Pomar Urbano do Meio Ambiente atrai fauna para o rio Pinheiros

Programa de recuperação ambiental como Projeto Pomar será ampliado com ciclovia e pista para circulação

qua, 15/10/2008 - 10h02 | Do Portal do Governo

Ciclovia e pista para caminhada em meio à Marginal do Rio Pinheiros, num percurso de 20 quilômetros – do Autódromo de Interlagos até a Usina de Traição. Ao redor: natureza. A construção deve começar no ano que vem. “Estamos em busca de parcerias para concretizá-la”, informa o coordenador técnico do Pomar Urbano, o geógrafo Dagoberto Meneghini.

Ele se refere à nova etapa de ampliação da iniciativa que trouxe a vida de volta à margem do rio. “O horizonte que vislumbramos é que se transforme num grande parque”, conta. As palmeiras jerivás foram as primeiras espécies a retornar à paisagem, escolhidas como símbolo do projeto ambiental. Afinal, no passado reinavam no local e, por isso, foram inspiração para o nome do Pinheiros, o então Jurubatuba, que na língua tupi significa “terra de jerivás” e também “pardo e sujo”.

Provavelmente na época desse batismo a escolha se deu em função da primeira hipótese, embora hoje a segunda seja perfeitamente adequada. O rio está mesmo pardo, sujo, e o que é pior, sem vida. Mas em boa parte de suas margens, a degradação deu lugar à vegetação que há alguns anos havia desaparecido.

O programa de recuperação ambiental foi lançado em 1999, pela Secretaria do Meio Ambiente, com o nome de Projeto Pomar. Essa iniciativa garantiu a recuperação da vegetação em 22 quilômetros de extensão (do Jaguaré até o canal do Ipiranga) com a parceria de 22 empresas e de outras secretarias. É ainda espaço de educação ambiental, de produção de mudas, de visitação, de participação popular (com entrega de mudas, por exemplo) e de pesquisa.

Educação Ambiental – Consolidado e com frutos, no fim do ano passado foi novamente batizado, como o rio, e se transformou no Pomar Urbano. “A alteração foi proposta porque não se trata mais de um projeto, é uma realidade”, afirma o coordenador, em meio às orquídeas que tanto admira. “Sou criador”, revela. A paisagem é formada por elas e muitas outras flores, como lírios, bromélias, cercadas de árvores e arbustos, que juntos somam mais de 170 espécies.

No viveiro, são produzidas mudas a partir das plantas ali cultivadas. “Tem um pouco de cada coisa”, informa Meneghini. O local é também um centro de educação ambiental. Por todo lado há mudinhas plantadas por crianças, que participaram de atividades ali realizadas. “Nosso trabalho tem caráter didático”, diz o geógrafo. Assim ocorre também no orquidário, que começou acanhado e foi ganhando cada vez mais espaço. Hoje dispõe de muitas variedades, cerca de 150, entre orquídeas e bromélias. Das primeiras, há seis nativas da região que haviam desaparecido; alguns exemplares foram coletados perto da Rodovia BR 116, na altura de Embu das Artes, durante a realização de obras do Rodoanel.

Maritacas e capivaras freqüentam o espaço. As primeiras são novatas, atraídas pela castanha-do-maranhão, árvore cujo fruto tem semente apreciada por essas aves. “Olha só, é duro como pedra, e elas conseguem romper”, admira-se o geógrafo. “Plantamos a árvore com esse fim”. Já as capivaras, são moradoras da área. “E têm melhor qualidade de vida do que as que vivem no zoológico. Isso já foi comprovado”, afirma.

“Mas como é possível, se a água do rio é contaminada por esgoto?”, pergunta e responde logo em seguida: “Elas sugam do próprio capim, não bebem a do Pinheiros. Há uma família imensa aqui”. Dividem espaço com preás, carcarás (segundo Dagoberto, essa é a terceira geração da espécie no local), lagartos, sapos, rãs, cobras de duas cabeças, teiús, calangos e muitos pássaros. Há 35 exemplares catalogados.

