Pesquisa vai avaliar impacto da indústria sucroalcooleira sobre os recursos hídricos

Estudo faz parte do Projeto de Pesquisas Ambientais, um dos 21 Projetos Ambientais Estratégicos do Governo do Estado

seg, 24/03/2008 - 15h35 | Do Portal do Governo

A indústria sucroalcooleira vem apresentando crescimento expressivo, com a multiplicação das usinas em funcionamento no Estado, que passaram de 70 para cerca de 160 em um espaço de tempo relativamente curto. Com base nas estimativas de produção, este ano o setor vai gerar 120 bilhões de litros de vinhaça, como subproduto da produção de 11 bilhões de litros do álcool.

A ampliação do cultivo da cana em todo o Estado e o crescimento da produção do setor motivaram o desenvolvimento do trabalho coordenado pelo Projeto de Pesquisas Ambientais, que visa a avaliação dos impactos da atividade sucroalcooleira sobre os recursos hídricos superficiais e subterrâneos, apresentado na segunda reunião do Conselho Científico, integrado por pesquisadores das instituições vinculadas à Secretaria Estadual do Meio Ambiente e de outras entidades de pesquisa que têm interface com as questões ambientais.

Presente à reunião, o secretário estadual do Meio Ambiente, Xico Graziano fez uma estimativa rápida, com base na exposição de Dorothy Casarini, gerente da Divisão de Qualidade de Solo, Água Subterrânea e Vegetação da CETESB, indicando que a proporção da geração de vinhaça em relação à cana equivale a 300 ml por m2, o que ele considerou como uma situação ainda confortável para a sua utilização como fertilizante na própria lavoura.

O secretário do Meio Ambiente destacou, porém, que o trabalho pode contribuir para as políticas públicas que tenham como objetivo reduzir o impacto ambiental das atividades produtivas da indústria de açúcar e álcool. Ele lembrou dos outros projetos que envolvem o setor sucroalcooleiro, como o Etanol Verde e o Projeto de Recuperação das Matas Ciliares, sugerindo que os efeitos da revegetação das margens dos corpos de água nas áreas canavieiras também sejam avaliados pela pesquisa, verificando se contribuem para a qualidade dos recursos hídricos.

Segundo Vera Bonomi, coordenadora do Projeto de Pesquisas Ambientais, o estudo é um projeto conjunto do Instituto de Botânica, Instituto Geológico e CETESB, vinculados à SMA, além do Instituto de Pesca e o Instituto de Geociências da USP, e está aberto a contribuições de outras entidades interessadas em ampliar os conhecimentos sobre os impactos ainda não conhecidos da indústria sucroalcooleira.

A reunião contou também com a exposição de Dácio Matheus, diretor do Jardim Botânico, que apresentou os objetivos do projeto de pesquisa, e de Roberta Buendia, da Assessoria do Gabinete da Secretaria do Meio Ambiente, que fez um balanço dos 21 Projetos Ambientais Estratégicos.

Dados Apresentados

Ao fazer a apresentação dos dados relativos aos impactos já conhecidos e os procedimentos que o estudo pretende implementar nos próximos 3 anos, Dorothy Casarini destacou que a tarefa dos órgãos ambientais é permitir que a atividade produtiva ocorra sem causar impacto ambiental, reconhecendo que até agora não se tem o controle do que está atingindo as águas subterrâneas e superficiais e é isso que o projeto pretende equacionar.

Além do uso da vinhaça sem controle adequado, a gerente da CETESB listou como fontes de poluição do solo e águas o manuseio e uso inadequado de agrotóxicos, o armazenamento e disposição inadequados dos efluentes líquidos e dos resíduos sólidos. Dorothy detalhou os tipos de efluentes líquidos gerados no processo produtivo da indústria sucroalcooleira, origem, composição e destinação final, fazendo também uma retrospectiva histórica do tratamento dado aos resíduos de produção.

Segundo ela, na década de 70 o principal destino da vinhaça era o lançamento “in natura” em corpos d’água, causando a mortandade de peixes. Em razão desse impacto mais visível, a disposição passou a ser efetuada no solo, em muitos casos sem critérios definidos, prática que passou a ser questionada a partir de estudos realizados na década seguinte, comprovando os impactos na qualidade do solo e das águas subterrâneas. As mesmas pesquisas indicaram, porém, que a vinhaça possui benefícios agronômicos e econômicos, o que resultou no interesse em efetuar a sua aplicação, com base em critérios de fertilidade e do custo do transporte.

Entre os desafios a serem enfrentados, Dorothy incluiu a necessidade de se rever o controle dos resíduos sólidos e líquidos, estabelecer a caracterização química desses resíduos e levantar as informações sobre os efeitos de sua disposição na qualidade das águas, diante do crescimento da produção do açúcar e do álcool, assim como da área plantada.

Dácio Matheus, do Jardim Botânico, informou que a Bacia do Piracicaba-Capivari-Jundiaí foi escolhida como a área para a implementação do projeto. Ao explicar os procedimentos que deverão ser adotados na avaliação do impacto da atividade sucroalcooleira nos recursos hídricos, destacou a necessidade de padronizar as metodologias analíticas e de integrar os dados de monitoramento de qualidade das águas, realizados por diferentes instituições.

Segundo o diretor do Jardim Botânico, a padronização deve ser realizada ainda este ano, quando também serão estabelecidas as áreas e pontos para coletas de amostras de indicadores do impacto, realizados os levantamentos do uso e destino de agroquímicos na região escolhida, assim como a instalação de poços de monitoramento em área com cultivo de cana e em área ainda não plantada. A coleta de amostras e a realização das análises continuam em 2009 e a previsão é que a avaliação esteja concluída em 2010, quando seus resultados serão publicados e divulgados.

Da Secretaria do Meio Ambiente

C.M.