Pinacoteca mantém Núcleo de Restauro para conservar seu patrimônio artístico

Profissionais da instituição trabalham com a conservação preventiva que ajuda na preservação da obra

sáb, 16/06/2007 - 10h40 | Do Portal do Governo

Quando você observa o quadro “Caipira Picando Fumo” na Pinacoteca do Estado de São Paulo não sabe que naquela obra, além do autor, Almeida Júnior, trabalhou outro profissional competente, mas quase sempre desconhecido: o restaurador-conservador.

A Pinacoteca abriga acervo especializado em arte brasileira dos séculos 19 e 20 com cerca de 6,5 mil obras. Para manter esse patrimônio cultural em ordem, a instituição conta com um Laboratório de Conservação e Restauro, que zela tanto das obras em exposição como das reunidas nas reservas técnicas – as quais ficam guardadas e não são vistas pelo público. Oito profissionais cuidam deste patrimônio: cinco conservadores-restauradores e três técnicos com experiência na área.

Valéria de Mendonça, coordenadora do Laboratório de Restauro da Pinacoteca, informou que a instituição é a única no Brasil a contar com uma equipe completa. “A maioria dos museus brasileiros utiliza, no máximo, dois profissionais. O grande desafio para os restauradores, em sua maioria, é trabalhar sozinhos, às vezes sem contar com o apoio da própria instituição à qual estão ligados. Além disso, a profissão não é regulamentada.”

No Brasil, existe somente um curso de Restauro, em nível de pós-graduação, na Universidade Federal de Minas Gerais, com duração de dois anos e meio. Na Holanda, Alemanha e Inglaterra, há cursos similares chegam a durar sete anos.

História recente – Os primeiros restauradores foram contratados para a Pinacoteca do Estado em 1992, quando estava na direção do museu o escultor baiano Emanoel Araújo. A partir de 1993 até fevereiro de 1998, foi realizada a reforma do prédio da Pinacoteca, com gastos de aproximadamente R$ 10 milhões. Em 1995, a exposição do escultor francês Auguste Rodin (1840-1917) reuniu 150 mil visitantes em 38 dias e marcou o início de uma nova fase para a Pinacoteca.

O projeto da reforma foi preparado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha, que com ele ganhou, em junho de 2000, o prêmio “Mies van der Rohe” de arquitetura, para a América Latina, da Fundação Mies van der Rohe, de Barcelona. Considerado o nobel da arquitetura, esse prêmio foi criado em 1978. Logo depois, em novembro, foi inaugurado O Laboratório de Restauro, que dispõe de modernos equipamentos para realizar um trabalho eficiente: microscópios de alta precisão (um gigante, importado da Alemanha, e outro de mesa), mesa térmica com vácuo usada no restauro de obras em papel e tela, filtro de ar, tintas especiais (inclusive reversíveis), solventes e vernizes.

Alquimista – Outro diferencial do Laboratório é a localização. “Não ficamos nos subterrâneos do prédio. As portas e algumas paredes são envidraçadas para que o visitante possa ver a equipe trabalhando. Dessa forma acaba a mistificação de que todo restaurador é um alquimista”, disse Valéria. Além disso, a Pinacoteca formalizou parcerias para dar suporte ao trabalho de conservação do acervo, a principal das quais com o Instituto de Física da Universidade de São Paulo.

Manuel Ley Rodriguez, restaurador mexicano, integra a equipe da Pinacoteca há cinco anos. Formado em Arquitetura e Artes Plásticas pelo Instituto Nacional de Belas Artes, trouxe consigo grande bagagem: Trabalhou durante 15 anos na Petróleo Mexicano (Pemex), que patrocina restauros de sítios arqueológicos e de obras de arte mexicanas. “É importante a troca de experiências entre os restauradores. Um profissional desta área deve estar sempre em contato com as novas técnicas. Participamos de vários “workshops” que aprimoram nosso conhecimento”, ressalta Manuel.

Novos moldes – O Laboratório de Restauro da Pinacoteca trabalha com conservação preventiva. A técnica surgiu nos Estados Unidos, na década de 80, como atividade responsável por todas as ações tomadas para retardar a deterioração e prevenir danos aos bens culturais, por meio da provisão de adequadas condições ambientais e humanas.

Atualmente, considera-se o controle ambiental como o principal enfoque de estudo das instituições voltadas para a conservação preventiva dos bens culturais. “As áreas mais problemáticas se referem à umidade relativa do ar e à iluminação. Por isso, quando “recebemos” doações de coleções particulares, muitas obras estão em péssimas condições, porque as pessoas deixam os quadros próximos às janelas que recebem muita luz”, explica Valéria. A Pinacoteca do Estado recebe, em média, 30 doações de obras de arte por mês. E o restauro de uma pintura ou escultura leva, aproximadamente, seis meses.

Maria Lucia Zanelli

Da Agência Imprensa Oficial

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(R.A.)