Professores da rede pública conhecem técnicas de manipulação genética no HC

Participantes do curso de Biologia Molecular, os professores viram na prática como é o DNA humano

ter, 07/08/2007 - 21h19 | Do Portal do Governo

Durante visita ao Laboratório de Genética e Cardiologia Molecular do Instituto do Coração (Incor) do HC da USP, professores da rede pública de ensino conheceram as mais modernas técnicas de manipulação genética e se inteiraram das novas pesquisas. Viram o DNA humano (transparente e menor que um grão de soja) e observaram o funcionamento dos aparelhos utilizados no processo de identificação de genes.

O passeio pelos laboratórios do instituto foi uma aula prática do curso gratuito de atualização em Biologia Molecular oferecido aos professores. O curso foi feito em parceria com o Colégio São Luís, onde ocorreram as aulas teóricas. Diante das últimas novidades na área de Biologia Celular, os professores ficaram maravilhados e surpresos.

A comparação dessa realidade com a que vivenciam no cotidiano escolar foi inevitável. “Estamos de espada contra raio laser”, sintetiza o professor de Biologia Gerson dos Santos. “Além da lousa, giz e caderno, temos no laboratório apenas sapo, cobra e feto humano em formol”, explica. O professor Otávio Gonzaga Nunes comenta que a realidade dos laboratórios escolares é a do século 19.Conhecimento recente e especializado – A professora Merisol Marin diz: “Nunca tive contato com esses equipamentos, só com os microscópios”. Ela conta que “não tinha a menor idéia da existência de um andar inteiro de laboratórios (ocupa 1,2 mil metros quadrados) nem sabia das pesquisas”. Acrescenta que o conteúdo do curso é atual e serviu para esclarecer muitas dúvidas.

O impacto não ficou restrito apenas a quem leciona há 20 anos, como é o caso dos três. A professora recém-formada Maria Paula Gonçalves ressalta que “o conhecimento obtido no curso vai muito além do aprendido na faculdade e nos livros didáticos, porque é atual e sofisticado. O desafio agora é passar essas informações aos alunos. Clonagem terapêutica e célula-tronco eles vêem na televisão e na Internet”.

O coordenador do curso e diretor do laboratório do Incor, José Eduardo Krieger, confirma que as pessoas se surpreendem com os laboratórios. “Até mesmo os convidados estrangeiros”. Entre os assuntos tratados pelo curso estão os transgênicos (organismos geneticamente modificados), clonagem, genoma, terapia molecular e genética, células-tronco e DNA (medicina forense).DNA em bituca de cigarro – Krieger disse que a principal tarefa do curso é acabar com o que ele chama de “síndrome da segunda-feira”. “A mídia detalha as notícias no fim de semana e os alunos chegam à escola na segunda-feira, às vezes, mais bem informados que o professor. O desafio é passar conhecimento especializado e recente para que eles possam responder às indagações com clareza e segurança”.

O diretor faz questão de explicar que a maioria das informações passadas aos professores não está nos livros. “Na ciência, o conhecimento é dinâmico e as verdades, transitórias. Por isso é fundamental a educação continuada”. Diz ser um “desperdício e até uma irresponsabilidade” o laboratório, que é referência no País, não exercer seu papel de formador de recursos humanos.

Entre as informações divulgadas estão a de que é possível coletar DNA numa bituca de cigarro e que temperaturas extremamente elevadas destroem DNA e proteínas. Assim ficaram sabendo que a identificação dos corpos do maior acidente aéreo brasileiro (o do vôo da empresa TAM ocorrido em Congonhas, com 199 mortes) poderá ficar prejudicada por que parte do material genético deve ter sido destruída.Pôr DNA em peixe e bactéria – Para entender como é feita a identificação genética, eles presenciaram todos os procedimentos necessários: da separação do DNA de amostras de sangue humano até a sua chegada no aparelho chamado Eletroforese (capaz de analisar 96 amostras de genes simultaneamente). É nesse aparelho que os especialistas do laboratório analisam os genes responsáveis pela hipertensão arterial e riscos cardiovasculares.

“Com o nosso banco de genoma verificamos se há mutação genética num determinado gene e se podemos associá-lo como causador da doença”, explica Allyson Coelho Sampaio, pós-graduando do Incor. Os visitantes conheceram a pesquisa da aluna de mestrado Deborah Sobreira, sobre prevenção e cura de doenças neurais. Com agulhas finas, a estudante introduz DNA de camundongos em peixes para observar o desenvolvimento do coração e do tubo neural e testar drogas que possam inibir doenças cerebrais.

“O peixe é o ideal para essa pesquisa porque é limpo, se reproduz rapidamente e é fácil de visualizar a célula-tronco no embrião e colocar o DNA”, explica Deborah.  Outro pós-graduando do Incor, Rafael Soares, coloca DNA em bactérias para fazer clones com baixo custo de forma veloz. “A produção de clones serve para diversas pesquisas de DNA”.Cebola, morango e banana – Os professores viram também o mapa (seqüência de bases nitrogenadas ATCG) do genoma da bactéria Xylella Fastidiosa, causadora do amarelinho que destrói laranjais. O genoma foi mapeado pelos pesquisadores brasileiros, muitos deles do Incor. O professor Nunes disse que gostou mesmo de levar para os alunos receitas simples e didáticas de como extrair DNA de bulbo de cebola, morango e banana.

“Com um instrumental básico de química e a receita completa (com as seqüências, reagentes) é possível extrair o DNA dessas plantas de forma simples e artesanal. Tudo isso sem se preocupar com a lei e a contaminação”, comemora Nunes. Apreciadora de picanha mal passada, Merisol agora não se preocupa em saborear a carne: “As pessoas acham que é sangue e sentem nojo. Na verdade, é a proteína mioglobina, de cor avermelhada”.Curso na Internet – O curso é elaborado, há três anos, pelos alunos de pós-graduação. As explicações são oferecidas por eles e pelos especialistas da área. Krieger diz que faltam canais de divulgação do curso e adequação de datas para que as novas descobertas cheguem até os professores. Os próximos eventos deverão ocorrer em janeiro ou fevereiro, período mais longo de férias escolares.

Além de contato com a Secretaria de Educação, escolas e associação de professores, o coordenador trabalha na criação de uma página no site do Incor destinada ao curso. Nesse endereço eletrônico haverá esclarecimentos de dúvidas, espaço para sugestões, links para as pesquisas e informações sobre as novas turmas do curso.

SERVIÇO

Informações sobre a nova turma do curso poderão ser obtidas, a partir de outubro de 2007, no site do Incor: http://www.incor.usp.br/genetica

 

Claudeci Martins

Da Agência Imprensa Oficial