geladeira, fogão, penteadeira, escrivaninha, escova de cabelo, roupa de cama e utensílios de cozinha estão disponíveis para o treino. Em função da perda de sensibilidade, o paciente é incentivado a adaptar o uso de alguns objetos – garfo e mouse de computador – em tamanho maior que o comum.

No caso da mulher com tumor de mama, a cirurgia também elimina linfonodos (pequenos órgãos do sistema linfático, responsáveis pela drenagem de líquidos no corpo). O acúmulo de líquidos resulta no inchaço dos braços e dor nos ombros, o que limita o movimento. Além de incentivar a autonomia e independência da pessoa nas atividades diárias, a terapeuta ocupacional Maria Inês Paes Lourenção explica que a sala simula tarefas profissionais. Por exemplo: professor que precisa escrever no quadro, o atendente que utiliza o computador. “Avaliamos as funções de trabalho e as adaptamos para serem realizadas, talvez de forma diferente, às vezes mais lenta”, conta a médica.

A sala sugere outras adaptações como instalar prateleiras de casa em posição mais baixa. “A ideia é que o paciente se conscientize da importância de economizar energia física nas tarefas diárias, para sobrar disposição ao lazer, que também faz parte das atividades de recuperação da autoestima”, informa a terapeuta Maria Inês.

Controle da dor

O primeiro cuidado do Centro de Reabilitação começa logo após a operação. A fisiatra Christina informa que o tempo necessário para a alta médica depende da necessidade e evolução de cada doente, que é incentivado a fazer exercícios físicos também em casa.

A equipe multiprofissional atua nos ambulatórios e nos leitos, para apoiar os internados. Após a operação, geralmente o paciente frequenta duas ou três vezes por semana o Centro de Reabilitação, instalado no térreo do Icesp. Nesse local, situam-se a sala da terapia ocupacional com o “ambiente doméstico” e diversos aparelhos, entre eles bicicleta ergométrica.

Todo mês, realizam-se cerca de 1,5 mil atendimentos ambulatoriais de reabilitação. Na internação, o trabalho do fisioterapeuta representa 7 mil atendimentos, e o do fonoaudiólogo, 270. Entre os resultados da atuação da equipe, Christina ressalta o controle da dor, ganho de autoestima, melhora de humor e das habilidades físicas. A assistência no Icesp depende de encaminhamento da rede básica de saúde.

“Nota mil”. É a opinião de Mercedes Martins Araújo, 59 anos, de Vila Guilhermina, zona leste, sobre o Icesp. Em tratamento de câncer de mama desde novembro do ano passado, ela não economiza elogios: “Os profissionais são gabaritados, atenciosos e se dedicam totalmente. É uma extensão da família”. Mercedes diz que a atenção da equipe é fundamental, “pois se o médico não atende bem, o paciente sai até pior do hospital”. Sem previsão de alta, ela faz sessões de drenagem linfática, terapia psicológica e ocupacional e condicionamento físico.

Da Agência Imprensa Oficial