Por meio da dança, Núcleo Luz transforma a vida de jovens

Projeto sociocultural proporciona aulas práticas e teóricas para inserir diversos jovens no universo das artes

dom, 29/04/2018 - 16h17 | Do Portal do Governo

Danças que movem sonhos e movimentos que manifestam realidades. Em um só lugar, diversos estilos se unem para mostrar que vidas podem ser transformadas em favor da arte. Através do projeto Núcleo Luz, traços como estes ficam estampados em rostos de dezenas de jovens.

Criado pelo Governo do Estado em 2007, o Núcleo Luz desenvolve um trabalho de ensino da dança para jovens provenientes de regiões de São Paulo com altos índices de vulnerabilidade juvenil.

O projeto tem como finalidade estruturar o fortalecimento das relações por meio da participação e do intercâmbio de experiência entre seus integrantes. Localizado no bairro do Bom Retiro, no centro da capital, o espaço oferece diversas atividades de cunho sociocultural para desenvolver o aprendizado da dança e de outras artes.

“Esse trabalho é feito para ampliar a visão de mundo destes jovens, sua autoestima, autonomia e principalmente uma maior assertividade diante das futuras escolhas em suas vidas profissionais e pessoais”, afirma a diretora da entidade, Chris Belluomini.

Diante disso, neste domingo (29), em celebração ao Dia Internacional da Dança, ressaltar o trabalho de um projeto como este é fundamental para que muitas pessoas continuem acreditando nos benefícios que a modalidade traz ao corpo e, sobretudo, à sociedade.

Ciclos

Esses jovens, movidos pela paixão de dançar, chegam ao Núcleo por meio de uma audição. O Núcleo, dessa forma, oferece dois ciclos de formação, cada um com um propósito de aperfeiçoamento.

O primeiro é voltado para jovens de 14 a 19 anos e funciona como um projeto de experimentação da dança. Neste nível, muitos jovens chegam à entidade com habilidades corporais, mas poucas técnicas relacionadas à dança. Por isso, o Ciclo I permite que os aprendizes entrem em contato pela primeira vez com o método e se aprofundem ainda mais nas manifestações artísticas.

“Nós oferecemos 50 vagas para o primeiro ciclo. O jovem pode ficar no máximo três anos participando do projeto, mas sempre que surgem vagas, nós abrimos processos seletivos”, explica a supervisora de articulação sociocultural do Núcleo, Lígia Frugis.

Já o Ciclo II possui um propósito mais amplo. Para ingressar na turma também é necessário participar de audições e, neste caso, é exigido que o candidato já possua alguns códigos da dança. Para este, são oferecidas 30 vagas.

“O II é mais profissionalizante. Espera-se que o dançarino já tenha desenvolvido trabalhos na área e feito aulas como ballet clássico, contemporâneo, entre outras. Ele tem duração de dois anos e meio e possui começo, meio e fim”, afirma Frugis.

Segundo ela, este último dá suporte e instrumento para que os participantes possam auxiliar e dar aulas de dança fora do Núcleo, muitas vezes, em sua própria comunidade. Por isso, os aprendizes do primeiro ciclo que desejam dar continuidade ao projeto têm uma expectativa muito grande de incorporar o grupo.

“Neste caso, eles também devem participar da audição, como qualquer outro candidato. Depois que têm o primeiro contato com as técnicas, muitos sonham em trabalhar com isso”, completa.

Dinâmica

Em ambos os ciclos, os jovens recebem orientações multidisciplinares da dança e de outras artes relacionadas. A ideia é proporcionar uma visão bastante ampla para que todos tenham ferramentas que auxiliem no crescimento profissional e pessoal.

“Nós oferecemos aulas de diversos tipos de danças. Os alunos aprendem técnicas do ballet clássico, contemporâneo, capoeira, danças brasileiras e africanas. Isso vai fazendo uma formação do corpo brasileiro”, ressalta a supervisora.

As aulas acontecem diariamente e, nos dois grupos, os participantes recebem bolsa-auxílio e benefícios. Com essa dinâmica, portanto, eles conseguem trabalhar a dança dentro daquilo do que cada um mais deseja.

Dependendo do espetáculo em questão, o Núcleo fecha parcerias com diversas entidades para realizar as apresentações. Geralmente, elas acontecem em teatros, espaços públicos, escolas, bem como nas Fábricas de Cultura, que estão espalhadas por diversas regiões periféricas.

Movendo sonhos

Diante desse cenário, vale lembrar que não se trata de uma companhia profissional de dança e sim um projeto sociocultural voltado para formação desses jovens. Muitos deles, assim, tiveram suas vidas transformadas e ressignificadas.

Apaixonado por dança, Moisés Santos Matos vive em Itaquera, na zona Leste da capital. O aprendiz entrou para o Ciclo I em 2016 e, hoje, conta sobre os grandes desafios que é fazer parte do grupo.

“Não é só acordar cedo, morar longe e decorar as coreografias. Nós somos em 50 jovens, por isso é importante aprender a conviver com personalidades diferentes. É um esforço que eu tenho certeza que no final vale a pena”, comenta.

O menino, que começou a dançar ainda pequeno dentro da sua comunidade, pretende continuar com a carreira da dança e mostrar para todo mundo que é possível sobreviver de arte.

Talvez Jeniffer Mendes possa ser uma inspiração para Moisés. Aos 23 anos, a jovem se tornou professora de dança após passar pelos dois ciclos do Núcleo. A experiência, segundo ela, foi fundamental para sua formação e, sem dúvida, fez com que novas oportunidades na área se abrissem.

“Foi magnífico participar do projeto. Tanto as aulas corporais como as aulas teóricas me ajudam até hoje. Ele me preparou para vida, porque eu sempre quis ser artista”, conta.

O caso de Jeniffer – e quem sabe o de Moisés – é essencial para fazer com que as pessoas continuem acreditando na dança como uma profissão. “Em um mundo de tantas desilusões, o Núcleo Luz faz com que muitos jovens acreditem e sonhem em uma vida melhor”, completa a professora.