Reabilitação do HC de Ribeirão Preto também tem seu campeão paraolímpico

As medalhas conquistadas pelo nadador Denis Gonçalves é apenas um dos exemplos dos resultados obtidos pelos pacientes do centro

sáb, 08/09/2007 - 17h11 | Do Portal do Governo

O Grupo Multiprofissional de Apoio ao Indivíduo Portador de Trauma Raquimedular do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, trabalha com a reabilitação física pós-operatória, e a integração social. De 2001 a 2006, contabilizou o acompanhamento de 77 pacientes vítimas de lesão raquimedular. Em vários casos, conseguiu a recuperação da capacidade física para desenvolvimento de marcha com o auxílio de órteses. Em um deles, contribuiu para o aparecimento de um campeão.

O nadador, Denis Anderson Gonçalves

Vítima de um trauma raquimedular ocasionado por um acidente automobilístico, em novembro de 2004, aos 26 anos de idade, o bombeiro civil, Denis Anderson Gonçalves é um exemplo de paciente bem sucedido no processo de reabilitação. Além da capacidade marcha, ele conseguiu desenvolver com destaque a prática da natação.

A modalidade esportiva iniciada como “um suporte para a reabilitação emocional”, no período da recuperação pós-operatória, concorreu para o surgimento de um campeão. Em novembro de 2006, ele recebeu duas medalhas de prata e o título de segundo melhor atleta paraolímpico, no 1° Campeonato Universitário Paraolímpico Brasileiro, em Uberlândia (MG). Recebeu também o título de campeão regional, com a obtenção de três medalhas de ouro, nos Jogos Regionais de Bragança Paulista, em 2007.

Morador de Santa Cruz das Palmeiras, Denis Gonçalves viaja de ônibus para praticar natação em Campinas, freqüentar o segundo ano de direito na FACAB (Faculdade Casa Branca) e as sessões semanais de fisioterapia, no Serviço do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Todas as viagens são feitas sem acompanhante. Ele disse que conseguiu “uma liberdade pessoal e independência física completa” graças ao serviço de reabilitação do Grupo Multiprofissional do Hospital. “Isto eu ganhei tudo aqui no HC”. 

O atendimento começa na fase agudaCom a proposta de reabilitação pós-trauma e adaptação às novas condições físicas, o atendimento do Grupo Multiprofissional de Apoio ao Indivíduo Portador de Trauma Raquimedular, começa na fase aguda da lesão.  Os primeiros cuidados oferecidos pelos diferentes membros da equipe, consistem no posicionamento físico adequado e na prevenção do aparecimento de complicações como deformidades, ou úlceras de pressão. No Serviço de Fisioterapia, o lesado medular “pratica o fortalecimento da musculatura remanescente” e recebe treinamentos de controle de tronco e das transferências, além da  prática das atividades cotidianas. “Visando o retorno às atividades funcionais, respeitando sempre o nível de lesão”.

Além do atendimento integrado, o Grupo promove ciclos semanais de atualização, com a apresentação de palestras, para os pacientes, familiares, cuidadores e profissionais da saúde, que desempenham suas atividades junto ao paciente portador de “seqüela do trauma raquimedular”. Nestes encontros, além de orientações sobre os cuidados com a pele e as funções orgânicas, os participantes têm orientação sobre nutrição, inclusão social, aspectos psicológicos, função sexual, auto-suficiência e prática de esporte adaptado.

Constituído oficialmente em 2000, por ato da Superintendência do Hospital das Clínicas, o Grupo Multiprofissional de Apoio ao Indivíduo Portador de Trauma Raquimedular é formado pelas enfermeiras de Ortopedia, Cíntia F. Baccarin Biaziolo e Maria Helena Y. Takeno Cologna, a fisioterapeuta, Elaine Cristine Lemes Mateus de Vasconcelos, as terapeutas ocupacionais, Gisele Brides Prieto e Renata Sarmento Gonçalves Galante, a psicóloga, Patrícia Salzedas, a nutricionista, Renata Aparecida Dalalio, a assistente social, Vanessa da Cruz e a docente e enfermeira, Profª. Dra. Maria Helena Larcher Caliri.

