Programa de ação social da USP faz a diferença na vida das pessoas

Todo ano, 200 alunos, 70 professores e profissionais formados pela USP deslocam-se a cidades brasileiras e oferecem consultas médicas, exames e palestras grátis

sáb, 08/05/2010 - 9h00 | Do Portal do Governo

Maria da Silva (*) de 60 anos, moradora de Ivinhema, Mato Grosso do Sul, há meses dependia de cadeira de rodas para se locomover. Ela recebeu a visita domiciliar de estudantes de Medicina, Fisioterapia e Odontologia da Universidade de São Paulo (USP) e sua vida não foi mais a mesma. A equipe fez avaliação física, muscular e de sensibilidade na senhora e lhe ofereceu uma bengala, “porque concluiu que era o que ela precisava e não de uma cadeira de rodas. Ela quase chorou de felicidade porque daquele momento em diante poderia ir ao banheiro e fazer outras atividades sozinha, sem depender da família. Para aquela senhora, nossa ida à sua casa fez toda diferença”, afirma Fernanda Coccolin, aluna do terceiro ano da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que se orgulha de sua contribuição social ao participar do projeto Bandeira Científica, realizado durante dez dias no final do ano passado, em Ivinhema.

Esse projeto de extensão universitária extracurricular integra dez cursos da USP: Medicina, Nutrição, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Odontologia, Psicologia, Agronomia, Jornalismo, Audiovisual e Engenharia. A cada ano cerca de 200 alunos e 70 professores e profissionais formados deslocam-se a cidades brasileiras selecionadas para participar da ação social. O município é eleito pela avaliação da quantidade de habitantes (média 30 mil), médio ou baixo Índice de Desenvolvimento Humano (taxa entre 0,6 e 0,7), facilidade de acesso e presença de problemas sociais na área da saúde.

“Também consideramos a estrutura da cidade, por exemplo, se há equipe do Programa de Saúde da Família. Antes de iniciarmos o projeto, conversamos com os gestores locais e verificamos quais as demandas e se existe vontade política de adesão”, explica o médico Luiz Fernando Ferraz da Silva, coordenador geral do Bandeira Científica.

Multidisciplinar

Detectadas as necessidades locais, os futuros especialistas, com apoio de professores e profissionais, oferecem à comunidade atendimento em várias áreas. Levam equipamentos portáteis e realizam exames ginecológicos (ultra-sonografia), cardiológicos (eletrocardiograma), de sangue, testes oftalmológicos.

Os estudantes de Engenharia coletam amostras de água e do solo para analisar a qualidade do precioso líquido. Verificam o perfil do solo e seus nutrientes para descobrir quais são as culturas agrícolas mais apropriadas. Na área de Odontologia, os universitários atendem à população e oferecem próteses dentárias. Pela assistência oftalmológica, após a medição de grau, as pessoas escolhem a armação dos óculos, que será entregue posteriormente, após a colocação da lente.

A expedição inclui ainda oficinas e capacitação dos agentes de saúde sobre temas mais recorrentes na região. Em Ivinhema, os alunos da USP discutiram características das verminoses e como combatê-las, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), planejamento familiar, gravidez na adolescência, funcionamento do sistema básico de saúde e correta destinação de lixo hospitalar. Os moradores participaram de palestras sobre cuidados na gestação, riscos de hipertensão, diabetes, escovação dentária, gravidez na adolescência.

Na área de Jornalismo e Audiovisual, os futuros profissionais de comunicação fazem divulgação local sobre o Bandeira Científica, oficinas de jornalismo nas escolas, debate para profissionais de comunicação sobre mídia e produção de vídeo institucional da expedição.

Ao todo, 5.220 pessoas foram atendidas na região, realizados 2.312 exames, 5.635 consultas de profissionais de saúde, 67 palestras, 13 entrevistas, 15 reuniões com gestores, 40 próteses dentárias e doação de 610 óculos.

Chancela da USP

Ivinhema (que tem IDH de 0,73, população de 21 mil habitantes e 73,9% de cobertura do Programa de Saúde da Família) é a primeira cidade do centro-oeste brasileiro a integrar a ação social da USP. Entre as principais carências, havia a necessidade de especialistas em endocrinologia, oftalmologia, psiquiatria e em assistência na reabilitação. O município possui três fisioterapeutas. “Com recursos locais limitados, quais eram as chances desses profissionais consultarem os doentes em suas residências?”, questiona o coordenador.

Além de oferecer assistência à saúde, o projeto Bandeira Científica também se preocupa em avaliar as necessidades locais e sugerir ideias para transpor a situação. Em Machadinho d’Oeste, por exemplo, município do interior de Rondônia, visitado pelos bandeirantes em 2006, foram constatados inúmeros casos de doenças psiquiátricas. “Elaboramos relatório e mostramos que a quantidade de pacientes era superior à média nacional. Sugerimos a criação de um Centro de Atenção Psicossocial (Caps) porque as pessoas viajavam sete horas até Rondônia, onde havia o tratamento”, recorda o médico Ferraz Silva. A prefeitura refez o pedido aos órgãos competentes, agora com a chancela da USP, e foi contemplada no ano seguinte.

O coordenador diz que todo local em que atua o Bandeira Científica é oferecido relatório gratuitamente visando melhorias à população: “Por isso, a vontade política é importante. Após nossas sugestões, o município usará recursos próprios ou disponíveis nas esferas estadual e federal para tentar resolver a situação”.

Em Ivinhema, a expedição ocorreu de 12 a 22 de dezembro de 2009. No momento, os bandeirantes, professores e profissionais analisam os dados coletados e os atendimentos realizados para mensurar as necessidades da região. Depois, visitarão a cidade novamente, conversarão com os gestores e oferecerão o relatório. Pelos convênios, o trabalho foi realizado em parceria com os alunos e professores da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp). O trabalho será acompanhado durante um ano, com a previsão de continuidade de algumas ações do Bandeira Científica.

Reconhecimento

O Bandeira Científica foi vencedor do Prêmio Sem Fronteiras, em 2009, como o melhor projeto de extensão universitária do Brasil. Em 2001 foi reconhecido com o Prêmio Saúde Brasil  – concurso nacional para estudantes universitários de Medicina sobre trabalhos socialmente responsáveis. Foi tema de documentário produzido pela TV USP, que garantiu ao projeto menção honrosa na categoria Universidade no Festival de Cinema de Gramado (2004) e ganhou quatro prêmios em congressos científicos nacionais e internacionais.

(*) Nome fictício

Da Agência Imprensa Oficial