Pesquisadores da USP organizam livro sobre imagem em produções artísticas

Publicação “Imagem & História” conta com oito artigos, a partir de estudos em unidades da Universidade de São Paulo

qua, 15/08/2018 - 16h06 | Do Portal do Governo

O uso da imagem no âmbito da pintura, fotografia, cinema, dança e na literatura é tema em análise no livro “Imagem & História”, lançamento da Editora Beca. Vale destacar que os organizadores Marcos Fabris e Patrícia Kruger são pós-doutores pela Universidade de são Paulo (USP).

Os estudos foram realizados no Museu de Arte Contemporânea (MAC) e na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). Os especialistas na análise da fotografia e da imagem partilham com os leitores uma investigação que ultrapassa as noções convencionais de representação.

O ensaio de Marcos Fabris é o primeiro dos oito artigos, em que o pesquisador avalia a relevância e a contribuição da exposição emblemática “Magiciens de la Terre”, apresentada em Paris em 1989, que reuniu artistas de diversos países e foi considerada uma das mais importantes do século XX.

“A mostra inaugura uma abordagem e um estilo de exposição internacional inéditos e de grande envergadura. Não apenas abre espaço efetivo para a arte produzida nos cinco continentes, mas almeja, ao menos em teoria, sua equiparação em termos qualitativos”, explica o pós-doutor da USP.

“A iniciativa defendeu o reconhecimento público do valor artístico e cultural da arte não ocidental em pé de igualdade com a produzida no circuito Londres-Paris-Nova York e adjacências”, acrescenta o autor, que destacou que a ação delineou exposições internacionais da sociedade contemporânea, inclusive a Bienal Internacional de Arte de São Paulo.

Reflexões

Na publicação, Patrícia Kruger produz reflexões sobre a criação e utilização de imagens no cinema, no ensaio em que destaca os filmes do cineasta dinamarquês Lars von Trier. “O cineasta tem constantemente travado relações com outros segmentos da cultura e das artes, como a filosofia, as artes plásticas, a ópera, a música pop, a dramaturgia e a literatura”, revela a pesquisadora.

Já o pós-doutorando do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP Pedro Fragelli, dedicado à obra de Mário de Andrade, apresenta, na obra, o trabalho inusitado do escritor em uma produção fotográfica na Amazônia. “Mário de Andrade foi um fotógrafo excepcional. Pode ser considerado, salvo engano, o primeiro fotógrafo vanguardista brasileiro”, enfatiza o pesquisador.

O ensaio de Gabriela Siqueira Bitencourt, doutora em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP, analisa o romance “Manhattan Transfer”, do escritor norte-americano John Dos Passos, publicado em 1925 nos Estados Unidos.

“Na fatura descontínua do romance, o autor incorporou elementos da vida cotidiana, como canções populares, manchetes de jornais, slogans e propagandas que, durante a Guerra Civil, deixaram de cobrir apenas as paredes de tavernas e estalagens para tomar os muros das cidades”, reforça.

“Diante disso, o objetivo do artigo é demonstrar como a apropriação da imagem de uma propaganda da virada do século sobrepõe ao tema explícito do romance um conjunto de conteúdos que condensam, em sua imagem, a ideologia e a história do país”, acrescenta.

Análises

Também participante da obra, o professor do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Marcos César de Paula Soares pesquisa o filme “Verdades e Mentiras” (1976), dirigido por Orson Welles.

“Passados mais de 40 anos do lançamento, o conteúdo parece não ter envelhecido e suas reflexões sobre o estatuto do real e os modos de sua apreensão histórica através das formas artísticas continuam complexas e pertinentes em um momento no qual a obsessão pelo ‘real’ parece dominar parte importante da produção audiovisual mundial”, afirma.

Já a doutoranda do Departamento de Letras Modernas da FFLCH Jane Silveira de Oliveira analisa as relações entre imagem e história no campo da dança. “Na forma de memórias e experiências compartilhadas, as coreografias estão sempre prestes a desaparecer”, diz a pesquisadora.

“Talvez por isso a fotografia tenha se interessado tanto pela dança ao longo de sua história, apesar da aparente incompatibilidade entre as duas artes: a dança ocorre no tempo e no espaço e a fotografia congela o instante em imagens de duas dimensões.” Ela propõe o estudo das fotos de Robert Fraser em um concerto da coreógrafa e bailarina Martha Graham, em 1937.

O ensaio de Paula Barbosa, doutora em Literatura Brasileira pela FFLCH, aborda os romances Pedra Bonita (1938) e Cangaceiros (1953), sob o olhar de José Lins do Rego. “Glauber valoriza na obra do escritor paraibano o suporte memorialista de seus romances, o que possibilitou o aproveitamento de seu contato direto – muitas vezes filtrado pela sensibilidade infantil – com a realidade figurada”, esclarece.

Por fim, o doutor em Teoria Literária e Literatura Comparada pela USP Daniel Santos Garrou demonstra três momentos da formação da pintura francesa do século XVIII, em que busca compreender consequências do processo na crítica do Salão de 1765, do filósofo e escritor francês Denis Diderot.