Pesquisadora da Unicamp investiga composto para substituir gordura trans

Projeto surgiu durante tese de doutorado de cientista na Universidade Estadual de Campinas; tecnologia já foi licenciada

sex, 21/09/2018 - 17h37 | Do Portal do Governo

Cientistas de Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desenvolveram procedimentos para obtenção de cristais microencapsulados de gordura. De acordo com especialistas, a tecnologia desponta como uma possibilidade de substituir o uso de gorduras trans na indústria de alimentos.

É importante frisar que, em forma de pó, esses cristais permitem produzir gordura bastante semelhante, em termos estruturais, de consistência, textura, aparência e sabor à gordura trans, que, se consumida de modo exagerado e em prazo longo, pode causar obesidade e doenças cardiovasculares.

A tecnologia foi licenciada, em caráter não-exclusivo, para a companhia Noviga. Embora não seja a única alternativa disponível no mercado, uma das principais vantagens do produto é a flexibilidade no uso. Outros diferenciais do processo são a cristalização acelerada, a formação de redes cristalinas mais homogêneas e o incremento na textura da gordura obtida.

“Nossa tecnologia é fácil de manusear e de armazenar. Costumamos chama-lo de ‘pó mágico’, pois basta adicioná-lo para modificar a estrutura da gordura. É possível comprar óleo de palma e usar a tecnologia”, explica a porta-voz da empresa e coautora da patente, Maria Cristina Mascarenhas, que desenvolveu os procedimentos durante a tese de doutorado.

Apoio

A iniciativa é conduzida sob orientação da professora Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) e com o apoio do Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), vinculado à Agência Paulista dos Agronegócios (Apta) e à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.

“A gordura trans tem uma característica estrutural que outros tipos de gordura não têm. Então, para conseguir essa mesma estrutura, há várias tecnologias. O cristal microencapsulado é uma das alternativas, que forma uma rede capaz de estabilizar a estrutura e emulsão”, salienta a coautora da patente.

Maria Cristina Mascarenhas revela que a tecnologia está em escala piloto e que a empresa inicia a fase da verificação dos custos de produção. “Como a quantidade utilizada é muito pequena, a tendência é que os custos não sejam tão altos. Temos que verificar o custo da produção em larga escala”, acrescenta.

A obtenção do novo processo ocorre em associação com mudanças estabelecidas pela política de redução de consumo de gordura trans do Ministério da Saúde, com apoio da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para verificação da rotulagem nutricional dos alimentos. Em 2017, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado aprovou um projeto que proíbe o uso de gordura trans nos alimentos, já que o consumo em prazo longo de gordura hidrogenada pode resultar em vários problemas de saúde.

Inovação

É importante frisar que o projeto de lei ainda deve passar por votação na Câmara dos Deputados. A Noviga teve a iniciativa aprovada junto ao programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe I) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). A ação apoia o desenvolvimento de produtos, processos e serviços inovadores em pequenas e microempresas do Estado. “O foco, agora, é no mercado de margarina, recheios e sorvetes”, revela Maria Cristina Mascarenhas.

A porta-voz avalia que a experiência como terceira colocada do Desafio Unicamp 2015, competição de modelos de negócio a partir de tecnologias desenvolvidas na Unicamp, foi importante para que a então pesquisadora adquirisse um olhar mais empreendedor. “A competição nos fez pensar em comercializar a tecnologia. Eu já tinha o conhecimento e entendimento do processo. A disputa nos ajudou a enxergar melhor o mercado”, completa.

De acordo com a professora Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves, a participação da Inova nas negociações e proteção das tecnologias é importante. “A Inova é imprescindível para a elaboração do que pode trazer ganho extra orçamentário para a universidade”, avalia.