Polícia esclarece 522 casos de desaparecimento em apenas 15 dias

Delegacia especializada solucionou 83% dos 21.893 casos registrados no Estado em 2007

sex, 18/01/2008 - 9h41 | Do Portal do Governo

“Teve momentos que pensei que nunca mais ia vê-la, que minha fé tinha falhado, mas hoje o telefone tocou e a esperança se renovou. Quando a encontrei foi uma emoção muito grande porque a gente não quer pensar que tem um familiar morando na rua”. Essas foram as palavras de Celita Lisboa, sobrinha de Almerita Ferreira Lisboa, 49 anos, que estava desaparecida desde agosto do ano passado. Na última terça-feira, 15, os policiais da Delegacia de Pessoas Desaparecidas do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa) a encontraram no bairro do Butantã, na zona oeste da capital.

Nos primeiros 15 dias deste ano, a polícia de São Paulo já solucionou 522 casos de desaparecimento no Estado. A Delegacia de Desaparecidos foi criada em junho de 1935 e é especializada na procura de pessoas e na identificação de corpos. Só no ano passado foram esclarecidos 18.169 casos, 83% dos 21.893 que foram registrados em todo o Estado.

O delegado Francisco Magano, responsável pela Delegacia, explica o caminho que deve ser feito quando uma pessoa desaparece. Segundo ele, a família deve registrar um boletim de ocorrência em qualquer Distrito Policial, na delegacia eletrônica ou diretamente na de desaparecidos. Todos os B.O.s de desaparecimento, que são registrados em distritos comuns, são encaminhados à delegacia especializada. No próprio boletim de ocorrência já vem impresso uma observação contendo o telefone e o e-mail da Delegacia de Desaparecidos. Depois de registrar o boletim em uma delegacia comum, o delegado diz que é muito importante que as famílias levem uma foto do desaparecido até eles. Assim, os policiais podem colocar a imagem e o nome no site da Polícia Civil.

Estratégias

Magano explica como são feitos os primeiros trabalhos de investigação nos casos em que recebem. Segundo ele, quando a família vai até a delegacia com a foto e as características do desaparecido, eles passam por uma entrevista com o delegado e os investigadores. O objetivo é colher informações que possam ajudar a esclarecer as causas do desaparecimento. Depois os policiais fazem uma busca no sistema da Polícia Civil, onde é possível saber se a pessoa teve passagens na polícia ou se está presa. Se nada for encontrado, os policiais checam os corpos que estão sem identificação em todos os IMLs do Estado e também nos hospitais.

Os policiais utilizam também outras ferramentas que ajudam na elucidação dos casos. Um bom exemplo é a quebra do sigilo telefônico do desaparecido, autorizado pela Justiça. A polícia pode rastrear as últimas ligações e ver qual o bairro, o quarteirão ou rua que a pessoa estava quando usou o telefone pela última vez. Outro método usado é o bloqueio do RG. Assim que é registrado o boletim do desaparecimento o documento da pessoa é bloqueado automaticamente e ela pode ser localizada em uma blitz da polícia ou quando vai tirar a segunda via da identidade.

Há várias situações que levam uma pessoa a sair de casa. Magano informa que os casos mais comuns são de adolescentes que foram para alguma festa e não comunicaram aos pais ou de maridos e esposas que se atrasam para chegar em casa e a família registra B.O. E os casos mais complicados são aqueles em que o desaparecido, com memória fraca, sai de casa e não sabe mais como voltar e muito menos informar os contatos da família.

O delegado informa que existem casos que não são considerados desaparecimento, e sim uma fuga. A pessoa sai de casa pela própria vontade, por vários motivos, e não mantém mais contato com os parentes. “Tivemos o caso de um filho que era homossexual e a mãe não aceitava. Ele resolveu ir embora e não falou mais com a família. Nós encontramos o rapaz e pedimos a ele que falasse com a mãe informando que estava tudo bem”, relata.

Emoção

Muitos casos também emocionam a equipe de policiais. O último que o delegado descreve foi em dezembro passado, quando encontraram um irmão gêmeo que havia sumido de casa. “Liguei para a mãe do garoto e ela gritava desesperadamente que tínhamos encontrado o filho. Foi muito bom compartilhar aquela emoção”, diz.

A delegacia e os familiares estão sempre em contato com novas informações que possam ajudar nos trabalhos. Os policiais procuram atender os parentes nos aspectos mais peculiares. Há muitos casos de aflição, de desespero e o atendimento é feito com o objetivo de amenizar a angústia dessas pessoas transmitindo conforto e otimismo com igual propósito de localizar a pessoa.

Em muitos casos o desaparecido volta para casa ou a família o reencontra. O delegado lembra que a maioria não dá baixa no registro e os policiais continuam trabalhando com o objetivo de localizar a pessoa. “O empenho, o tempo que poderia ser dedicado a outras ocorrências acabam perdidos. A família deve comunicar imediatamente a polícia quando o seu ente é encontrado. Assim, poderemos ajudar outros tantos que precisam de nós”, lembra Magano.

“Nota mil para eles, os policiais. Trabalham bem e procuram direito. Hoje posso abraçar novamente a minha tia e quero que outros tenham a mesma emoção que estou sentindo agora”, declara Celita Lisboa.

Caminho de volta

A Secretaria Estadual de Segurança Pública em parceria com a Universidade de São Paulo criou em 2004 o Caminho de Volta. É um projeto de professores de psicologia da USP (Universidade de São Paulo) que atendem as famílias de desaparecidos. O objetivo é colher amostras de material genético dos parentes e que possam confrontar com o desaparecido. Psicólogos ficam todos os dias na Delegacia de Desaparecidos e atendem aquelas famílias que queiram ser ajudadas. Eles entrevistam as pessoas e depois colhem as amostras genéticas. Esse recurso é comum nos casos em que a pessoa não tem RG ou cresceu muito e não dá mais para identificá-la visualmente.

SERVIÇO:

Delegacia de Desaparecidos do Departamento de Homicídios e Proteção a Pessoa

END.: Rua Brigadeiro Tobias, 527, 3º andar.

Fone: 3311-3547/3544

E-mail: pessoasdesaparecidas@ssp.sp.gov.br

 

Vanessa de Paula

Da Secretaria Estadual de Segurança Pública

(I.P.)