Diversidade – A criação do programa de recuperação ambiental pela Secretaria do Meio Ambiente há nove anos foi baseada em três pilares: resgate ambiental das margens do Pinheiros, abertura de postos de trabalho para pessoas da Região Metropolitana e promoção da cultura de cuidado com a natureza.

No início não foi nada fácil, lembra a técnica da secretaria Helena Carrascosa e o arquiteto e paisagista Arnaldo Rentes, pioneiros da ação. Tiveram de enfrentar a descrença sobre a possibilidade de resultados em uma área tão devastada, e empenhar-se para convencer os responsáveis pelos trechos do entorno do rio, a Empresa Metropolitana de Águas e Energia (Emae), Eletropaulo e Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), e na conquista de parcerias. Em primeiro lugar, foi realizada a recuperação de um trecho piloto de um quilômetro de extensão, na margem esquerda, entre as pontes do Morumbi e João Dias, para apresentação. Os trabalhos se estenderam de dezembro de 1999 a março de 2000, mostrando o acerto das técnicas de cultivo e de manejo adotadas. A concepção ficou sob a responsabilidade de Rentes, que contou com a ajuda de especialistas do Instituto de Botânica para a seleção das espécies. Para marcar o recomeço, foram plantadas mil mudas de jerivá, uma das mais de 170 espécies adotadas.

Na seqüência, a preferência recaiu sobre as árvores de médio porte da paisagem natural da cidade e as frutíferas que atraem animais (daí o nome Pomar). Espécies arbustivas exóticas, de uso tradicional e rusticidade comprovada, foram incluídas.

O Pomar Urbano reúne vários exemplares da família das mirtáceas, da qual fazem parte a goaiabeira, pitangueira, amoreira, uvaia e cerejeira. Há também manacá, pata-de-vaca, quaresmeira, jasmim, urucum, paineira, ipê, orelha-de-onça, sálvia e maravilha, entre outras.

Conjuntamente, foi lançado pela Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho o Programa Emergencial de Auxílio Desemprego, para combater a exclusão social por meio da criação de postos para trabalhadores sem vaga há mais de 12 meses. Vários cadastrados foram chamados para atuar no Pomar. Mais de 1,5 mil pessoas já passaram por ele e obtiveram capacitação em jardinagem: trabalhavam seis horas diárias, quatro dias por semana (mais um, dedicado especialmente ao aprendizado), durante nove meses. A remuneração é de R$ 240, mais cesta básica.

O programa recebe ainda estudantes de áreas afins como estagiários. É o caso da aluna de Biologia Cynthia Soares Talles da Silva, que chegou há cinco meses. A jovem de 22 anos diz que tem aprendido de tudo no Pomar. “Gosto da diversidade”, conta. Ela enumera as atividades que já desenvolveu: jardinagem, trabalho administrativo e, atualmente, monitoria na educação ambiental. “Quero trabalhar com ecologia, animais, natureza em geral”, afirma, enquanto segura outro freqüentador assíduo do local, o sapo Fred, batizado por crianças visitantes. Para Cynthia, o local “tem um poder mágico. Sem sair de São Paulo esqueço que estou no meio da cidade”.

Aberta a todos – Jardinagem, renovação de canteiros, poda, produção de mudas. O dia-a-dia do Pomar é uma aula de educação ambiental pela própria natureza das atividades que promove e, principalmente, pelo contexto que envolve a iniciativa. “Elas são abertas a todos”, avisa o geógrafo Dagoberto Meneghini: nem é necessário marcar hora para conhecer o espaço. “É só chegar. De segunda a sexta-feira, das 7 às 17 horas, sempre há um monitor na sede”, garante.

Há várias trilhas no local, criadas com a participação dos próprios visitantes. “Recentemente, fizemos um bosque só de goiabeiras junto com alunos de escolas que estiveram aqui”, conta o coordenador. Os grupos podem agendar a ida para serem recebidos com programação especial (leia Serviço). Segundo Dagoberto, alguns solicitam a realização de um safári fotográfico. Outros, preparam lá as mudas que vão usar para criar um canteiro na sua escola ou entidade.

