Pesquisa pode reduzir impactos negativos da cultura da cana

Monocultivo, geração de resíduos e alternativas para o pequeno produtor estão entre projetos desenvolvidos

dom, 11/03/2007 - 10h21 | Do Portal do Governo

Para combater os impactos negativos da cultura da cana-de-açúcar, o governo do Estado investe em pesquisa e tecnologia. A iniciativa tem possibilitado o desenvolvimento de pacotes tecnológicos que contribuem para o desenvolvimento do setor, conforme explica Marcos Landell, diretor do Instituto Agronômico de Campinas (IAC).

“Pesquisadores em campo e mais de 350 experimentos espalhados por todo o Estado permitem estudos detalhados e específicos por região”, informa o diretor.

O monocultivo e as extensas áreas de produção representam um dos maiores impactos ambientais do setor canavieiro. Isso gera empobrecimento da biodiversidade e afeta drasticamente a flora e fauna local e regional, alerta Rafaella Rosetto, pesquisadora do IAC.

“São desenvolvidos estudos sobre as leguminosas mais indicadas para rotação com cana-de-açúcar. A rotação impede que o solo fique descoberto e que ocorram perdas de solo por erosão no período de renovação dos canaviais”, diz.

Rafaella menciona ainda variedades melhoradas com resistência a doenças e pragas da cana, com o objetivo de não utilizar inseticidas, fungicidas ou outros defensivos. “O Instituto Biológico e o IAC pesquisam o controle biológico de pragas, em especial da cigarrinha, por meio de fungos como o Metharhizium sp., para controlar a praga sem utilizar defensivos químicos”.

Estudos de solos e de clima para melhor adequar as variedades de cana em seu ambiente de produção garantem maior produtividade da cana e melhor uso dos recursos naturais. Também são desenvolvidas pesquisas sobre a compactação do solo, causada pelas máquinas colhedoras de cana, e o melhor manejo para o preparo de solo nessas áreas.

Geração de resíduos

A geração de resíduos é muito grande na agroindústria canavieira. Os principais resíduos são a vinhaça e a torta de filtro, aponta Rafaella. A vinhaça era jogada nos rios (anos 60) e causava poluição e morte dos peixes. “Muita pesquisa foi feita para colocá-la no solo e os resultados foram muito bons”, esclarece.

Contudo, pelos altos volumes produzidos – de 12 a 13 litros de vinhaça para cada litro de álcool – torna-se dispendioso levar a vinhaça para solos mais distantes.

“As usinas aplicam por aspersão como uma fertirrigação, o que é ótimo para a cana, mas sempre nas áreas mais próximas. Como estão no mesmo local há muitos anos, esses solos estão muito saturados e podem ocorrer perdas de elementos químicos por lixiviação e atingir o lençol freático.”

A pesquisadora explica que a preocupação dos órgãos ambientais o nitrato atingir águas de subsuperfície. Já começaram os estudos, com apoio do setor canavieiro, para monitorar a ocorrência de poluição do lençol freático em função da aplicação da vinhaça.

O resíduo da produção do açúcar – a torta de filtro – é um material orgânico muito utilizado para melhorar a fertilidade dos solos e a produtividade da cana. Rafaella cita um estudo sobre o uso da torta de filtro para aumentar a produtividade de solos de baixa fertilidade, como exemplo solos rasos.

“Melhorar a produtividade de solos marginais significa liberar áreas melhores para outras culturas alimentícias e, ao mesmo tempo, evitar desnecessariamente o desmatamento.”

Pequenos produtores

A utilização de outras fontes de adubação para os pequenos produtores também está na pauta. “Estudamos o uso de lodo de esgoto e composto de lixo como fontes de nutrientes e matéria orgânica. Para a agricultura familiar e para os pecuaristas, pesquisamos variedades de cana com vantagens para a alimentação animal”, afirma a pesquisadora.

Joice Henrique

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(R.A)