PM oferece música de qualidade à população nas tardes de sexta

Apresentações ocorrem diante do QG da Polícia Militar e precedem o arriamento das bandeiras

ter, 10/02/2009 - 10h22 | Do Portal do Governo

São quase cinco e meia da tarde de uma sexta-feira, na Praça Coronel Fernando Prestes, no bairro do Bom Retiro. Um movimento diferente mistura-se ao ir e vir apressado de pessoas que deixam seus locais de trabalho ao final de mais um expediente. São policiais, que caminham, ágeis, entre a área da fachada do Quartel General da Polícia Militar e as duas viaturas estacionadas a poucos metros dali. O que pareceria ser mais uma cena do cotidiano da cidade – uma perseguição policial ou um policiamento emergencial qualquer – é, na verdade, o preparativo para a apresentação musical que a Polícia Militar do Estado de São Paulo (PMSP) realiza semanalmente em plena praça, defronte do QG. Os policiais em questão pertencem ao Corpo Musical da PM. Naquela tarde, apresentava-se a jazz band, formação composta por trompetes, saxofones, trombones, bateria americana, tubadora, teclado e contrabaixo.

Em poucos minutos, as cadeiras dispostas na frente da fachada do QG estão quase todas ocupadas. Bem-humorado, o sargento Eliseu Pereira de Souza abre a apresentação contando um pouco da história da banda. “Nosso corpo musical tem 152 anos e, como vocês podem observar, os músicos, embora todos senhores, estão muito bem conservados”, brinca. Ao primeiro sinal do maestro, tenente David Serino da Cruz, os transeuntes que resistem a parar reduzem o passo para saber o que está acontecendo. Começa a apresentação de músicas conhecidas da música popular brasileira (MPB), bossa nova, um pouco de Quincy Jones, Glenn Miller… A plateia, formada por pessoas de todas as idades, acompanha, meneando a cabeça ou balançando os pés cruzados sobre as pernas. 

Para o aposentado Júlio Schumann, ouvi-los tocar é uma “higiene mental”. Morador da região, confessa-se ouvinte assíduo das apresentações na praça e dá a dica: “Tem que chegar cedo, senão fica sem cadeira”! Sua esposa, Matilde Schumann, aprecia a escolha das canções e a sensibilidade dos instrumentistas. “É um momento para relaxar. Música é vida”, declara.

De celular em punho, o estudante Danilo Costa dos Santos tentava registrar o show com a câmera do aparelho, para depois baixar as músicas no computador. Fã de jazz, acredita que o trabalho da banda é um incentivo à população. “Mostra que a vida não é só violência, tem também momentos de leveza. É um incentivo para todos”. Rodrigo Dadão tem opinião semelhante: “É a polícia mostrando o outro modo de combater a violência. Sem dúvida, este é um símbolo cultural da Polícia Militar”.

Para Rodolfo Leite, o evento na praça aproxima a sociedade da polícia. “Os idosos sentem-se seguros para chegar e sentar, já que é a polícia quem está tocando. A música é tão boa que, se passar algum bandido por aqui, vai querer se sentar para ouvir também”! Sua mulher, Kátia Oltramari, proprietária de uma escola nas proximidades do quartel, acredita que a música “reduz o clima constante de tensão num bairro essencialmente comercial como o Bom Retiro. É gostoso e diferente esse clima de confraternização entre as pessoas”.

“Ainda bem que eles voltaram”, comemora Neuma Ferreira Guimarães, acomodada na primeira fileira de cadeiras. “Já estava sentindo falta! Faz quase um mês que eles não vêm tocar na praça”. Funcionária de uma tecelagem da região, Neuma diz que aprendeu a gostar de jazz quando, há três anos, assistiu pela primeira vez a uma apresentação da banda no local. “Quem os ouve tocar nem imagina como é a rotina desses profissionais. A música transforma”, reflete ela.

Às 18 horas em ponto, o maestro faz pequena pausa na apresentação popular para dar início à execução do Hino Nacional Brasileiro. É hora do arriamento das bandeiras, o que é feito por Rodolfo e Kátia – os convidados do dia para o gesto – enquanto o sino da Igreja Nossa Senhora Auxiliadora chama os fiéis para a missa. Muitos na praça acompanham o hino, cantando baixinho, com a mão no peito.

Ao final, nem os primeiros pingos que anunciavam a chuva que logo cairia afastaram as pessoas, envolvidas pelo ritmo, muitas já com seus guarda-chuvas abertos. Mas a chuva veio mais forte e então chegou o momento de o sargento Eliseu encerrar a apresentação: “Senhoras e senhores, precisamos interromper agora, para pouparmos da chuva nossos instrumentos e também nossos músicos. Muito obrigado a todos”. 

152 anos de história – O corpo musical da PM inclui 139 policiais, que se alternam entre as atividades musicais e as de policiamento. É integrado por uma banda sinfônica, duas sessões de bandas, uma camerata e um coral masculino. Os músicos tocam nos quartéis, na Assembleia Legislativa, no Tribunal de Justiça, em desfiles militares, casamentos, hospitais, asilos, escolas, entre outros locais. O coral e a camerata apresentam-se preferencialmente em ambientes fechados, por questões acústicas, e a sinfônica, uma banda de concertos com repertório essencialmente erudito, apresenta-se com frequência no Teatro Municipal, na Sala São Paulo, no Memorial da América Latina, entre outros. A apresentação diante do QG ocorre há cinco anos, todas as sextas-feiras, às 17h30. São 50 minutos de música de boa qualidade oferecida gratuitamente a quem quiser ouvir. A cada semana, uma formação diferente se exibe na praça, com repertório diversificado.

