Pesquisa: Químico cria técnica para determinar substâncias tóxicas em combustível

Desenvolvido por aluno da USP, estudo ganhou o Prêmio Petrobras na área de tecnologia de preservação ambiental

ter, 06/02/2007 - 12h38 | Do Portal do Governo

Pesquisador do Instituto de Química (IQ) da Universidade de São Paulo (USP) desenvolveu técnica de determinação de baixos níveis de substâncias tóxicas presentes nos subprodutos do petróleo. A nova metodologia é inovadora, pois a indústria petrolífera monitora algumas substâncias químicas, mas em elevados níveis de concentração.

“É importante observar os baixos índices de concentração de substâncias tóxicas nos derivados de petróleo devido a possíveis efeitos acumulativos dessas composições no meio ambiente, especialmente numa magalópole como São Paulo”, explica o químico Rodrigo Alejandro Muñoz, do IQ da USP.

Ele defendeu, no ano passado, a tese de doutorado Desenvolvimento de métodos eletroanalíticos para determinação de metais e ânions em combustíveis derivados do petróleo, com orientação do professor Lúcio Angnes. No mesmo ano, o trabalho ganhou o Prêmio Petrobras de Tecnologia na área de tecnologia de preservação ambiental.

O estudo, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), deu origem a 12 artigos publicados em revistas científicas brasileiras e internacionais.

Baixo custo

A técnica é eficaz para detectar e quantificar cobre e chumbo nas soluções extratoras. A porcentagem de eficiência é proporcional ao tempo de tratamento no banho ultra-sônico.

Muñoz explica que o banho ultra-sônico para extração de metais de óleos utiliza técnicas de baixo custo e de simples execução: “Os aparelhos empregados são acessíveis a qualquer laboratório”.

Ele diz que a extração auxiliada por ultra-som aumenta a freqüência de análises possíveis: “Podemos tratar dezenas de amostras simultaneamente, o que facilita a aplicação em laboratórios para as análises de rotina.

Outra vantagem é que o banho ultra-sônico inclui o tratamento das amostras para serem analisadas em meio aquoso, onde podem alcançar baixos níveis de concentração. Além disso, o procedimento de preparo de amostras é executado nas condições ambiente de temperatura e pressão, oferecendo segurança ao analista.

O método convencional ocorre em fornos de microondas, que, segundo o pesquisador, é mais lento e emprega condições drásticas de temperatura e pressão. Nesses fornos, a amostra é digerida numa temperatura 220º.

Com a nova técnica, a extração é feita em 15 minutos, em temperatura ambiente. “Ao mesmo tempo, consegue-se estender a escala de todo o processo e extrair esses metais, que são um problema tanto em termos ambientais como no controle de qualidade”, frisa o químico.

Cobre e chumbo

As técnicas de ultra-som, no entanto, foram apenas uma parte do trabalho. Rodrigo Muñoz estudou métodos de decomposição de amostras de petróleo, óleos lubrificantes, óleo diesel e óleos combustíveis nos diferentes fornos de microondas em colaboração com um grupo de pesquisa. Cada um foi adaptado à técnica eletroquímica de detecção mais adequada, todas de baixo custo.

Muñoz e sua equipe, com a colaboração do professor Claudimir do Lago, do IQ da USP, desenvolveram metodologia para identificação de cobre e chumbo no álcool combustível.

O químico explica que a presença do cobre no etanol anidro (derivado do álcool), que é misturado à gasolina, pode ocasionar problemas nos motores dos veículos e bloquear os bicos injetores.

“A determinação de níveis de chumbo está relacionada à questão ambiental, já que este elemento é bastante tóxico ao ser humano”, destaca.

Na tese, o estudioso relacionou outras substâncias compostas no etanol, como cloreto, sulfato e sódio. Ele disse que o desnível desses elementos indica processos de corrosão de peças metálicas do motor de um carro.

A tese apresenta métodos alternativos aos empregados pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) para garantir a qualidade do combustível. Muñoz defende que os estudos descritos em sua tese demonstram desempenho e custo melhores do que as técnicas tradicionais.

Pós-doutorado

O Prêmio Petrobras de Tecnologia rendeu a Muñoz R$ 20 mil e bolsa de pós-doutorado, vigente no Brasil a partir do mês de julho: “Ainda não tenho um projeto definido, mas pretendo trabalhar com outras técnicas de análise direcionadas à qualidade do biodiesel”.

Atualmente, Muñoz é pesquisador do Centro para Bioeletrônica e Biossensores da Universidade do Estado do Arizona, nos Estados Unidos. Ele atua no desenvolvimento de dispositivos portáteis para a detecção de explosivos, que poderão ser utilizados principalmente em aeroportos norte-americanos.

Viviane Gomes – Da Agência Imprensa Oficial

 

(AM)