Professor de Física usa dança para atenuar o medo dos estudantes

Ritmos como forró, tango, rock e merengue são exercitados para usar conceitos teóricos da matéria na Estação Ciência

qua, 21/01/2009 - 16h19 | Do Portal do Governo

O professor Nelson Wilson Paschoalinoto descobriu um jeito diferente de trabalhar, unindo suas duas paixões: a dança e a Física. Quem ouve seus comandos: “Condução! Postura ereta! Não olhem para os pés! Ouçam a música! Sensibilidade!” – não imagina que, na verdade, trata-se de uma aula da disciplina considerada uma das mais complicadas para 90% dos estudantes. Ponto de equilíbrio, massa, volume, temperatura, deslocamento, corrente elétrica e inércia são exemplos de conceitos que o educador introduz na oficina que apresentará na Estação Ciência entre os dias 26 e 30 de janeiro.

Em suas aulas-oficinas, Paschoalinoto utiliza diferentes ritmos para explicar aos alunos diversos fenômenos físicos. Por meio do forró, trabalha o conceito de vetores. Espalha e fixa pelo salão pratinhos plásticos e pede que um casal atravesse o espaço dançando livremente – mas de olhos vendados. Enquanto isso, vai marcando os pratinhos nos quais a dupla esbarra. No final, explica aos alunos que o caminho traçado pelos pratinhos assinalados é formado por vários vetores. Com o tango, trabalha equilíbrio e centro de prumo.

No rock, cada dançarino representa uma molécula, movimentando-se livremente, até o momento em que o professor restringe o espaço, cercando-os com um barbante. Os dançarinos, naturalmente, continuam dançando, porém, esbarrando-se uns nos outros. É a deixa que o professor precisa para ensinar a relação entre moléculas, pressão e temperatura. E assim Paschoalinoto vai trazendo para os alunos-dançarinos a teoria sob a forma de lazer. “O merengue, ritmo bem brincalhão, eu costumo usar para exemplificar o conceito de corrente elétrica”.

Cotidiano – Durante as oficinas, os alunos costumam envolver-se com a dança e em poucos minutos ficam descontraídos e interessados em aprender novos ritmos. “O mais importante nesse momento é não permitir que o exercício se transforme numa aula de dança de salão. Eles até aprendem os passos, mas têm de aplicar ao contexto da Física. Em sala, costumamos usar vários recursos para tornar mais leve o ensino da disciplina, e a dança é apenas mais um”, esclarece o professor.

Paschoalinoto, de 33 anos, é formado em Tecnologia Mecânica e licenciado em Mecânica. Leciona em uma escola de mecânica de aviação e também numa academia de dança. Conta que, assim como a maioria dos estudantes, também detestava Física nos tempos de estudante. “Eu aprendia as fórmulas, mas não entendia o sentido. Aquilo me incomodava. Pensava: não é possível que eu seja tão idiota, tão ruim, para não entender o que está acontecendo”.

Até que certa vez um amigo deu-lhe a dica de tentar relacionar os conceitos da matéria com coisas do dia-a-dia. Disse que a cozinha e tudo o que é feito nela, como aquecimento do forno, preparo de receitas, fervura de água, representam um verdadeiro laboratório de Física. Daquele dia em diante, Paschoalinoto não parou mais de buscar no cotidiano exemplos para a disciplina. “O simples ato de caminhar é uma aula de Física”, garante.

Público variado – Anos mais tarde, quando começou a frequentar a academia de dança, o resultado não poderia ser diferente. Viu no salão a possibilidade de ajudar estudantes que como ele tinham dificuldade com a disciplina. A ideia começou a ganhar forma quando em 2002 apresentou, durante a Semana de Licenciatura em Física, realizada no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet), uma oficina que misturava dança com Física. Fez tanto sucesso que em 2005 decidiu enviar a proposta para ser apresentada no 16º Simpósio Nacional de Ensino de Física (Snef), um dos mais importantes da área no País. “Apresentei a oficina para educadores, mestres, doutores e alunos, e a repercussão foi muito boa”, lembra.

Inscrições – Em 2007, durante a Semana Nacional da Ciência e Tecnologia, Paschoalinoto exibiu-se pela primeira vez na Estação Ciência. No ano seguinte, no Parque do Ibirapuera, reuniu mais de 200 pessoas para aprender Física dançando. O público, bem variado, segundo ele, tem predominância de jovens estudantes e educadores de diversas áreas. O mestre destaca a importância desse intercâmbio entre professores, pois acredita que a dança pode ser utilizada como apoio para outras disciplinas também. “Infelizmente, hoje a maioria dos professores de Física queixa-se de não dar aulas de Física, mas de Matemática, porque os alunos têm muita deficiência nesta disciplina”.

Embora na escola técnica em que Paschoalinoto leciona Desenho e Física não exista espaço para aulas de dança, é comum seus alunos interessarem-se pelo método. Já com seus discípulos da academia, o professor afirma que não toca no assunto Física. “Mas quando um me pergunta por que está caindo em determinado passo, por exemplo, eu não resisto e digo: “Opa! É hora de falarmos um pouco sobre Física”, brinca.Neste ano, de volta à Estação Ciência, Paschoalinoto apresentará sua oficina entre os dias 26 e 30 de janeiro, das 14 às 17 horas. As inscrições podem ser feitas até o dia 23, na Estação Ciência, na Rua Guaicurus, 1.394, ao lado da Estação Lapa da CPTM. Mais informações podem ser obti¬das pelo telefone (11) 3673-7022.

Roseane Barreiros – Da Agência Imprensa Oficial