Em 2008, o corpo artístico da PM prestou 631 serviços musicais em eventos da instituição e para a comunidade, tanto na capital como no interior do Estado. No dia 7 de abril deste ano, completa 152 anos, tendo participado da inauguração do Teatro Municipal, do Viaduto do Chá, da Avenida Paulista, entre muitos outros eventos importantes da história paulista. Teve como regente de coral o sargento José Minczuk, hoje reformado, pai do consagrado maestro e trompista Roberto Minczuck.

Disciplina – Mas os mesmos policiais que levam música a eventos festivos são também escalados para fazer policiamento. Enquanto um grupo está tocando na praça ou ensaiando, os outros trabalham no policiamento. “Nunca o corpo musical apresenta-se completo. Os ensaios dependem tanto dos nossos agendamentos de serviços musicais como da questão do policiamento. Quando temos muitos eventos musicais, os ensaios se reduzem”, explica o capitão Renato Maximiano da Silva, comandante do corpo musical da PM, acrescentando que o policiamento não pode ser reduzido. Nos meses de janeiro e fevereiro, por exemplo, período em que há menos solicitações de eventos, parte dos músicos entra em férias e os demais são deslocados para atuar na Operação Verão, na Baixada Santista.

Quando ingressam na PM, esses policiais já trazem consigo o conhecimento musical. Muitos se especializaram em algum instrumento, seja tocando ou cantando em igrejas, cursando conservatórios ou universidades de música. “Ao entrar na instituição, todo soldado passa por doutrinamento, treinamento, para se moldar àquilo que a farda exige. Independentemente de sermos músicos, trabalhamos na administração, no choque, na Rota ou na seção de materiais, ai vestirmos a farda e sairmos às ruas, a comunidade não quer saber: somos as pessoas encarregadas de dar segurança e combater a criminalidade”, afirma o capitão Renato, regente e clarinetista formado pela Universidade Estadual de São Paulo (Unesp).

A disciplina adquirida no cotidiano do ofício militar parece beneficiar esses policiais, que sabem aplicá-la muito bem na execução das músicas. Ou seria o contrário? Capitão Renato esclarece: “Para estudar música, há a necessidade de concentração, de apurar a audição, aumentar a percepção. O músico é sensível ao som, à percepção visual e é lógico que isso vai contribuir e muito para o seu trabalho no policiamento. Emocionalmente, a música funciona como terapia”.

Hinos para a São Silvestre

O subtenente João Clímaco Adorno é o integrante mais antigo do corpo musical da banda da Polícia Militar. Toca contrabaixo há 35 anos e está na corporação há 29. Formou-se pela Universidade Livre de Música (ULM), depois de ter estudado no Conservatório de Tatuí. Coleciona histórias como músico e policial. Conta que, certa vez, durante uma apresentação musical, um hóspede de um hotel das redondezas disse-lhe que tinha desistido do suicídio ao ouvir as músicas executadas pela banda.

Nas corridas de São Silvestre, é a banda da PM quem recebe o vencedor, tocando o hino de seu país, quando ele cruza a linha de chegada. Mas, como é impossível prever quem será o ganhador, a banda da instituição está sempre lá, pronta e afinada para homenagear o vencedor, seja ele de que país for.

O subtenente e o capitão Renato lembram de algumas passagens curiosas, incluindo a época em que a União Soviética se desfez e muitos países novos surgiram. “Certa vez, recebemos como hino apenas uma letra escrita, sem partitura nem nada”, recorda-se. De todos os hinos que o subtenente Adorno sabe de cor, um deles se destaca: o do Quênia. “Os quenianos já ganharam a maratona algumas vezes. É um hino fácil, simples e curto”, afirma, enquanto entoa um trecho da composição.

Música é a melhor terapia da minha vida

O soldado Eliel Sakihara Matos toca trombone desde 1997, ano em que concluiu o ensino médio. Está há cinco anos na Polícia Militar e é o mais novo integrante do corpo musical. Seu primeiro contato com a música ocorreu na igreja que frequenta, onde costumava cantar. “A princípio, eu achava que não tinha talento para tocar um instrumento. Aos poucos fui ficando curioso, então decidi estudar para ver se conseguia tocar alguma coisa”.

Ainda muito jovem entrou na Aeronáutica, onde cursou música e passou a integrar a banda musical de lá. Nessa época entrou no Conservatório de Tatuí e lá estudou por quatro anos. “Foi ali que realmente a minha formação musical se iniciou. Eu tocava na banda da Aeronáutica e ao mesmo tempo estudava em Tatuí.

Mas o destino do soldado Matos era mesmo a Polícia Militar. Depois de prestar alguns concursos internos na Aeronáutica e ‘ficar na reserva’, foi aprovado, em 2002, no concurso para a PM. Um ano depois de se formar, o soldado, que achava que não tinha talento para tocar um instrumento, já integrava o corpo musical. “Estou aqui, feliz e contente. A música é a melhor terapia da minha vida”, declara.

Roseane Barreiros – Da Agência Imprensa Oficial