A recepção ocorre na sede operacional que a Secretaria do Meio Ambiente (SMA) instalou na margem esquerda do Rio Pinheiros, nas proximidades da Ponte João Dias, com escritório, sanitários, refeitório, almoxarifado, viveiro, compostagem, miniusina de flotação e uma casa de madeira, que abriga o Núcleo de Educação Ambiental.

Junto a ela, a estação de tratamento, que funciona pelo sistema de flotação, torna a água captada no Rio Pinheiros própria para ser utilizada na irrigação do Pomar. Esse recurso, além de suprir as necessidades, proporciona a possibilidade da discussão pública sobre as questões relacionadas à poluição das águas e ao seu reúso. Outro método de reciclagem é o da compostagem, feita a partir do material da poda. Triturado, fica depositado na área batizada de ‘cozinha’, para que, por meio de manejo, se transforme em adubo e volte para a planta como alimento.

Intervenções há quase 90 anos

O Rio Pinheiros, principal afluente do Tietê na Região Metropolitana de São Paulo, vem sofrendo ao longo do tempo intenso processo de degradação, causado pelas atividades humanas. As primeiras ocorrências se deram como reflexo de uma cultura de colonos adotada por fazendeiros, moradores e empreendedores. Eles deram as costas aos rios e córregos e passaram a descartar o lixo e o esgoto em suas águas.

Depois, vieram as intervenções em sua bacia. Começaram no início da década de 1920, com a construção da Represa do Guarapiranga. O projeto do engenheiro Asa White Billings incluía a reversão das águas do rio, para que, por meio das estações elevatórias da Traição e de Pedreira, fossem levadas em direção à Represa Billings e alimentassem as turbinas da Usina Henry Borden, em Cubatão.

Em 1928, foram iniciadas também as obras de retificação do Rio Pinheiros, para a eliminação das suas curvas. Os trabalhos se estenderam até os anos 1950. Além disso, nas margens foram construídas avenidas e, na pequena faixa de terra que restou, foram implantadas linhas de transmissão de energia, ferrovia, interceptores e emissários de esgotos, oleoduto, cabos de telecomunicações, galerias de águas pluviais e estradas de serviço para as operações de desassoreamento.

Essas obras transformaram esses espaços, outrora pontos de encontro e lazer, em áreas de serviços que a cidade prefere não ver. O Pomar, segundo seus realizadores, tem como objetivo reverter esse quadro e voltar os olhos dos cidadãos novamente para o rio.

Parcerias – Desde o início, o Pomar Urbano baseou-se em parcerias com empresas públicas e privadas interessadas em contribuir para reverter a degradação das margens do Rio Pinheiros. Dessa forma, seu projeto envolveu uma subdivisão do terreno a ser alvo da iniciativa em trechos, que foram “adotados” pelas empresas parceiras.

Elas se responsabilizaram pelas intervenções em suas respectivas áreas, providenciando a contratação dos serviços e aquisição das mudas, sementes e insumos necessários e arcando com os custos de implantação e manutenção. A equipe técnica da SMA elaborou os projetos e os termos de referência para a realização, definindo medidas para recuperação do solo e espécies a serem utilizadas, incluindo quantidade e porte das mudas, além dos tratos culturais a serem executados.

Em janeiro de 2002, o sistema de gestão ambiental do então Projeto Pomar recebeu certificação ISO 14.001 da Fundação Vanzolini. Ela atesta a qualidade dos procedimentos que têm sido disseminados para os parceiros e para outros municípios.

Serviço

Pomar Urbano
Avenida Guido Caloi, 551 – Margem esquerda do Rio Pinheiros – 300 metros após a Ponte João Dias – sentido Interlagos – acesso por estrada de terra à esquerda da pista expressa
Visitação: de segunda a sexta-feira – das 7 às 17 horas
Agendamento de grupos e mais informações:
Fones: (11) 5692-2655 e 5897-3211
Na Internet: www.ambiente.sp.gov.br/pomarurbano

Simone de Marco – Da Agência Imprensa Oficial