Quilombolas e assentadas comemoram Dia da Mulher

O evento foi realizado na Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo

sex, 06/03/2009 - 18h37 | Do Portal do Governo

Elas vieram de todas as partes do Estado. Algumas haviam viajado a noite toda só para estarem juntas no evento ‘Mulheres do campo – trabalho e conquistas’, em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, promovido pelo Instituto de Terras do Estado de São Paulo (Itesp) na tarde da quinta-feira, 5. “Há quanto tempo eu luto, minha filha? Eu luto desde que nasci!”, resume, sempre sorrindo, Clotilde Pereira – a dona Tide, quilombola de Eldorado, uma das homenageadas durante o evento. Dona Tide, que teve reconhecido sua ação em defesa do meio ambiente, não deixa a peteca cair, do alto dos seus 74 anos de idade. “A gente tem que batalhar pelo que acredita”, afirmou, ao lado de outras centenas de mulheres.

O evento, realizado na Associação dos Oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo, contou com um painel com relatos das experiências vividas por uma quilombola, uma assentada e uma técnica do Itesp, além da exposição de fotos “Mulheres do Campo”, exposição de artesanato e produtos da agricultura familiar e apresentações musicais.

As homenagens às mulheres assentadas e quilombolas que se destacaram em defesa dos direitos humanos e de cidadania, na cultura e na defesa da preservação da cultura e das tradições e no empreendedorismo foram o ponto alto da tarde, misturando a vibração de mulheres lutadoras que, apesar do cotidiano difícil na roça, não perdem a alegria de viver, com a emoção dos familiares das que foram lembradas in memorian.

“A gente já conquistou muita coisa, mas não podemos adormecer. Temos todas as mesmas dificuldades, somos todas mulheres e precisamos continuar a lutar por um mundo melhor, por nós e nossos filhos”, disse Maria Nazaré Montemor, do assentamento Santana, ex-vereadora e membro do Conselho Curador do Itesp, homenageada pelas conquistas nas áreas de educação, saúde, habitação e organização de mulheres. Antonio Segura, que recebeu o prêmio recebido por sua mulher, Maria Aparecida ‘Cida’ de Jesus Segura, não conteve a emoção. Cida, falecida em Sumaré em 2003, foi premiada por suas ações como militante do MST, CUT e da Organização Estadual das Mulheres. “Ela foi uma líder e para mim é uma honra estar aqui hoje”, afirmou.

Ações

A Fundação Itesp, vinculada à Secretaria de Justiça e Defesa da Cidadania, considera que as mulheres exercem um papel essencial na organização e desenvolvimento dos quilombos e assentamentos, ao mesmo tempo em que constituem um segmento mais vulnerável às dificuldades sociais e econômicas. Atenta a essa realidade, a fundação tem estimulado a participação das mulheres na reivindicação de políticas públicas, apoiando através de sua política de Assistência Técnica e Extensão Rural, a organização de grupos de mulheres nos assentamentos e comunidades quilombolas.

O 1º Encontro de Mulheres Assentadas, realizado em 1998, em Castilho, região de Andradina, seguido por mais cinco edições desde então, traduzem o resultado dessa política. Além das discussões sobre saúde, educação, previdência social rural, geração de renda, os encontros geram espaços de articulação das mulheres. A constituição da Organização de Mulheres Assentadas e Quilombolas do Estado de São Paulo (OMAQUESP) é fruto dessa articulação. Além disso, várias outras atividades com enfoque no fortalecimento dos grupos de mulheres têm sido executadas, através dos Programas de Formação e Capacitação.

Alguns resultados dessas atividades foram expostos – e, atendendo a pedidos, colocados à venda – no evento realizado nesta quinta-feira. Entre eles, estavam bolsas, tapetes e cestas feitas de fibra de bananeira, doces e bijuterias. E, para a maioria dessas lutadoras, os negócios vão bem, obrigada. Segundo Bernadete Silva Callegare, assentada em Promissão, a união das mulheres em torno da fabricação de doces, iniciada em 1999, hoje produz e vende cerca de 1.100 quilos de delícias por semana! “A mensagem que deixo para todas é nunca desistir”, anunciou.

Planos

Diante desses indicadores, foram elaborados, em 2008, 14 projetos que visam dar apoio ao desenvolvimento e geração de renda dos grupos de mulheres assentadas e quilombolas, com o objetivo de expandir e melhorar a qualidade da produção agrícola, dos produtos processados e dos artesanatos.  Os projetos consistem na execução de obras de construção ou ampliação das unidades produtivas, da aquisição de máquinas, equipamentos e móveis para aprimorar as ações já desenvolvidas, além de ampliar os resultados sociais e econômicos, não só pelo aumento da renda, mas também com a possibilidade de gerar novas possibilidades de trabalho para a comunidade.

Os investimentos ultrapassam os R$ 227 mil, sendo que R$ 181 mil são recursos do PROINF – Pronaf-Infraestrutura (SDT/MDA) e cerca de R$ 45 mil saíram da contrapartida do Itesp. Serão beneficiadas diretamente 232 mulheres e indiretamente cerca de 938 pessoas de diversos grupos. O objetivo é fortalecer a autonomia das mulheres e dar continuidade à sua política de formação, capacitação e desenvolvimento sustentável.

Da Fundação Itesp