Polícia orienta população a escapar do golpe do falso sequestro

Por telefone, bandidos ordenam que a vítima compre crédito para celular ou deposite dinheiro em conta poupança

ter, 13/03/2007 - 12h42 | Do Portal do Governo

 São mais ou menos 22 horas, toca o telefone a cobrar e o dono da casa atende. Do outro lado da linha, uma voz ameaçadora, cheia de gírias, diz ter seqüestrado o filho ou parente próximo da pessoa e pede o resgate. Esse é o crime conhecido como falso seqüestro que a cada dia se sofistica mais e aterroriza as pessoas nas grandes cidades, em especial nas regiões Sudeste e Sul. De acordo com dados da Polícia paulista, de 1º de janeiro até 14 de fevereiro, o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) registrou 3.150 ocorrências do tipo.

Para a polícia, a informação é a melhor arma para combater esse crime. A pessoa não deve se amedrontar diante das ameaças. É aconselhável que a família troque mais informações entre si, de forma que uns saibam sempre onde estão os outros, seus horários cotidianos e como localizá-los com rapidez.

O delegado da Divisão Anti-Seqüestro da Polícia Civil do Estado São Paulo, Wagner Giudice, dá algumas orientações para que ninguém caia no conto.

Munição ao inimigo – Neste golpe, alerta Giudice, o bandido quer pouco dinheiro, mas rápido – seja em depósito numa conta de poupança, em jóias ou em crédito num determinado celular –, e retém a vítima por bastante tempo para tê-la sob domínio. Para abrir poupança, o banco exige menos documentos que para contas correntes. Nesse caso, o ladrão utiliza papéis falsos para não ser encontrado.

“Em seqüestro normal, o criminoso não demora ao telefone com medo de ser rastreado”, diz Giudice. Curiosamente, revela que até agora não houve caso de represália de bandidos contra quem não colaborou com o golpe.

Durante a ligação, o golpista tenta de todas as formas obter dados sobre o suposto seqüestrado, bem como da vítima ao telefone, por meio de perguntas ocasionais. Em razão da forte pressão psicológica, a pessoa acaba por fornecer, sem saber, informações úteis para o criminoso, como o próprio nome do “seqüestrado”, que às vezes não é conhecido.

Uma dica: ao atender o telefone, a pessoa deve observar se a ligação é a cobrar e se procede do Estado do Rio de Janeiro, e também se o sotaque de quem fala é carioca. Muitas das ligações vêm do Rio, geralmente da penitenciária no bairro de Bangu.

Terceira geração – O delegado estima que em 80% das ocorrências o praticante da extorsão liga aleatoriamente para um número, não conhece o nome de ninguém naquele local e procura obter essa informação de quem atende o telefone.

Nos golpes em que são conhecidos os nomes da pessoa supostamente seqüestrada e de alguém da casa onde está o telefone, o bandido obtém a informação geralmente por meio da agenda de um celular roubado. Giudice recomenda que, nas agendas, não sejam citados os vínculos mantidos com os nomes incluídos – irmão, pai, mãe, esposa, filho, namorado, etc. “É tudo o que o bandido quer, pois esses dados dão veracidade às suas ameaças”, explica.

Há quem acredite na existência de uma rede de informantes a trabalho dos golpistas, “o que é muito improvável”, sustenta Giudice. “Neste crime o bandido não tem tempo para sofisticações demoradas, pois não é um seqüestro verdadeiro, planejado de antemão. Ele quer o maior número possível de telefones para tentar o golpe. Se de cem ligações uma der resultado já é lucro”, avalia.

Mas isso não impede que o criminoso, de dentro da cadeia, tenha ajuda externa. Há uma modalidade em que o bandido exige que a vítima leve o resgate, em determinado horário e local, onde haverá alguém a esperar. “Neste caso, se formos avisados, pegamos o comparsa em flagrante”, informa Giudice.

No ano passado, a polícia paulista prendeu 97 pessoas dessa forma, entre elas mulheres e menores. Giudice conta o caso de uma jovem da capital que ajudava nos golpes do seu namorado, preso no interior do Estado. Ela havia atuado em três situações. Na quarta vez em que o valor seria bem maior que os anteriores, num local próximo à Avenida Paulista, sua sorte mudou. Foi presa por extorsão, crime que dá de cinco a oito anos de detenção. Seu namorado deverá ficar na penitenciária por mais algum tempo.

Há sete anos na área, Giudice observa que o falso seqüestro é a terceira geração de um crime que começou há três anos, como o golpe do cartão. O bandido ligava para uma empresa e ameaçava incendiar, metralhar ou jogar bomba no local se o proprietário não comprasse um cartão de celular com crédito para determinado número. Os telefonemas vinham de Bangu I, no Rio. Na fase seguinte, o golpe passou a ser aplicado em residências e pequenos comércios, com a mesma ameaça.

Otávio Nunes

Da Agência Imprensa Oficial

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