Pesquisador do IAC orienta sobre poda de uva Niágara

Com realização de duas podas anuais é possível obter uma safra a mais da fruta

seg, 18/02/2008 - 19h18 | Do Portal do Governo

Não se surpreenda ao encontrar, nas gôndolas dos supermercados, uva Niagara Rosada fora da época em que a fruta é tradicionalmente consumida. Com a realização de duas podas anuais — uma delas temporã —, é possível obter uma
safra a mais da fruta. Apesar de essa safrinha ser um atrativo para os viticultores, que podem conseguir bons preços disponibilizando o produto no segundo trimestre do ano, Marco Antônio Tecchio, pesquisador do Instituto
Agronômico (IAC-APTA), da Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento, alerta que é preciso ponderar se essa poda temporã é realmente vantajosa. As
orientações são bastante relevantes, especialmente para a região de Jundiaí e Louveira, onde a produção de uva Niagara Rosada representa mais de 90% da atividade vitícola. Esses municípios respondem por 30% da Niagara consumida
no Estado.

“A safra da videira está diretamente relacionada à data de poda que, em condições normais, é praticada durante o período de repouso vegetativo das videiras”, explica Tecchio. Nas principais regiões de cultivo da Niagara Rosada no Estado de São Paulo, ela é feita nos meses de julho a setembro e é denominada poda de inverno. Nessa poda, os ramos doentes ou presentes em número excessivo são eliminados na base e os que permanecem na planta,
sofrem uma poda curta, normalmente com uma gema. Já a outra modalidade de poda realizada pelos viticultores, conhecida como temporã, ocorre após a colheita da safra normal, nos meses de dezembro a fevereiro. Além do período
em que é realizado, esse manejo difere-se do tradicional ao exigir poda mais longa.

As informações podem orientar também produtores de outras regiões do Estado, já que São Paulo é o maior produtor nacional de uva para mesa, com aproximadamente 39 milhões de plantas e produção de 189,7 mil toneladas. Dentre as variedades de uva para mesa, destaca-se a Niagara Rosada, que representa 89,1% do total de plantas e 49,1% da produção paulista de uva, segundo dados do Instituto de Economia Agrícola (IEA–APTA), da Secretaria de
Agricultura.

Safrinha

Um dos principais interesses dos viticultores ao optarem por essa técnica é de conseguirem uma fonte de renda a mais no ano – uma vez que após a safra, que se encerra no primeiro trimestre, o vinhedo só irá voltar a gerar divisas, a partir dos meses de novembro e dezembro. “Com essa poda, eles
conseguem produzir duas vezes ao ano”, justifica Tecchio.

Devido à ausência de chuvas que comprometeu a última safra, o pesquisador acredita que a próxima safrinha da uva niagara poderá ter boa produção, embora normalmente a produção da poda temporã seja sempre inferior quando comparada com a poda de inverno.  “No ano de 2007, em função do baixo índice pluviométrico ocorrido após a poda de inverno, verificou-se, em vários produtores, uma redução significativa na produção de uva. Ressalta-se que, a falta de água nas fases de florescimento e início de formação das bagas, é altamente prejudicial para a cultura, havendo menor pegamento,
desenvolvimento das bagas e, conseqüentemente, menor produtividade”. Dessa maneira, o pesquisador acredita que a próxima safrinha da uva Niagara Rosada poderá ter bons resultados em comparação com a safra de 2007. No sistema de cultivo adotado na região de Jundiaí, em média, a produtividade varia de 2,0 a 2,5 quilos por planta na safra, enquanto na safrinha, oscila entre 1,5 a 2,0 quilos.

Desvantagens

O principal aspecto a ser considerado antes de realizar uma poda temporã diz respeito aos maiores custos com o controle fitossanitário e com fertilizantes. Por ser realizada em períodos chuvosos, entre dezembro e fevereiro, essa poda exige uma pulverização mais freqüente do vinhedo, para garantir um bom controle de doenças e pragas. “Dependendo das condições de
clima, normalmente o produtor realiza a pulverização a cada dois ou três dias, o que aumenta o custo de produção”, informa Tecchio. Normalmente, na poda de inverno, os produtores da região realizam pulverizações semanais
para o controle das doenças. O maior uso de fertilizantes é causado pela exigência de reposição nutricional da planta que, por ter mais de uma safra no mesmo ano, precisa de mais adubação.

Tecchio afirma também que uma outra desvantagem da poda temporã é o comprometimento da vida útil da videira. Em média, com a realização apenas da poda de inverno, o vinhedo vive de 15 a 18 anos, enquanto que com a poda
temporã, realizada em anos alternados, a vida útil cai para a faixa de 10 a 12 anos. Ainda pensando nas safras futuras, os produtores devem considerar que, produzindo a maior parte do ano, a plantação se tornará mais vulnerável a pragas e doenças, em função da dificuldade em reduzir a fonte de inoculo de fungos prejudiciais à cultura.

Apesar disso, a safra temporã pode garantir bons rendimentos, ao abastecer o mercado em um período que a fruta está disponível em menor quantidade para o
consumo – entre abril e junho. “A uva niagara cultivada na região de Jundiaí começa a chegar ao mercado no início de dezembro e a oferta diminui a partir de março, quando a uva da safrinha começa a entrar. Isso pode oferecer melhores preços”, pondera Tecchio. De acordo com informações obtidas com produtores da região, o pesquisador acredita que, para ter uma boa rentabilidade, o produtor precisa vender a caixa de cinco quilos da uva entre R$8,00 e R$10,00. Já na safrinha, dependendo da oferta de uva, o
rendimento pode ser igual ou superior a esse valor.

Nos municípios de Jundiaí, Louveira, Indaiatuba, Itupeva e Porto Feliz, a maior oferta ocorre principalmente nos meses de dezembro a fevereiro. Uma colheita mais tardia é obtida na região de São Miguel Arcanjo, estendendo-se
nos meses de janeiro a março. No noroeste do Estado de São Paulo, na região de Jales, a colheita da uva Niagara é realizada no período de junho a novembro.

 

Do Instituto Agronômico (IAC-Apta)(I.P.)