Sexo masculino é a maior vítima de lesão

Um estudo do Grupo Multiprofissional de Apoio ao Indivíduo Portador de Trauma Raquimedular, do Serviço de Fisioterapia do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, demonstrou um índice significativamente maior de pessoas do sexo masculino vítimas de lesão raquimedular. Entre 77 pacientes, de ambos os sexos, que tiveram atendimento no Hospital, por este tipo de lesão, no período de 2001 a 2006, a porcentagem masculina foi de 87,01%.

Segundo o levantamento “a etiologia (causa) mais freqüentemente relatada foi acidente automobilístico em 31 indivíduos com TRM (Trauma Raquimedular) aparecendo, em seguida, ferimento por arma de fogo em 14 casos”. Ainda de acordo com a pesquisa, “o nível da lesão raquimedular encontrada na maioria dos pacientes foi torácica”. Baseado no fato de que a média de idade dos pacientes era de 33,05 anos na ocasião do trauma, o estudo concluiu que as vítimas “tinham uma rotina de vida bastante ativa e se colocavam em situação de risco”. Na amostra analisada, houve a ocorrência de seis casos de óbitos.

Situações de risco

O cirurgião da coluna vertebral, especialista em lesão traumática e Professor do Departamento de Biomecânica, Medicina e Reabilitação do Aparelho Locomotor, da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo), Helton Luiz Defino, atribuiu o índice mais elevado de lesão medular com pessoas do sexo masculino, às situações de risco relacionadas aos acidentes automobilísticos, mergulhos em água rasa, acidentes no trabalho e ferimentos por arma de fogo.

Segundo ele, “o sexo masculino está mais exposto” aos acidentes de trânsito em razão dos casos de embriaguez; às atitudes violentas com o uso da arma de fogo e à imprevidência no mergulho em água rasa. Disse que já existem estudos em Ribeirão Preto, que demonstram um número maior de acidentes com mergulho em água rasa, nos períodos em que a temperatura fica mais elevada. “O calor aumenta, o número aumenta. E geralmente é jovem do sexo masculino que vai mergulhar ou na piscina, ou na lagoa ou rio, sem tomar conhecimento da profundidade”. As quedas de árvores ou telhados, também estão entre as circunstâncias causadoras das lesões traumáticas. “Na realidade, a grande maioria você pode evitar. Falta esclarecimento, respeito às regras mínimas. A pessoa nunca acha que pode acontecer com ela”.

Quando acontece uma lesão, a assistência clínica começa pela preservação da vida. O Prof. Dr. Helton Defino disse que a fratura de coluna pode vir acompanhada de outros traumas. “O objetivo do primeiro tratamento é reconhecer as lesões vitais e tratar”. Quando há diagnóstico de trauma na medula espinhal, ele explica que uma das funções da coluna vertebral é proteger o sistema nervoso central. “O prolongamento do cérebro que está dentro do canal vertebral é a medula: um tecido altamente sensível e nobre que uma vez lesado, não recupera”.

Depois da medicina de urgência e da cirurgia estabilizadora da coluna, entra o serviço do Grupo Multiprofissional de Apoio ao Indivíduo Portador de Trauma Raquimedular. O cirurgião defende que a recuperação do paciente lesado está francamente aliada a este tipo de assistência e que o trabalho de reabilitação “faz a diferença a longo prazo”.

O Prof. Dr. Helton Defino idealizou a formação do Grupo Multiprofissional de Atendimento ao Paciente com Trauma Raquimedular, que foi implantado com o apoio e o assessoramento da Profª. Dra. Maria Helena Larcher Caliri, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto-USP, em 1998. Ele informa que a falta da assistência multiprofissional pode levar o paciente ao óbito, devido às complicações secundárias, relacionadas ao aparelho respiratório, na fase aguda e as infecções decorrentes da úlcera de pressão, ou problemas renais, na fase crônica. “Naqueles casos de pacientes que tiveram um bom atendimento e que foram capazes de assimilar, aquilo que o Grupo oferece, eles acabaram sendo reintegrados na vida social e profissional”.

Do HC de Ribeirão Preto 

(I.P.)