Pesquisadores da USP debatem sobre conservação ambiental da Amazônia

Promovido pela Fapesp, em parceria com outras instituições, workshop propõe análises acerca da biodiversidade da região

ter, 21/08/2018 - 9h56 | Do Portal do Governo

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e o Brazil Institute, do Wilson Center, em Washington, promoveram na última quinta-feira (16) o workshop “As dimensões científicas, sociais e econômicas do desenvolvimento da Amazônia”.

Vale destacar que a região abrange a maior extensão de floresta tropical e o único lugar onde a própria floresta controla o próprio clima interno, impactando o mundo todo. Com biodiversidade ímpar, a Amazônia possibilita a manutenção de serviços ecossistêmicos e limpa a atmosfera do planeta.

Desenvolvimento

De acordo com especialistas, porém, para que haja um desenvolvimento social sustentável na região, é necessária uma forte base científica capaz de subsidiar políticas públicas que atendam questões relacionadas à população, biodiversidade, meio ambiente e economia.

“É preciso ver a Amazônia a partir de vários aspectos diferentes. Ela não é um jardim botânico, pois não tem um funcionamento ou um impacto linear, e é chave para as mudanças climáticas globais”, ressalta o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP) e membro da coordenação do Programa Fapesp de Pesquisa sobre Mudanças Climáticas Globais.

O funcionamento biológico da Floresta Amazônica regula o clima sobre a região. “A área verde controla o balanço de energia, o fluxo de calor latente e sensível, o vapor d’água e os núcleos de condensação de nuvem que vão intensificar o ciclo hidrológico. E isso só é possível se houver uma extensão muito grande de floresta. Quando ela é fragmentada, deixa de ter essa propriedade”, acrescenta o docente, organizador do workshop, à Agência Fapesp.

Vale destacar que um exemplo do impacto da floresta está na capacidade de armazenar carbono da atmosfera, questão fundamental para as mudanças climáticas. “Mas essa propriedade está diminuindo. Há três décadas, era relativamente mais intensa do que hoje. O problema é se a floresta passar a emitir mais dióxido de carbono que absorver, o que agravaria as mudanças climáticas. O que acontece com a Amazônia interfere no mundo inteiro”, explica Luiz Antonio Martinelli, professor do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena), da USP.

Na avaliação do docente, a hipótese principal para a diminuição de estocagem de carbono tem relação com os eventos extremos, como a seca, que estão mais frequentes e intensos. Isso ocasiona a mortalidade das árvores e a perda em estocar carbono.

“Talvez já estejamos vendo o efeito das mudanças climáticas na Amazônia. E um interfere no outro, ou seja, o evento extremo degrada mais a floresta, degradando a floresta ela emite mais CO2 e aumenta a intensidade e frequência dos eventos extremos”, disse Martinelli.

Desmatamento

Um ponto a ser investigado é o dos diversos serviços ecossistêmicos da floresta, como o processamento de vapor d’água e a absorção de uma quantidade enorme de CO2 da atmosfera.

“O valor dos serviços ecossistêmicos que a Floresta Amazônica realiza equivale a US$ 14 trilhões. Atualmente, o preço da tonelada de CO2 no mercado internacional está em torno de US$ 100, e a Amazônia absorve uma quantidade gigantesca desse gás. Isso vale muito”, acrescenta o professor Paulo Artaxo.

Outro ponto em destaque é o crescimento, nos últimos cinco anos, do índice de desmatamento, que apresentava queda considerável nas últimas três décadas. “Não ter essa floresta em um cenário futuro de aquecimento significa não contar com um ativo econômico que terá muita importância para prevenir prejuízos. Fora isso, se o Brasil quer ter uma meta além dos 7% da produção mundial, é bom valorizar a conservação. Pois, sem esse sistema gigante de irrigação, não será possível atingir a meta. É uma questão econômica”, destaca o pesquisador sênior Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisas Ambientais da Amazônia (Ipam).

A importância de conservar a diversidade de fauna e flora também foi debatida no workshop. A pesquisadora do Inpa Maria Teresa Piedade acredita que é preciso criar um desenvolvimento sustentável compatível com a variedade de formas de vida, e não o contrário. “A biodiversidade está aqui muito antes da nossa vinda e de a região se tornar a última fronteira de acesso a bens e produtos”, diz.

A cientista orienta estudos sobre o impacto na hidrelétrica de Balbina, obra da década de 1980, no município de Presidente Figueiredo, no Amazonas, e que tem desdobramentos até hoje. É importante frisar que o workshop terá sequência em 24 de setembro, no Wilson Center, nos Estados Unidos.

No evento, a intenção também será debater que o entendimento físico, químico e biológico da Amazônia auxilia na compreensão das fragilidades e resiliências, e que é preciso olhar para as dimensões sociais e econômicas da região de maneira integrada.